segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O dono da história

Maria Carolina Medeiros

Não é que eu acredite que a virada do ano muda tudo. Não sou defensora de que em 2010 a vida vai ser completamente diferente, só porque mudou o ano. Fazer promessas de ano novo é mais ou menos como querer emagrecer, mas deixar pra começar a dieta sempre na segunda-feira que vem. Ou como esperar o início do mês seguinte para entrar numa academia (quando hoje é dia 3, por exemplo).

Mas não vou negar que a mudança de ano me motiva. Eu podia decidir mudar algumas coisas de um dia pro outro, ninguém precisa agüentar até o ano seguinte. Mas o clima de um novo ano tão próximo acaba nos envolvendo e estimulando a definição do que queremos fazer diferente desta vez.

Claro que o dia pode ser diferente amanhã, ou hoje mesmo; virada de ano não é pré-requisito para nada. Mas como a chegada de 2010 está aí na porta, por que não aproveitar a motivação que vem junto com ela para começar o que prometemos fazer o ano todo?!

Não é preciso estabelecer metas grandiosas, que quase sempre não serão cumpridas. Comece com pequenos passos, como tentar ser mais gentil e cuidar mais de você. Morar sozinho, trocar de emprego, mudar o visual são promessas comuns nesta época do ano. Mas as mudanças mais importantes são quase sempre invisíveis. São as mudanças internas.

Passei o finzinho de 2008 e o começo de 2009 em Paris. A mudança de ares, o frio em vez do verão carioca, a neve, tudo foi diferente. Mas o mais significativo foi o tempo que passei sozinha, muito bem acompanhada de mim mesma. Mudanças aconteceram ali. Não sei foi a proximidade de 2009, o novo ano que chegava, que ditou a mudança. Estou mais para acreditar que a mudança deve ser atribuída a mim, sem falsa modéstia. Ali, sozinha, tornei-me a dona da situação. A dona da minha história.

Algumas crianças são plenamente donas da sua história desde que nasceram. Alguns adultos ainda não escreveram nem a primeira linha. São aqueles que empurram a vida com a barriga, nunca fazem as próprias escolhas e não vivem, apenas existem.

Como nunca é tarde para começar, esses são meus votos para 2010. Aproveite o ensejo e faça o mesmo. Escreva a sua própria história. E nem precisa ir a Paris, embora não seja má ideia. Aja, escute, aquiete, aprenda. Misture realidade e ficção. Faça do jeito que bem entender, afinal, a história é sua. Você vai descobrir que a graça está exatamente em contá-la do jeito que você quiser.


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Deixou chegar...

Não tenho palavras pra descrever. Então, vou deixar com quem sabe mais.


"Ser Flamengo - por Artur da Távola

Ser Flamengo é ser humano e ser inteiro e forte na capacidade de querer.
É ter certezas, vontade, garra e disposição.
É paixão com alegria, alma com fome de gol e vontade com definição.
É ser forte como o que é rubro e negro, como o que é total.
Forte e total, crescer em luta, peleja, ânimo, e decisão.
Ser Flamengo é deixar a tristeza para depois da batalha e nela entrar por inteiro; alma de herói, cabeça de gênio militar e coração incendiado de guerreiro.
É pronunciar com emoção as palavras flama, gana, garra, sou mais eu, ardor, vou, vida, sangue, seiva, agora, encarar, no peito, fé, vontade. Insolação.
Ser Flamengo é morder com vigor o pão da melhor paixão; é respirar fundo e não temer; é ter coração em compasso de multidão.
Ser Flamengo é ousar, é contrariar norma, é enfrentar todas as formas de poder com arte, criatividade e malemolência.
É saber o momento da contramão, de pular o muro, de driblar o otário e de ser forte por ficar do lado do mais fraco.
É poder tanto quanto querer. É querer tanto como saber; é enfrentar trovões ou hinos de amor com o olhar firme da convicção.
Ser Flamengo é enganar o guarda, é roubar o beijo. É bailar sempre para distrair o poder e dobrar a injustiça.
É ir em frente onde os outros param, é derrubar barreiras onde os prudentes medram, é jamais se arrepender, exceto do que não faz.
É comungar a humildade com o rei interno de cada um.
É crer, é ser, é vibrar. É vencer. É correr para; jamais correr de.
É seiva, é salva; é vastidão. É frente, é franco, é forte, é furacão.
É flor que quebra o muro, mão que faz o trabalho, povo que faz país".

Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer.


quinta-feira, 12 de novembro de 2009


Cinco mil acessos ao blog!

Para quem começou a escrever por hobby, esse número significa muito. Significa que mais gente, além de mim, gosta do que eu escrevo. E às vezes nem gosta, mas lê e emite sua opinião do mesmo jeito.

Pessoas que me conhecem desde criancinha e hoje lêem o blog costumam dizer que sabiam que eu ia acabar me tornando escritora. Fazendo uma retrospectiva na minha vida, de fato parece que tudo sempre se encaminhou dessa forma, mas eu demorei a perceber.

Há mais ou menos um ano, quando criei o Vinho com Batata e decidi começar a escrever com frequência, não podia imaginar que o blog me traria tanto prazer. É por isso que eu quero me dedicar a esta atividade cada vez mais. Porque estou começando a crer na máxima que diz que se você faz o que gosta, fará sempre melhor. E que assim o sucesso tarda, mas não falha.

Para mim, o sucesso já chegou, tendo leitores que me dão força para seguir este caminho difícil, mas tão gratificante. Estou muito feliz e quero agradecer a quem faz parte disso, quem acompanha os textos, comenta, sugere novos temas. Em 2010 teremos novidade... um livro! Aguardem!

Como forma de agradecimento, resolvi postar alguns dos comentários carinhosos que recebi.

Grande beijo, Carol.

"Estou muito orgulhoso!!! Parabéns pelos textos, vc escreve muito! Admiro muito todo seu trabalho com o blog! Parabéns!!!! Que venha 2010!!!! Parabéns meu orgulho!!!!!!!!!" (Raphael Leta)

"Um livro??? Que notícia maravilhosa!!!!!!! Serei a primeira a comprar!!" (Luciana Morgado)

"Parabéns!! Fico feliz em saber que faço parte de 5000 fãs da escritora mais graciosa deste mundo!" (Edson Carlos)

"Parabéns Carol! Adoro seus textos!" (Denise Pieri)

"Adorei a notícia. Espero ser convidada para a noite de autógrafos. Finalmente vou poder conhecer essa escritora maravilhosa." (Veridiana Alves)

"Não posso crer que vai sair um livro!!!!!!!!!! Tô rosa-chiclete!!!! MUITO BOM!!! Sabia que essa veia literária daria frutos rápido! Acho que nunca deixei comentários, mas leio todos os textos, e AMO!" (Marina Quintella)

"Parabéns pelo sucesso! E tenho certeza que o livro será um best seller!" (Nathália Martins)

"Sucesso sempre! Não desista nunca do seu sonho." (Maurício Faria)

"PARABÉNS!!!!! FICO MUITO FELIZ POR ISSO. VC MERECE PORQUE TEM TALENTO, É BRILHANTE!" (Ligia Galvão)

"Parabéns pelo sucesso do Vinho com Batata! Que venham mais 50 mil..." (Fátima Zovico)

"Obaaaaaa, livro!!! Parabéns... vc merece! Quero participar do lançamento e da tarde de autógrafos!!! Beijosss!" (Ivana Quirino)

"Vc como sempre arrebentando na vida! Isso é muito pouco diante de tudo que vc conquistará." (Everaldo Lessa)

"Parabéns Carol!!! Vc merece!!" (Bianca Bugallo)

"Parabéns!!! Sucesso sempre!!!" (Stella Campos)

"Parabéns, queridona... você merece e ainda vem muito mais, tenho certeza!!!" (Karina Rodrigues)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Entendendo os sinais

por Maria Carolina Medeiros



Tem uma coisa que me intriga muito nas pessoas, principalmente nas mulheres. Não quero generalizar, mas é impressionante como a maioria de nós tende a apenas ouvir com os ouvidos e ignorar os outros sentidos. A gente ignora o que vê, não dá crédito às atitudes e posturas do outro para nos atermos apenas ao que nos é dito.

Muitas vezes um singelo “eu te amo” é suficiente para suprir anos de mágoas, de vacilos, de falta de carinho. Vem o perdão, mas as pisadas na bola permanecem. “Mas ele diz que me ama”. Diz, mas não demonstra. É o suficiente?

Adoramos dizer que os homens são contraditórios. Eu discordo. Um homem dá todos os sinais do mundo quando não está a fim de você. O problema é que quase sempre verbaliza de forma diferente da que age. O homem diz que você é a mulher da vida dele, mas passa semanas sem dar um telefonema. Não faz a menor questão de compartilhar da sua vida, não convive com os seus amigos. Na prática, você mal sabe da vida dele, imagine ser, de verdade, a mulher que ele ama. Claro que não é.

Acho que os homens têm muita dificuldade em falar sobre o que sentem. Demoram para tomar a iniciativa de dizer que amam, quando amam de verdade (porque quando não amam fica tudo bem mais fácil). Em uma relação desgastada, quase nunca é o homem que decide pôr fim: faz de tudo pra mulher terminar, só pra não ter o peso de dizer “não quero mais”.

Da mesma forma, quando um homem não está a fim, a chance de ele afirmar isso com todas as letras é mínima. Mas acredite, ele vai demonstrar de mil formas. Só não vê quem não quer.

Seria muito mais simples se a gente não tivesse que interpretar os sinais. Se todo mundo fosse direto e sincero o tempo todo. Mas não como não é assim que funciona, precisamos aprender a usar todos os sentidos. Ouça com os ouvidos, mas procure enxergar com os olhos. Leia os sinais: alguém que te ama quer verdadeiramente estar com você e te fazer feliz. Sem desculpas.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A hora do coração


por Maria Carolina Medeiros

Quando se sabe, ao certo, que amamos alguém?
Pode ser quando faz tanta, mas tanta falta, que chega a doer no peito.
Pode ser quando quer tanto bem que, por muitos momentos, pensa no outro em primeiro lugar.
Pode ser quando gosta tanto da companhia que qualquer lugar fica incompleto quando não se está junto.
Pode ser porque tem vontade de contar as novidades, mas compartilha da mesmice com o mesmo interesse.
Pode ser porque o grude não enjoa, só faz aumentar.
Pode ser porque a admiração e o respeito fortalecem.
Pode ser quando tudo muda, o mundo muda, muda o modo de enxergar a vida, e não muda o amor.
Pode ser quando provoca o riso, e até quando acaba em choro.
Pode ser porque existem milhões de alternativas, mas faz-se a mesma opção todos os dias.
Pode ser porque esse encontro é raro, e porque o amor está tão claro...
Pode ser simplesmente porque amor a gente sente, e só.
Há tão pouco tempo, mas tanto.

Todos querem ser amados. Mas amar verdadeiramente é que é dádiva.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Mentes travessas

por Maria Carolina Medeiros

Um fato fora de contexto e pronto: a confusão está feita. O livre arbítrio “permite” que cada um interprete absolutamente qualquer coisa da maneira que bem entender. E o problema é justamente esse: entender.

Tem aquele ditado que diz que “quem procura, acha”. E de tanto temer que algo acontecesse à sua volta sem que percebesse, de tanto receio de tapar o sol com a peneira, de tanto procurar... ainda assim, não achou.

Então, a mente travessa viu problema onde não tinha, afinal de contas, anormal era não ter problema nenhum. Se não havia problema em evidência, ora, devia ser apenas porque ele não estava aparente... devia era ser um problemaço, daqueles que não se enxerga tão facilmente.

Era isso: os problemas tinham que estar em algum lugar!, e resolveu procurá-los. Um número desconhecido no celular, uma chamada perdida, um torpedo com um enigmático “eu também” provavelmente era resposta a uma mensagem relembrando uma noite inesquecível. Só para a mente, porque a suposta noite entre amantes nunca existiu. Minto, existiu em sua imaginação.

E como é poderosa a tal da criatividade! A mente é uma criança que quer diversão, quer pensamentos libidinosos, quer problemas para resolver. Nela, as coisas deixam de ser o que são para se tornarem o que visualizamos que sejam.

Tem quem mantenha relações que estão evidentemente falidas: casamentos, amizades e trabalhos. É triste não ver o que está diante dos próprios olhos. Mas igualmente triste é ver tudo o que não está ao alcance dos olhos nem de lugar nenhum: está só na cabeça.

O medo de ser enganado pode ser desastroso. Mais um ditado: onde há fumaça, quase sempre há fogo. O problema é que mesmo se não há indício de incêndio, pensamentos podem levar a se queimar. A forma de encontrar verdadeiramente paz, se é que existe fórmula, é domar os pensamentos, ter controle sobre eles.

Viva, investigue o que sua intuição disser que não está legal, não deixe passar o que você não pode relevar sinceramente, mas não alimente a mente com pensamentos que podem machucar o coração.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Dia de sol

Dizem que carioca é movido a sol. Pode ser. Eu sou. Sol me devolve a energia, literalmente. Me anima a sair da cama mesmo que não seja para ir à praia. E mesmo que eu precise me fechar em uma sala com ar condicionado, o que por um lado é torturante quando o dia chama lá fora, ainda assim tenho mais disposição do que em dias chuvosos. Porque eu sei que o sol brilha, e isso é o suficiente. Para mim e para muita gente!

Definitivamente, o sol dita comportamentos, principalmente nos fins de semana. Quando não tem sol, as pessoas saem menos de casa, os calçadões à beira mar se entristecem, vazios, os donos levam menos seus cachorros para passear, a água de coco dos quiosques está sempre gelada porque não tem quem beba, os restaurantes têm fila ao meio dia.

Quando o sol aparece, que alegria! A praia fica insuportavelmente lotada, o coco dos quiosques acaba, o trânsito fica caótico - afinal, nada é mais democrático do que praia e todos querem aproveitar o dia de sol. Mas tá valendo! Todo mundo se anima a sair de casa, nem que seja pra dar uma voltinha e dizer olá pro dia lindo que está do lado de fora. Quem acorda tarde sente como se tivesse perdido algo muito bom. E perdeu mesmo! Porque, apesar dos inconvenientes, em dia de sol as pessoas parecem mais felizes.

Se é dia de sol a gente almoça só no finzinho da tarde, pra aproveitar mais o dia. E se você marcou com os amigos de ir a qualquer lugar antes das 4 da tarde, pode esquecer: seus convidados não vão aparecer e darão a melhor das justificativas: pô, fulano, deu praia, como é que eu ia praí?

Sim, essa é uma justificativa plausível.

Já li que em países em que o sol quase não aparece e a temperatura fica lá embaixo na maior parte do ano, é maior a tendência a quadros depressivos. Dizem que até a taxa de suicídio aumenta. Eu acredito. Um belo dia de sol e céu azul anima até quem não vai à praia, quem almoça cedo e prefere se isolar num iglu de ar condicionado.

Você pode ter suas preferências e elas não incluírem praia. Você não precisa ser carioca para amar o mar e torcer por dias de sol. Porque um dia ensolarado não anima só quem gosta de se bronzear: anima a viver.

E que venha o verão!




quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Por favor, não alimente as plantas

por Maria Carolina Medeiros

Você já viu uma planta carnívora? Sabia que elas existem de verdade? Segundo a wikipedia, plantas carnívoras são aquelas que têm habilidade de capturar animais e, através de enzimas digestivas, extrair compostos nitrogenados para seu próprio aproveitamento.


Não sou bióloga e a única coisa que entendo sobre plantas é a sensação que receber flores me provoca. Mas lendo a definição sobre plantas carnívoras (não me perguntem por que), percebi que há muito mais em comum entre elas e humanos do que o fato de ambos sermos seres vivos.


Rir da “desgraça” alheia é praxe pra quase todo mundo. Mesmo a melhor das criaturas já caiu na gargalhada ao ver um desconhecido levar um tombo na rua. Mas existe uma tolerância pro nível de normalidade nesses casos. Se o escorregão provocou um acidente sério, eu ia parar de achar graça na hora. E você?


Existem pessoas que, assim como as plantas carnívoras, se nutrem da infelicidade do outro. Revêem um velho amigo, constatam que ele continua em forma e elogiam com uma ponta de inveja, em vez de perguntarem a receita do sucesso e aplicar para si. Adoram consolar a amiga que brigou com o namorado, mas se ausentam quando o casal está bem, porque na harmonia sua presença não é necessária. Ou seria porque não se sentem confortável com a alegria alheia? No fundo, essas pessoas precisam que o outro esteja mal, porque é assim que se sentem úteis, é disso que se nutrem; são como as plantas carnívoras.


Certa vez a querida mãe de uma querida amiga me disse que amigos não são necessariamente aqueles que te consolam no fracasso, e sim os que aguentam o seu sucesso. Como faz sentido! É muito mais difícil alguém que queira verdadeiramente o seu bem e consiga se nutrir disso, partilhando da sua felicidade. Porque alegria é assim, quanto mais a gente divide, mais tem. Mas precisa ser com gente do bem, que não fique forte na medida em que te enfraqueça.


Tanto se fala sobre namoros e casamentos saudáveis, mas que assim sejam também as amizades. Desconfie do amigo que precisa que você precise dele. Aquele que verdadeiramente te apoia estará, sim, ao seu lado quando você precisar. Mas se não precisar nunca, melhor ainda: vai querer estar com você mesmo assim. E vai dar graças a Deus por não ter que te emprestar o ombro pra chorar.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Último capítulo

por Maria Carolina Medeiros

(pode parecer, mas este não é um texto sobre novela).

Na semana passada começou a nova novela das nove da Globo (vamos parar de chamar de novela das oito, porque já não começa nesse horário faz tempo), e todo mundo que assistia à “Caminho das Índias” se prometeu que não ia acompanhar a novela seguinte, para não ficar escravo de novo. Embora os primeiros capítulos de “Viver a Vida” tenham sido legais (afinal, é uma novela do Maneco), ninguém já desmarca compromissos para ver a nova novela, ao contrário do que acontecia na reta final da que acabou de acabar. É claro: por mais gostoso e com sabor de novo que seja um começo, é enorme a expectativa para o fim.

Todos esperam que o último capítulo da novela seja o melhor de todos. É por ele que esperamos. E, de acordo com o que ouço, raramente ele corresponde às expectativas. Faz todo o sentido: o que tinha para acontecer já aconteceu durante quase um ano em que a novela foi exibida. O último capítulo é só um fechamento, não é nele que coisas do outro mundo vão acontecer.

Se a vida imita a arte ou o contrário, não sei. Mas o fato é que quando um casamento termina (ou mesmo outro tipo de relacionamento), todos querem saber: houve traição? Brigaram feio? Sempre achei que ele não prestava. Ela era mesmo muita areia pro caminhãozinho dele. E por aí vai.

Não é raro perceber ares de tédio quando uma das partes envolvidas no término responde, com elegância, que não, não houve nada. Foi justamente por isso que a relação acabou: não havia mais nada, nem troca, nem emoção, nem sentimento. Acabou. Ponto.

Como se o mundo já não tivesse desgraças o suficiente, querem ouvir estórias cabeludas também sobre a vida alheia. Querem emoção, a mesma que esperam que esteja presente no último capítulo da novela quando, na verdade, a emoção aconteceu durante o tempo em que ela esteve no ar.

Boa notícia: ao fim de uma novela, sempre começa outra.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Extremos

por Maria Carolina Medeiros

Sempre achei que tudo o que é radical na vida, não pode fazer bem. Ir de um extremo ao outro indica mais revolta do que mudança de hábitos. E todas as vezes que fico sabendo de alguém que mudou completamente, que parece ter virado outra pessoa, me pergunto: será possível?

Religião é um assunto polêmico, eu sei. E não quero entrar nos méritos das vantagens e desvantagens de cada uma: crença é crença, não há o que discutir. Acho legal ter fé, freqüentar um espaço que traga boas sensações a quem lá está. O que eu acho discrepante é quando pessoas que viviam em um extremo – saíam pra farra todos os dias sem exceção, caíam de porre, trocavam de namorado como quem troca de roupa – se tornam praticamente virgens intocáveis. Não brincam mais, não tomam um chopp com os amigos, só namoram se for pra casar. Se a vida não era saudável antes, será que ficou depois?

Quase ninguém está satisfeito com o corpo que tem. E mais do que emagrecer ou ganhar massa, normalmente as pessoas desejam mudanças que só seriam possíveis se nascessem de novo, já que estão relacionadas ao seu biotipo. É melhor ser anoréxica ou obesa? Nesse caso, o melhor é o equilíbrio. Os dois extremos não são legais e não devem ser idealizados por alguém que esteja com a sanidade mental em dia.

Beber demais ou não tomar nem uma taça de vinho; comer exageradamente ou sair pra jantar e só beber água; sentir-se na obrigação de casar virgem ou namorar toda a torcida do Flamengo. Tomar uma decisão completamente impensada. Pensar demais. Não sentir ciúmes. Ser ciumento demais. O exagero, definitivamente, não compensa.

Entretanto, o extremo funciona em algumas situações. Tem momentos em que é preciso se posicionar, tomar partido de alguém, defender um amigo de uma injustiça, aborrecer outro com a verdade que ele não queria escutar, ser radical com pessoas nocivas. Não dá pra ficar sempre no meio termo.

Quem responde perguntas com outras perguntas, não terá as respostas que procura. Pessoas que vivem em cima do muro nunca conhecem nenhum dos dois lados por não terem coragem de fazer uma opção. Clarice Lispector dizia: “Minhas alegrias são intensas, minhas tristezas, absolutas. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos”.

Seja equilibrado, mas seja você.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Sinto... muito!

por Maria Carolina Medeiros


Realidade. O mundo crê em fatos, provas, testemunhos. Poucos dão valor às sensações. Somente o que é fato concreto e consumado costuma merecer credibilidade.

O súbito mau pressentimento quando vai embarcar em um avião. A leve sensação de não poder confiar em alguém que, aparentemente, preenche requisitos para ser um bom amigo. Ter afinidade fora do normal com quem você mal conhece. Não se sentir bem em um lugar que deveria ter tudo a ver com você. Adorar estar num local que nunca achou que fosse curtir, e sentir a melhor energia do mundo.

Coisas que ninguém entende. Se tiver que explicar a alguém, melhor esquecer. Não sentir-se bem na presença de alguém que não te fez nada diretamente é implicância. Deixar de embarcar em um voo sem ameaça de bomba é neurose. Terminar namoro só porque não está mais a fim, sem traições ou escândalos, é maluquice ou desculpa esfarrapada.

Difícil bancar opiniões que não estejam baseadas em informações e motivos concretos. Tomar uma decisão sem “provas” que sustentem o sentimento é caminho curto para ser taxado de inconseqüente, maluco ou, no mínimo dos mínimos, precipitado.

Assim, quem se baseia no que sente acaba por vezes ignorando o mau pressentimento e entrando no voo. Sob pena de virar implicante, deixa de lado a sensação de que não pode confiar naquela pessoa. Para não ser impulsivo, não aprofunda os laços de amizade com quem acabou de conhecer, afinal, não sabe nada sobre ela e o sentimento de afinidade não pode ser motivo para tanto.

Um avião que cai. A confiança que levou anos para ser construída, destruída em um segundo. A amizade que não tinha porque durar e que perdura, enfim.

Sempre precisamos de provas quando o que sentimos deveria nos bastar. Não significa fazer acusações levianas ou tirar conclusões precipitadas. O ser humano é pré-disposto ao erro e pode mesmo ter uma primeira impressão errada, mal interpretar uma cena, pré-julgar de forma equivocada. Mas ainda assim, o crédito às sensações deveria ser dado.

Uma vez, li que a melhor forma de saber se tomamos ou não uma decisão acertada é perceber como nos sentimos após o que foi decidido. Se a sensação permanece de agitação, tem algo errado. Se está em paz, a decisão deve ter sido acertada.

Escutar o coração. A voz mais sutil que existe, mas também a mais verdadeira, é a que ecoa dentro de cada um.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O retorno

por Maria Carolina Medeiros


Eu amo viajar. Tudo é novidade, o dia rende, embora as horas passem sempre rápido demais. Mas uma das coisas que eu mais gosto quando viajo é a “permissão” para me desligar do mundo. Ninguém estranha se eu não respondo aos emails ou se não atendo ao celular. Mal assisto à televisão – ok, uma espiadinha na novela das 8 enquanto me arrumo para sair pra jantar não compromete.

Não fico sabendo das desgraças, não corro o risco de me sentir mal se conversar com alguém que ouviu uma notícia que eu desconheço. Eu estou viajando, não preciso saber nada sobre o mundo. Quero é saber sobre a cidade onde estou, quero explorar, conhecer seus bons restaurantes e seus pontos nem tão turísticos assim.

Mas sempre que volto de viagem e percebo quantos dias de jornal eu não li, quantas notícias eu perdi – e agora que já aconteceram mesmo, nem preciso tanto saber -, sinto uma angústia. Não pela falta de informação, porque a maioria das notícias é mesmo irrelevante. Sem contar que com um clique na internet, facilmente tomo conhecimento do que houve na minha “ausência”.

A angústia que me ronda tem a ver com as atualizações dos blogs que acompanho, e que em uma semana tem umas três novas postagens cada, e estou com preguiça de ler todas elas. Tem relação com as respostas ao “o que você está fazendo?” no twitter que eu não li. Com os emails que não respondi quando chegaram, porque não estava conectada, e que agora não estou mais a fim de responder. Algumas coisas na vida têm um timing, e cada vez mais essa hora certa de reagir a algo significa fazê-lo em tempo real, ou quase.

Foi aí que me dei conta de que eu não preciso mesmo acompanhar tantos blogs. Nem ler tantos jornais. Nem estar sempre supermegahiperultra bem informada sobre TUDO. Ninguém consegue, nem se esforçando muito.

Nem precisei viajar de novo para relaxar. Um jogo de futebol na TV, mesmo se não for do seu time, brincadeiras com a cachorrinha mais humana que eu conheço (a minha) e um abraço apertado ajudam muito. Afinal, como diria Caetano: quem lê tanta notícia?

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Vinho com Batata é finalista do Top Blog !!


Queridos amigos e leitores,

é pulando de alegria que, depois de pedir votos a vocês, comunico que o Vinho com Batata está entre os finalistas do Prêmio Top Blog !!!!!!

Quem quiser conferir a lista em ordem alfabética pode acessar o site www.topblog.com.br/top.php e ver o Vinho com Batata marcando presença!

Estou muito feliz e quero dividir isso com vcs que me ajudaram a chegar até aqui. É só o começo e tenho certeza que conto com o apoio de vocês no que vem pela frente!

Beijos e OBRIGADA!!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Sobre confiar - e dar confiança

por Maria Carolina Medeiros

Um confia. O outro dá confiança. A gente vive pra confiar ou confia pra viver? A amiga conta:

“Você não sabe da última que fez com que a gente brigasse. A história começou em maio, num sábado em que o celular dele estava na minha bolsa e fui pegar pra ver que horas eram. Ao ver uma chamada perdida, verifiquei que uma tal de Raquel tinha ligado pra ele. Avisei-o, sem desconfiança, e ele disse que não conhecia nenhuma Raquel. Em seguida, se “lembrou” que devia ser uma mulher que trabalhava com ele. Sugeri que retornasse, afinal, podia então ser alguma coisa relacionada ao trabalho. Ele não quis de jeito nenhum. E ainda disse que não o interessava saber o que ela poderia querer com ele num sábado à tarde”.

Se não era nada de trabalho e não interessava a ele nenhum assunto pessoal com a dita cuja, porque cargas d´água tinha dado o telefone? A namorada insistiu, mas ele não retornou a ligação. É lógico que ela ficou grilada.

Daniela confiava no namorado. Se parasse pra pensar com a cabeça, não achava mesmo que ele tinha um caso com a tal da Raquel. A questão que assolava seus pensamentos, e o da maioria das pessoas, é recorrente: o problema é a mentira! A mentira, quando descoberta, nos faz questionar o porquê de ela ter existido. Não era mais fácil falar logo a verdade, se não havia nada a esconder? A mentira planta, literalmente, coisas na nossa cabeça.

Antes deste, Dani teve um namorado na época da faculdade. Ela cursava Engenharia, e ele, Arquitetura. Todo mundo sabe que o curso que Dani escolheu tinha, em sua maioria, alunos homens. Na turma do namorado, a proporção era inversa. Nada de mais até então. Como se tratava de uma universidade mista, era óbvio que Dani conviveria com homens, enquanto seu namorado, invariavelmente, faria trabalhos de grupo e copiaria matérias de aulas perdidas com mulheres. Isso não significava, necessariamente, que ele iria traí-la.

Dani convivia com homens o tempo todo e sabia que isso não mudava em nada seu amor pelo namorado, então porque achar que ele seria facilmente seduzido só porque convivia com muitas mulheres? Ela confiava no seu taco. Ocorre que o namorado tinha a péssima mania de dizer que não tinha nenhuma colega de classe, que não convivia com NENHUMA mulher. Como poderia? Nem se quisesse! Mas pra evitar qualquer tipo de desconfiança, optava por dizer que sequer sabia os nomes das estudantes.

O grande problema, criado pelo próprio, era a mentira. O namorado contava histórias de faculdade pra Dani como se não houvesse mulheres próximas a ele. Aí, iam a um aniversário, davam de cara com um monte de mulheres que não só sabiam bem o nome do namorado da Dani, como também pareciam ter bastante intimidade com ele. Aí, lógico que Dani se revoltava, e o namorado dizia não entender o por que. Defendia-se dizendo que as mulheres que o cumprimentavam eram sempre malucas, sem noção, e ele, coitado, nunca sabia por que elas o tratavam como se ele desse confiança pra isso. As mulheres sempre são as malucas da história. Os homens, os inocentes. O inverso também acontece, existe muita mulher duvidosa por aí. Sem divisão por gênero, então, pergunto: por que as pessoas têm dificuldade em falar a verdade e acham mais fácil esconder detalhezinhos que fazem toda a diferença?

A fim de evitar um possível grilo da namorada, caso soubesse que ele ficava até tarde cercado por mulheres fazendo trabalhos de faculdade, o namorado da Dani omitia esse fato. Quando encontrava as colegas de classe, a intimidade demonstrada era confrontada com o que ele dizia pra namorada.

Dani talvez nem se importasse, nem achasse os cumprimentos das amigas do namorado exagerados, se soubesse previamente de sua existência, se encontrasse uma explicação pra aquilo. O problema era a mentira, elaborada supostamente para que não brigassem. E o que acontecia nesses aniversários? Além de brigarem, a desconfiança começava a pairar no ar a partir dali. E desconfiança é um inferno pra quem sente e pra quem é perseguido.

Dani, a amiga da história, ficou com a pulga atrás da orelha porque o namorado não quis retornar a ligação de uma colega de trabalho com quem ele supostamente não tinha a menor intimidade. Ele podia ter simplificado tudo, mas a primeira mentirinha “inocente” detona o restante em que ela poderia vir a acreditar.

Homens adoram justificar situações assim dizendo que as mulheres com quem eles convivem não têm noção, são inconvenientes e vêem intimidade mesmo sem que eles dêem abertura. Existem mais mulheres sem noção no mundo ou mais homens mentirosos? Como acreditar nessa justificativa depois de uma mentirinha aparentemente boba?

Já aconteceu com todo mundo. Pessoas loucas podem surgir do nada. Amigos que até então eram amigos mesmo surtam e resolvem dar em cima de você, provocando uma saia justa inesperada sem tamanho. Pessoas pra quem não damos liberdade de nada podem resolver se fazer de íntimas. Acontece mesmo. O anormal é acontecer com frequência, porque aí tem alguém que não está sabendo cortar como deveria.

Uma vez eu li que a gente confia nas pessoas não necessariamente porque sejam merecedoras, mas porque precisamos disso para tocar a vida. Viver e desconfiar são verbos que não se misturam! Neste mundo louco mundo, ainda há em quem se possa confiar? Espero que sim, e é isso que me dá esperanças! É preciso confiar para amar. É preciso amar para viver.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O espaço alheio

por Maria Carolina Medeiros

Estou numa fase de refletir tanto que uma simples ida ao supermercado me faz pensar sobre a vida e as pessoas. E hoje, em meio às tentativas de escolher as melhores frutas e verduras, e tendo de me virar pra passar com o meu carrinho no meio de outros que atravancavam meu caminho, me dei conta da dificuldade que as pessoas têm de respeitar o espaço alheio.

Enquanto eu praticamente traçava uma estratégia logística para chegar a cada seção que eu queria, deixando ora o meu carrinho encostado no balcão, ora no cantinho, mas nunca largado no meio do corredor, as pessoas caminhavam displicentemente, deixando suas compras atrapalharem, sem o menor pudor, qualquer um que estivesse lá pelo mesmo motivo.

Tá bom, sei que pra muita gente ir ao supermercado é terapia, quase um momento de lazer, curtido com tranqüilidade. Embora não seja o meu perfil, eu compreendo – e viva a diferença! Mas o fato de ser um hobby para alguns, sinceramente, não justifica em nada a falta de educação. Sem o menor constrangimento, o tempo todo pessoas desrespeitam o espaço do outro em locais onde, supostamente, devemos conviver civilizadamente.

É claro que nem de longe isso acontece só em supermercados. No cinema, canso de sentar engolindo a tela, ou mesmo desisto de ver um filme, porque mesmo tendo lugares vazios mais pra trás, acabam separados por casaizinhos sem noção, que deixam uma poltrona vazia de cada lado e, com esse gesto, impedem outros casais, ou duplas, ou quem quer que seja que não vá sozinho, de se sentar juntos.

Em dias de sol, seres desprivilegiados de educação lotam as praias sentando-se a esmo. Considerar que se chegassem um pouco pro lado, caberia mais alguém? Ah, é pedir demais. Estacionar na delimitação da vaga pra que seu vizinho também possa parar o carro? Ah, fala sério.

Ampliando a discussão, há também o limite nos relacionamentos (adoro). Respeitar e não invadir o espaço do companheiro é bem difícil de pôr em prática, mas precisa existir. Fuxicar o celular em busca de pistas sobre o que o outro faz quando não está com você, vigiar orkut, querer controlar emails, tudo isso é falta de respeito, não só em relação ao espaço alheio, mas também em relação ao parceiro.

Todos temos uma vida que não inclui somente a pessoa que amamos: existem amigos, trabalho, família. E quando o outro quer centralizar tudo nele, no fundo (sem se dar conta), está cavando a cova da relação: acabamos por deixar de ser a pessoa por quem ele se apaixonou. Não caia nessa. Se você mudar, ele vai se desinteressar sem nem saber por que.

Não respeitar o espaço alheio, seja físico ou emocional, é sempre muito tentador. Respeitar dá trabalho. Mas quem falou que ia ser fácil?

domingo, 9 de agosto de 2009

Ao lado

por Maria Carolina Medeiros

Todo mundo enaltece a importância das mães na vida dos filhos. São elas que nos carregam por nove meses na barriga, que sentem dores, que dão à luz, apenas pra citar o mínimo. Homenageá-las, portanto, é mais do que justo. Ocorre que, ao ressaltar a importância das mães, às vezes o pai vira coadjuvante nas histórias sobre pais e filhos. Acontece, mas não com o meu pai.

Não sei se existem menos pais do que mães “merecedores” de textos, declarações, poemas. Talvez poucos pais saibam se colocar como atores principais na vida que seus filhos protagonizam. Acontece, mas não com o meu pai.

Eis então que abandono minha ideia inicial de escrever um texto em homenagem a todos os pais do mundo, neste Dia dos Pais. Impossível, só sei falar sobre o meu pai! E apesar de as histórias dele e sobre ele renderem facilmente um livro, como é difícil escrever sobre quem a gente ama! Há 25 anos somos tão próximos, mas há tanto sobre mim que ele não sabe... ou pensa que sabe... vai ver sabe mesmo, e eu é que me acho o máximo, crente que estou contando alguma novidade!...

O livro sobre minha relação com meu pai vem sendo escrito há 25 anos. Tenho poucas certezas na vida, mas uma delas é que eu nunca vou conseguir terminá-lo. A importância dele na minha vida nunca vai caber em um número limitado de palavras.

Neste dia em que ficou combinado que é o Dia dos Pais, queria escrever um texto perfeito para homenagear o meu pai quase perfeito. Só que nem o texto, nem a relação entre pais e filhos, tampouco a vida são perfeitos. Pensei em usar meu amor por ele como base para homenagear todos os pais do mundo. Mas não dá para usá-lo como amostragem para nada, porque ele, definitivamente, é único e inigualável.

Desisti, portanto, de buscar definições, explicações, teorias. Todas as minhas tentativas de definir sentimento seriam frustradas, porque sentimento é assim: a gente sente e pronto, não tem bem o que explicar. Passei 25 anos tentando encontrar explicações para esta relação. É o apoio que ele me dá? O abraço apertado que faz tudo passar? É a linguagem alinhada, que faz com que ele me entenda com poucas palavras? A admiração? A amizade?

Hoje eu descobri a razão: é ele. É o que ele é. O meu pai. O maior amor do mundo.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O quereres

por Maria Carolina Medeiros

Tem uma frase, atribuída ao filósofo Aristóteles (tenho dúvidas se é dele, de fato – sempre duvide do que você lê na internet, conselho de blogueira) que diz: "felicidade é ter o que fazer, ter algo que amar e algo que esperar”.

Faz (algum) sentido.

Ter o que fazer... já diziam todas as avós do mundo, mente vazia, oficina do diabo.
Ter o que amar... porque sem amor, não se vive! Nem precisa ser “a quem” amar... pode ser amar uma coisa, um animalzinho de estimação, os pais, os amigos, o trabalho... algo pelo qual valha realmente a pena viver!
Ter algo o que esperar... porque se tudo nos bastar, é porque nada basta de verdade.

Vivemos sempre esperando algo acontecer, e se não fosse assim, ficaria muito sem graça. Quando a gente não espera algo na vida, nada está muito ruim, mas também não fica muito bom nunca. Não sofremos, não há decepção porque o esperado não aconteceu, mas o coitado do sujeito não experimenta nunca a deliciosa sensação de alcançar algo que queira muito.

Eu odeio viver no meio termo. Preciso sempre inventar algo novo para esperar. Pode ser coisa de aquariana, mas não sei ser feliz pela metade!

Tenho plena consciência de que não dá para ter tudo ao mesmo tempo. Quando se está feliz no amor, as coisas podem degringolar no lado profissional. Quando se tem dinheiro, não há tempo para gastá-lo. Podem não faltar amigos, mas aqueles que se quer bem perto estão distantes.

Mesmo assim, preciso almejar sempre, querer mais, querer melhor. Viver. Viver de quereres, de amores, de prazeres. De decepções. De sofrer. Mas viver.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Inversão da privacidade

por Maria Carolina Medeiros

O telefone toca sem parar. Eu não quero atender. Não sei quem é, quem me invade assim, a qualquer hora, sem que eu tenha dado permissão. Quando foi que o celular virou ponte para quem quer invadir a privacidade alheia?

Teve uma fase na minha vida em que eu simplesmente adorava telefone. Antes de inventarem o sem fio, na minha casa tinha duas linhas e umas 3 ou 4 extensões para cada uma delas – o que significava quase 10 aparelhos de telefone no mesmo apartamento. Era um acontecimento juntar as amigas em casa, ligar para o namoradinho (inho mesmo, éramos crianças) de uma, enquanto as outras ouviam a conversa e depois opinavam sobre cada palavra dita. As divagações a respeito de “o que ele quis dizer com aquilo?” eram inúmeras e divertidíssimas (agora, porque na época deviam ser meio cruéis).

Quando surgiu o telefone sem fio, a possibilidade de falar andando pela casa reduziu a necessidade de ter vários aparelhos. Supostamente, haveria também mais privacidade, pois o que antes precisava ser conversado na sala onde o telefone ficava, agora poderia ser dito em qualquer cômodo da casa.

Nessa época em que telefone celular nem existia, quando queríamos falar com alguém, ligávamos pra casa. Só assim podíamos localizar as pessoas. De um modo ou de outro, os pais acabavam sempre sabendo quem eram os amigos dos filhos, nem que fosse só de nome, porque “fulana liga o dia todo pra cá”. Pais superprotetores podiam até fingir que o filho não estava em casa, sabendo que quem estava do outro lado da linha era um amigo baladeiro. Parecia invasão de privacidade... porque não sabíamos o que estava por vir com o celular.

O celular podia ter surgido para tornar a vida das pessoas realmente privada. O número, em princípio, era dado apenas para aqueles que a gente realmente queria que nos encontrassem em qualquer lugar, a qualquer hora. Era um passe livre para que os íntimos estivessem em tempo integral na nossa vida.

Não sei exatamente quando essa privacidade se perdeu. Sei que hoje damos o número do celular até para quem não queremos atender, porque não dá nem para inventar que você não tem um aparelho: todos têm. Aliás, tem quem não tenha nem telefone em casa, só celular. Virou Casa da mãe Joana: operadores de telemarketing, vendedores, desde amigos até pessoas das quais você nem se lembra do nome direito – todos têm seu número. E ai de você se não estiver disponível, pronto para ser encontrado a qualquer momento.

Se antes tínhamos o limite das dez da noite pra ligar pra casa de alguém, hoje podemos ligar no celular praticamente a qualquer hora. E mesmo quando eu tenho o número de casa, raramente esta é minha primeira opção: ligo sempre pro celular. Se a pessoa não atendeu, é porque não pode falar. E se não pôde ser encontrada no celular, provavelmente não está disponível e não será encontrada em casa, nem adianta tentar.

Ter o telefone da casa de alguém virou privilégio para poucos. Invasão de privacidade hoje é ligar para a casa de quem você não tenha muita intimidade. Vai que a mãe daquele seu ficante atende e descobre a sua existência?! Ter o telefone de casa nos dias de hoje é como entrar de verdade na vida do outro. Isso sim é ultrapassar a barreira da intimidade.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A dádiva da amizade

por Maria Carolina Medeiros

No último capítulo da série Sex and the City, a personagem principal, Carrie Brashaw, reflete: “se você encontrar alguém que ame o você que você ama, isso sim é fabuloso”. Eu concordo com ela: ninguém é perfeito e todos nós temos defeitinhos que podem ser modificados, podemos nos tornar mais flexíveis, mais compreensivos, mais carinhosos. Mas o que é básico, nossos valores e princípios, esses sim não mudam. E alguém que ame você de verdade, te ama do jeito que você é. Na minha vida, chamo essas pessoas de amigos.

Adoro fazer novos amigos e também conservar os antigos. Isso resulta num número expressivo de amizades, e levei um tempo para perceber que existem amigos para ocasiões diferentes, e que conseguimos aproveitar o melhor de cada um quando aprendemos a respeitar as diferenças. Às vezes um amigo te empresta o ombro pra chorar, enquanto outro não quer ouvir suas lamentações, mas por sua vez te chama para sair, te anima, coloca pra cima. Não necessariamente o que te escuta é mais amigo, são modos diferentes de demonstrar amizade. E precisamos de todas elas, cada qual em seu momento.

Não vivo sem meus amigos de noitada, que tornam minha vida mais divertida, com histórias para contar pros netos. Os amigos do dia a dia têm uma participação diferente na minha vida daqueles com quem quase não encontro (por pura falta de tempo), mas que quando resolvo colocar o papo em dia, haja assunto! Porque a vontade de compartilhar a minha vida é a mesma, só a freqüência com que faço isso é que muda.

Há amigos para falar abobrinha e rir até a barriga doer, outros com quem converso sobre assuntos mais profundos. Nenhum é melhor do que o outro, porque conversar a sério quando queremos falar besteira também é um saco! Tudo é questão de momento, mesmo.

Existem também amizades que transcendem qualquer denominação. Você nem consegue rotular como amizade “de noitada”, do “dia a dia”, de “conversas sérias”. Não é um amigo que tenha necessariamente tudo a ver com você (diferenças são bem-vindas), às vezes vocês se conhecem de toda a vida, ou pode ser amizade mais recente. O que é raro é encontrar aquele amigo com quem você não precisa marcar um jantar no restaurante da moda para ser legal. Vocês se divertem juntos vendo um vídeo bobo no youtube, falando mal dos outros (momento intriga básico), rindo e chorando, literalmente.

Certa vez eu li que você conhece bem uma pessoa não quando se casa com ela, e sim quando se divorcia. Porque é em momentos de conflito, no limite, que as pessoas mostram verdadeiramente como são. Em amizade é mais ou menos assim: é fácil ser tolerante quando o outro é razoável. Mas quando a gente briga, um dos dois perde as estribeiras e fala mais do que devia?

Quando a amizade já “transcendeu”, a gente briga e não consegue ficar mais do que algumas horas chateado. Quando não encontra as palavras certas para pedir desculpas, dá um abraço e fica tudo bem. É o tipo de amigo ao lado de quem você se sente bem em silêncio, porque nem tudo precisa ser dito.

Por mais que a gente diga “eu sei que fulano estará ao meu lado quando eu precisar”, não, você não sabe. E só descobre quando precisa de fato. Não existe uma maneira de mensurar amizades, e acredito que cada amigo tenha um papel nas nossas vidas - e todos eles são importantes. Mas existem amigos... e existem os irmãos que a gente escolhe.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Doses de inspiração

Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas, minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos. [Clarice Lispector]

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O que eu acho de bizarro no orkut

por Maria Carolina Medeiros

Sempre fui entusiasta da internet e dos “quase” milagres que ela propicia. Adoro conversar pelo MSN com amigas que moram longe, sou adepta da comunicação por email, acho o Google uma ótima ferramenta de pesquisa para quem sabe utilizá-lo e filtrar as bobagens que aparecem, sigo vários blogs interessantes. Mas a internet, como tudo na vida, tem um lado que pode ser muito nocivo: permitir que quem não faça verdadeiramente parte da sua vida real seja próximo de você como se convivessem freneticamente. Ao reduzir as distâncias geográficas, a internet provoca uma falsa intimidade entre as pessoas.

Muitos textos já abordaram o problema de relacionamentos que “começam” pela internet. As pessoas se conhecem virtualmente, mas não pessoalmente. É, tem gente que se apaixona assim. Nem vou entrar nesse mérito: para mim, o que pode acabar sendo péssimo é utilizar esse mundo virtual em excesso, de modo a deixar de lado o contato real, verdadeiro e claro, insubstituível. Ao contrário do que muitos pensam (inclusive eu pensava), não é exagero, algo que só acontece com os “nerds”. Eu, que sempre fui entusiasta do orkut, que entrei logo no começo da rede e vibrava a cada novo amigo localizado, comecei a perceber as desvantagens deste tipo de rede social.

Primeiro: por mais que haja filtros para restringir a sua privacidade, você não vai conseguir. Simplesmente porque esse é o propósito do orkut e, se não for assim, não tem graça. Eu não adiciono quem não conheço, mas tem gente na minha lista com quem estive pessoalmente poucas vezes na vida. E essas pessoas acabam tendo acesso à minha vida tanto quanto meus amigos de verdade.

Mesmo que você não deixe recados com freqüência pros seus amigos, que não descreva aonde vai e o que faz, invariavelmente alguém vai escrever para você, dizer que adorou te encontrar na boate tal e que não vê a hora de você postar as fotos da viagem que fez pra não sei aonde, sobre a qual comentaram na noite passada. Das duas, uma: ou você passa a viver em função do orkut, acessando a página toda hora para apagar o que te escrevem, ou relaxa sabendo que não só quem escreveu, como qualquer outra pessoa da sua lista de “amigos” do orkut pode ter livre acesso ao que está lá escrito.

Quando a gente entra na rede, se empolga a cada vez que um amigo com quem não tínhamos mais contato nos adiciona. Passados os recados iniciais onde um atualiza o outro sobre como anda a vida, o contato volta a ser nulo. Simplesmente porque aquela pessoa até pode ser querida por você, mas se fizesse algum sentido ela ainda ser parte da sua vida, faria parte do seu convívio real, não precisaria que o orkut as reaproximasse.

Dia desses fui deixar um recado de feliz aniversário para uma pessoa da minha lista do orkut e descobri, através do recado bem abaixo do meu, que ela está grávida. Não tenho o menor convívio com essa pessoa e provavelmente, sem o orkut me permitir acesso à sua vida, saberia do seu bebê quando ele completasse uns 10 anos de idade. No meu caso, aproveitei a “descoberta” para desejar tudo de melhor a ambos. Mas qualquer ser humano sabe que o que mais tem à nossa volta é gente invejosa.

Muitos casais têm problemas com o orkut por causa dos espíritos de porco que deixam recados comprometedores, sem terem, necessariamente, abertura pra agir dessa forma. No orkut, a gente escreve o que quer. Intimidade de verdade seria necessária para que o sem noção pegasse o telefone e discasse o seu número, mas ali você está próxima, distante apenas um clique do mouse. Às vezes você nem se lembra que a pessoa existe e vê a foto dela ali, entre os seus amigos. Para alguns, isso basta para deixar um recado com falsa intimidade.

Além disso, orkut impede que o passado realmente passe. Você pode nem ter mais contato com um ex, mas se o cara continua na sua lista de amigos, tem livre acesso a uma vida da qual ele já não deveria mais compartilhar. Se ambos tinham orkut quando namoraram, os recados continuam lá e, ao contrário do seu sentimento, o que foi escrito não se apagou. Então, o passado está lá, disponível para ser “descoberto” por quem quer que faça parte do presente. Mesmo que seja o homem com quem você vai se casar, ele vai se incomodar quando, com a ajuda do orkut, lembrar-se que não é o primeiro amor da sua vida.

Se na vida real já é tarefa das mais complicadas estabelecer limites e fronteiras, no orkut isso é praticamente impossível. Já me aconteceu de fazer a lista do meu aniversário e me sentir na obrigação de incluir pessoas que vi poucas vezes na vida, mas que em função do constante contato virtual, ficava chato não chamar. Esquisito, muito esquisito.

Deixar o passado passar. Ter contato com quem realmente importa. Ser amigo de quem é amigo mesmo. Estabelecer fronteiras, não ter o conteúdo da sua vida acessado por quem não faça parte de verdade dela. Redes virtuais dificultam um bocado isso. Não é que o orkut seja o vilão da história: é que ele praticamente impossibilita que você restrinja quem faz, de verdade, parte da SUA história.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

por Maria Carolina Medeiros

Desde que criei meu blog, em 2008, sou apaixonada pelo Vinho com Batata. Cuido dele com carinho, só posto os textos que acho que valem a pena serem compartilhados, leio e releio cada palavra. Adoro ler cada novo comentário, saber o que minhas palavras suscitam em outros. É indescritível a emoção que sinto quando alguém que eu nem imaginava que acompanhasse o blog comenta que adora.

Só tem uma coisa que às vezes me irrita aqui. É quando resolvem achar que TUDO o que eu escrevo tem relação imediata com o que vivo. Gente, o blog não é biográfico. De fato, eu costumo escrever com base no que percebo. Algumas vezes tem a ver comigo, em muitas outras tem a ver com o que vejo, leio, penso, ouço, sinto. Escrevo, sim, como fruto das minhas percepções acerca de algo - daí a ressalva de que meus textos não contêm verdades absolutas, pois costumam ser opinativos. Mas é comum as percepções serem tão abrangentes que não retratam, necessariamente, o que EU sinto.

O grande barato de ter um blog é escrever o que se pensa sem censura de nada. É esse o objetivo do Vinho com Batata, e eu fico realmente lisonjeada por perceber que tem um público bem qualificado que dispensa um pouco do seu tempo para vir conferir o que eu escrevi. Se eu tivesse que pensar duas vezes antes de postar algo aqui, acho que perderia autenticidade, característica que considero primordial para este universo da leitura.

Queridos leitores, agradeço profundamente a preocupação, mas às vezes eu escrevo sobre algo que aconteceu a alguém próximo de mim que me fez refletir. Ou sobre uma sensação que me ocorreu após assistir a um filme. Sobre tudo. Ou sobre nada. Se escrevo sobre morte, não é porque estou pensando em suicídio. Quando questiono relacionamentos, não necessariamente estou passando por aquilo. Pode ter feito parte do passado, pode ter acontecido a uma amiga, posso ter visto um filme que desencadeou o pensamento. Tudo é fonte de inspiração pro escritor (modestamente, já me considero uma escritora! Eba!).

Fico pensando no que seria de Vinicius de Moraes (apenas para citar um dos mestres) se cada um de seus leitores, quando o lesse sobre paixão, o questionasse: “puxa vida, esse cara devia estar com muita dor de cotovelo para escrever isso”.

Lógico que quem escreve se expõe, e está sujeito à aprovação dos leitores. Não quero ausência de questionamentos. Mas como também sou leitora, posso afirmar que acho muito mais gostoso “sentir” a obra, refletir sobre ela, ou apenas gostar ou não, em vez de me ater ao motivo que resultou naquelas palavras.

Não tenho nem a mais remota intenção de dizer como quem me lê deve me interpretar. Estaria matando toda a graça de escrever (para mim), e de ler (para vocês). Aqui cabe mais um desabafo e também um agradecimento pela preocupação de que me lê e teima em associar que faço relatos biográficos.

E assim sigo escrevendo... e vocês me lendo... espero!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Procure no dicionário

Maria Carolina Medeiros

Em tempos de reforma ortográfica, andei pensando: tinham é que inventar um dicionário contendo novas definições para palavras que são velhas conhecidas. Relacionamento, namoro, união, lealdade... está tudo tão confuso que as pessoas perdem o referencial e começam a chamar urubu de meu louro.

Temos mania de dizer que antigamente a vida sentimental era difícil: o homem que se interessava por uma moça tinha que pedir permissão aos pais dela para namorarem, rolava no máximo uns beijinhos (isso é o que dizem, tenho minhas dúvidas) e, se a coisa firmasse, casavam-se. Gente, ISSO é complicado onde?

Não estou dizendo que era melhor do que agora, acho super válido as pessoas poderem se escolher mutuamente, se gostarem ou não, ficarem juntas ou não, terem vários namorados antes de se casarem com um. Me considero sortuda por não ter nascido nessa época nem tão distante assim e ter a liberdade de escolha que antes era destinada majoritariamente aos homens. Acho legal que o objetivo de vida das mulheres não seja mais puramente se casar, é fundamental que todos tenham direito ao prazer. Mas dizer que as coisas se tornaram mais SIMPLES, ah, isso é mentira deslavada!

Todo mundo tem tanta liberdade de escolha que comumente as coisas se confundem: um “casal” sai junto todos os fins de semana, um freqüenta a casa do outro, mas num dado momento um dos dois diz que não quer compromisso sério. Ah, então não era sério até aquele momento? O que faria “aquilo” ficar sério? Alguém explica isso pra parte do casal que não estava entendendo dessa forma?

E olha que isso não acontece apenas com as mulheres, os homens também frequentemente “namoram” sozinhos. É comum a gente achar que quem passa por isso é porque não se percebeu os sinais do outro e não se mancou. Pode até ser, mas os “sinais” estão cada vez mais difíceis de serem decodificados.

Antes, aproximação significava interesse. Um beijo, então, era algo íntimo, destinado a alguém por quem você se interessasse de verdade. Hoje, beijo é resultado de atração, ou bebida demais, ou ainda de um “antes você do que sair liso da noitada”. Quando o cara ligava, era porque estava mesmo a fim. Agora pode ser só porque não tinha nada melhor pra fazer e te tirou da geladeira (crédito pro “Manual do Cafajeste”, que está nos favoritos daqui do blog). Sair juntos por fins de semanas a fio era igual a “quero estar só com você”, mas hoje pode querer dizer um monte de coisas, incluindo “gosto de você, mas quero sair com outras pessoas e espero que você ache isso normal, afinal, nunca falei a palavra namoro”. E ainda tem pessoas com coragem de dizer que as coisas ficaram mais simples! Eu, hein?!

A confusão que a falta de definição gera não pára por aí. Já vi casos de meninas que ficaram uma vez com o cara e “decidiram” que ele era sua propriedade: dali em diante, nenhuma amiga, nem anos depois, poderia cogitar ficar com o dito cujo. Como assim? Não teve nem namoro (nem definido, nem subentendido, vamos combinar), que cabimento tem esse comportamento de proibição?

Hoje, um beijo significa isso mesmo: apenas um beijo. Tem que vir acompanhado de muitas outras sensações – e pode acontecer, acreditem – para virar algo além de one night stand. Mas se não foi o que rolou, não dá pra encanar. Se todo mundo que beija alguém for excluído da lista de pretendentes, não sobra ninguém nesse Rio de meus Deus. É bagunça, é o que for, mas é a vida de hoje e temos que nos adequar. Mas que um dicionariozinho ajudava, ah, ajudava!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Soneto do amor indecifrável

Maria Carolina Medeiros

Tantas tentativas de definição
Tantas noites sem dormir
Tantas perguntas sem respostas
Tantos caminhos, qual seguir?

Busca desenfreada
Sentimento que consome
Há razão no que sinto?
Mal sei o nome

O que é amor, afinal?
Dizem que é amor de mãe e pai
Dizem que é fraternal e por vezes, carnal

Não busco mais respostas
Nem caminho a seguir
Melhor não entender... só sentir.

domingo, 14 de junho de 2009

Do que é feito o seu Dia dos Namorados?

Por Maria Carolina Medeiros

O Dia dos Namorados passou e li sobre a data em muitos blogs que acompanho (vocês podem ler também na seção “Dê uma espiadinha”, no lado direito da página). Li sobre a comemoração de casais apaixonados. Li a respeito de solteiros fizeram questão de celebrar, nem que fosse entre amigos. Li textos de quem está na fossa e agora respira aliviado porque o dia 12 de junho já passou, ufa.

E eu? Bem, eu sou entusiasta do amor. Acho que os melhores momentos da vida a gente vive quando se apaixona. E não só quando se apaixona por alguém, mas também por um assunto, uma ideia, um objetivo a ser alcançado. Ser apaixonado pela vida, por celebrar com os amigos, por rir de pequenas bobagens, por viajar e descobrir novos lugares... a paixão, seja em que área da vida estiver, estimula, traz boas energias, revigora.

Alguns acham que sentir-se permanentemente apaixonado é utopia. Dizem que a paixão é finita, que chega uma hora em que acaba. Para mim, quem vive sem paixão é que está acabado, morreu e nem sabe. Porque é ela que nos faz sentir vivos, que traz a sensação inigualável de que algo pulsa aqui dentro. É a paixão que anima, que motiva, que dá razão para acordar e pular da cama todos os dias.

No entanto, acredito que a paixão que não acaba, aquela que não tem “prazo de validade”, é também a que exige reconquista permanente. E reconquistar significa valorizar pequenos momentos e gestos, como trocar presentes no Dia dos Namorados, por que não?

Acho esquisito casais que estão juntos há algum tempo (na maioria das vezes, casados) e que por isso sentem-se “desobrigados” de comemorar a data. Bem, de fato “sentir-se na obrigação de” não é bem a expressão que eu gostaria de ouvir do meu namorado neste dia... mas não é estranho que algumas pessoas simplesmente não liguem? Concordo que é uma data comercial, que Dia dos Namorados pode ser todo dia etc etc... mas acho natural e válido, eu diria até imprescindível, que um casal aproveite a data para celebrar o amor que os une.

Eu não sou diferente e programei várias coisas bacanas pra esse Dia dos Namorados. Sim, eu queria comemorar essa data puramente capitalista, em que sair pra jantar às vezes se torna o maior programa de índio do universo, mas que mal tem? Ocorre que imprevistos de última hora impossibilitaram a comemoração prevista, e aí entra o clichê mais verdadeiro do mundo: quando se está apaixonado, o importante é estar junto.

Acredito que paixão pode ser permanente, sim. E para que isto aconteça, defendo o equilíbrio: não é porque um casal está junto há anos que vai comemorar o Dia dos Namorados como se fosse outro qualquer. É bacana aproveitar pra relembrar o quanto aquela data tem motivos para ser celebrada. Ao mesmo tempo, se isso não for possível por um motivo qualquer, que não seja o fim do mundo.

Presentes e gran finales são força motriz de uma relação apaixonadamente duradoura. Mas um casal em sintonia sabe o que funciona para si: seja um jantar à luz de velas ou uma companhia no travesseiro.





domingo, 24 de maio de 2009

Sobre chocolate e outros (des)controles


24.05.09

Por Maria Carolina Medeiros

Às vezes eu pareço maluca, mas garanto: sou só chocólatra. E é por isso que acho totalmente válido contar que estou vencendo a batalha contra essa delícia, que eu já considerei como inimigo. E vencer, nesse caso, não significa que eu esteja resistindo à tentação: estou é aprendendo, pela primeira vez na vida, a não encará-lo como vilão.


Quando me dá uma vontade louca de comer chocolate, como um bombom pequeno, e só (!!!). Consigo parar por ali, incorporando o lema de que o problema não é o que a gente come, mas sim quanto a gente consome. E que se você gosta muito de comer algo, não adianta querer limar esse alimento da sua vida, porque o máximo que a gente consegue com isso é explodir de vontade num dia e comê-lo compulsivamente, pra compensar a ausência sentida.

O melhor disso tudo (além de poder continuar a comer chocolate, claro) é me sentir no controle da situação (eu avisei que às vezes pareço maluca). Quem é chocólatra e tem problemas com a balança bem sabe o desespero que dá depois de se chafurdar numa caixinha de bombons aparentemente inofensiva.

Funciona mais ou menos assim: a abstinência bate e é prontamente resolvida com 34 bombons (porque mesmo que o eleito não seja o Bis, é impossível comer um só – oi, não estou sendo paga pelo merchandising). No minuto seguinte, a gente realiza que trocou uma semana in-tei-ra de privações por alguns momentos de prazer que só os chocólatras conhecem. Se dá conta de que não precisava ter comido tanto, acha que a situação fugiu do controle e se sente incapaz de fazer dieta, mesmo. Pimba! Golpe certeiro na auto-estima. Portanto, conseguir ignorar 33 bombons apetitosos é, sim, uma vitória, ok?

Mas enquanto eu me contento em ter controle sobre o chocolate e minhas calças 38 sorriem com folga (literalmente) pra mim, assustador é perceber que tem gente que sente prazer em controlar pessoas. Essa necessidade se traduz em ex-namoradas que nem têm mais interesse no cara, mas insistem em se manter presentes; pessoas cujo ego é maior do que a consciência e que precisam que o outro fique aos seus pés pra se sentirem poderosos; casais que disputam o tempo todo quem comanda a relação; chefes que não compartilham conhecimento por medo de um jovem talento lhes roubar a posição na empresa; pais que não querem criar os filhos pro mundo e acabam lhes perdendo pra vida.

Querer ter controle em alguns momentos faz parte da vida de todo mundo. Mas quando se torna uma obsessão, chame o Caetano, porque alguma coisa está fora da ordem. Ruim para quem sente, ou não, pois para algumas pessoas, crise de consciência está fora de questão; mas certamente é mais destrutivo do que parece para quem permite que esses manipuladores participem de suas vidas.

Dá pra consumir chocolate sem exageros. Já gente manipuladora é sempre, sem nenhuma exceção, nociva à saúde. Não admita com moderação: corte relações, jogue pra escanteio como os outros 33 bombons da caixa. O melhor dos sabores (mais até do que chocolate) é o poder de escolher o que merece ficar na sua vida.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Do amor

por Carol Medeiros - 11.05.09



Tem gente que diz que quer amor, mas quer garantias. Eu, não.

Tem quem diga que quer amor, mas quer romance, quer posse, quer controle. Eu, não.

Eu podia dizer que quero ficar com você para sempre, mas acho que querer é pouco. Prefiro dizer que quero te conquistar e reconquistar quantas vezes forem necessárias ao longo de toda a minha vida.

Podia dizer que, ao seu lado, tenho os dias mais felizes da minha vida. Mas não é que eu só tenha tido alegrias. É que simplesmente não consigo me lembrar das tristezas.

Não espero, nem quero, nem mesmo desejo que tenhamos apenas momentos maravilhosos. Vida cor-de-rosa não é para humanos, tampouco para homens e mulheres. Desejo, sim, que tenhamos vida normal, com altos e baixos, com desencontros que são inerentes à vida. E que, ainda assim, a gente sempre consiga seguir juntos.
Não desejo que você não olhe nunca pro lado, mas que sempre se vire de volta e queira ficar só comigo.

Não sonho com o dia em que não ficaremos nem um minuto longe um do outro, mas quero contar as horas pra voltar pra casa e te abraçar com todo o amor que houver nessa vida.

Não torço pra que as coisas não mudem nunca, mas sim pra que saibamos nos adaptar às mudanças, às novidades, ao mundo. E um ao outro.

Não espero não brigar nunca, mas urge que façamos as pazes antes de dormir, pra não haver pesadelos durante o sono nem fora dele.

Não quero que não haja questionamentos, nem ausência de dúvidas, pois seria irreal. E eu quero realidade! Planos pro futuro, dinheiro no bolso para concretizá-los, pés no chão. Mas o coração... este sim, pode deixar nas nuvens.

Não duvido que a gente nunca se magoe, mas que jamais seja proposital, e que, acontecendo, nunca tenha tamanha profundidade que um abraço forte não faça tudo passar.

Não acredito que não haverá monotonia nem dias chatos, e não penso que a rotina nunca vai bater à nossa porta. Só quero ficar com você mesmo quando for chato, quando houver monotonia, quando a rotina vier nos visitar.

Quero viajar com você pelo mundo, mas me importa saber de onde você vem e te mostrar o que me fez ser como eu sou.

Não quero que o mundo se resuma a nós, mas espero que a gente se baste, estando a sós ou na multidão que nada preenche.

Não quero confrontar seus hábitos, quero que os compartilhe comigo para que eu me acostume com eles e te apóie.

Não desejo apenas risos ao teu lado, quero teu colo pra chorar. E quero saber que, ao olhar nos seus olhos, terei certeza de que pra tudo nessa vida dá-se um jeito mesmo.

Quero que nós dois tenhamos sempre milhões de alternativas na vida, pois é disso que ela é feita - de escolhas.

Mas que, ao fim de cada uma delas, a gente sempre queira escolher um ao outro.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Da série "Onde perdemos o semancol?" ou "Os sem-noção parte 1 - TELEFONE"

28.04.09 - por Carol Medeiros

Penso em escrever esse texto há algum tempo e sempre adio porque me lembro daqueles que convivem (ou conviveram) comigo e que vão achar que escrevi para eles, ou falando deles. Mas hoje a falta de semancol de terceiros foi tão absurda que eu não resisto. E se você que me lê achar que o “se manca” do dia é para você, então você tem motivos para comemorar, porque:

1) provavelmente é mesmo.
2) ao perceber que você se enquadra no que vou descrever, você está adquirindo, aos poucos, o semancol que te faltou ao longo da vida e poderá ser poupado de tal vexame nos próximos textos.

A falta de semancol se manifesta nas pessoas de diversas formas, e uma das mais acentuadas é no telefone, cujos usuários padecem da falta de semancol crônica. O 1º texto da série “OS SEM-NOÇÃO” é dedicado a eles, aqueles que consideram que telefone é feito para qualquer coisa, EXCETO para uma comunicação objetiva, eficaz e, acima de tudo, educada entre os seres da mesma espécie.

OS USUÁRIOS DE NEXTEL

Me sinto extremamente confortável para falar sobre o assunto porque yes, eu também tenho Nextel! E acho um saco aquele bip-bip, mas o custo-benefício de fato compensa. A diferença entre eu e os que não se mancam é que eu compreendo a atividade-fim de um telefone (sim, um modelo aprimorado daquele que Graham Bell inventou) e entendo que deve ser usado como tal.

Quando “passo um rádio” para alguém em vez de ligar, o faço SEM VIVA VOZ, porque além de o maldito alto-faltante incomodar quem está ao lado e não quer ouvir a minha conversa (sim, isso incomoda os outros!), também acho uma tremenda falta de respeito com a pessoa que está do outro lado da linha e pode falar algo pessoal sem saber que está sendo ouvida por outros tantos, além de você (que é a única pessoa com quem ela quer falar naquele momento, caso contrário, faria uma teleconferência em vez de te ligar). Juro, me contorço quando alguém usa Nextel no viva voz perto de mim. Se for amigo (e meus amigos me conhecem bem para saber que sou mesmo capaz disso), lanço meu olhar fulminante. Se não for... bem, aí eu me controlo. Mas um dia eu ataco um, ah, se ataco!

OS SOFREDORES DA SÍNDROME DO “EU PERGUNTO, MAS NÃO ESCUTO”

Gente, eu sei que eu falo a beça. Mas quando eu ligo para alguém e PERGUNTO se a pessoa está ocupada, eu REALMENTE vou considerar um “sim” como uma direta para que eu ligue em outro momento. Que opção existe, que não esta? Eu não entendo quem me liga, pergunta se eu estou ocupada e, ao me ouvir responder afirmativamente, ignora o que eu disse e desanda a falar como se eu tivesse dito “pode falar, tenho todo o tempo do mundo para você, honey”. Eu, hein?!

Nesse rol também estão aqueles que te acordam e perguntam “tava dormindo?”. Nesse caso, tem quem prefira já emendar o papo mesmo, afinal, já foi acordado. Mas tem pessoas que, ainda sob efeito do sono, não querem mesmo conversar naquela hora. Só que a elas, coitadas, geralmente não é dada esta opção. O inconveniente que ligou e te acordou provavelmente vai querer esticar o papo sem se importar se você compartilha do mesmo interesse.

Nota de esclarecimento: quem faz isso comigo corre sérios riscos de eu dormir com o telefone no ouvido.

Nota de esclarecimento 2: se eu disser que sim, que posso falar, você é mesmo importante para mim. :)

OS CARENTES – ou QUEM NÃO SABE FALAR AO TELEFONE

Hoje em dia quase ninguém usa mais telefone convencional. Na minha casa mesmo, em geral eu deixo tocar e penso que, se for para mim, a pessoa vai ligar no celular (vergonha...rs). Adotei essa estratégia depois de inúmeras vezes em que eu estava de fato ocupada, parei para atender ao telefone e se sucedeu um diálogo mais ou menos assim:

- Alô, quem está falando? (ODEIO com todas as minhas forças pessoas que perguntam isso. Será que ninguém as ensinou como funciona? Se você liga pra minha casa, identifique-se primeiro antes de perguntar com quem está falando. Simples assim)
- É a Carol. (já sem muita paciência pois, como eu disse antes, parei algo de importante para atender a uma ligação que não era para mim – daí a tática de esperar que liguem pro meu celular)
- Oi, é a tia fulana das couves. Eu queria falar com a sua mãe porque meu neto vai fazer aniversário e blá blá blá... (pausa para respirar e segurar a vontade de perguntar “e o que eu tenho com isso?”. Como sou uma lady, jamais faria tal comentário. hahaha).

O que eu realmente não entendo é porque a pessoa economiza palavras quando devia falar (dizendo quem ela é em vez de perguntar “quem tá falando” quando ELA ligou para a minha casa), mas resolve contar toda a sua vida sem saber se me interessa. Nesse contexto eu também incluo pessoas que querem falar com a minha mãe e nem perguntam se ela está, já partem pro ataque (contar histórias) com a vítima que atendeu ao telefone – no caso, eu.

Por último, mas só pro texto não ficar quilométrico, e não por falta de assunto, tem aquelas pessoas que te chamam para sair (aqui cabe amigos, namorados, almoço de negócios etc) e passam o encontro INTEIRO penduradas ao telefone. Confesso que já fiz isso e admito com a maior vergonha do mundo, pois acho uma baita falta de educação, das grandes mesmo. Se você realmente não pode deixar de atender à ligação, peça muitas desculpas à pessoa que está com você e que será deixada de lado por causa do telefonema. E seja o mais breve possível. Caso contrário, fique em casa pendurada na linha em vez de sair para socializar e grudar no telefone.

Bem, essa também pode ser uma tática para um encontro desinteressante. Mas juro que eu nunca fiz isso (risada maquiavélica).


Nota de esclarecimento 3:
Paty, amiga, só me lembrei de você nessa última situação. Paguei a minha língua em alguns dos nossos almocinhos! Pode contar aqui, que eu mereço.


Aguardem os próximos textos sobre os sem-noção diversificando sua área de atuação e colaborem com histórias de vocês!

O fim, ou o começo

28.04.09 - por Carol Medeiros

Quando um relacionamento acaba, quase sempre dá aquela sensação de vazio. A gente namora alguém por alguma razão, ou por várias. Sempre tem alguma coisa naquela pessoa que te agrada, te encanta ou te completa, mas às vezes essa sensação tem prazo de validade e, uma hora, acaba.

O que fazer, então, com o que resta? Não estou falando de paixões mal resolvidas ou amores inacabados. Independe de restar sentimento de uma das partes. Tampouco estou falando da dor do abandono que um dos dois (ou ambos) pode vir a sentir. Me refiro ao que fica quando um namoro termina, a gente querendo ou não, sofrendo ou não: o aprendizado.

Não vou dar uma de Poliana, a menina que sempre via o lado bom das coisas, mas acredito que todo relacionamento nos ensina algo. Seja sobre a vida, sobre os outros, mas o principal é o que aprendemos sobre nós mesmos em cada relação, e aí incluo amizade, família, todo tipo de convivência, escolhida ou imposta.
O que aprendemos ao fim de um relacionamento fica especialmente claro quando a história acaba de verdade, quando não sobram nem ressentimentos.

Dia desses li uma frase de Deepak Chopra que dizia: “Seja qual for o relacionamento que você atraiu para dentro da sua vida numa determinada época, ele foi aquilo que você precisava naquele momento”. Achei essa citação sensacional e concordo plenamente com ela. A gente atrai o que quer ou o que precisa, mesmo que não tenha consciência disso no momento em que vive algo.

Após alguns anos de terapia, me sinto segura para avaliar meu comportamento durante e após meus relacionamentos. E posso dizer que cada um deles foi fundamental para me ajudar a entender minha forma de agir perante muitas coisas na vida. E a gente só adquire essa capacidade quando tudo se torna bem-resolvido, página virada.

Acho estranho pessoas que não têm nem carinho por aqueles que fizeram parte de sua vida. Lógico que há um limite, afinal, pode ter sido alguém significativo, mas FOI, é passado, que fique claro. Mas é inegável que os relacionamentos que tivemos ao longo da vida deixam uma carga de aprendizado inestimável. Aprendizado este que certamente contribuiu para que eu hoje pense em viver a vida toda com a pessoa que está ao meu lado e com quem tanto já aprendi em tão pouco tempo.

É por ser grata pelas histórias que vivi, pelas dores que senti, mas por tudo o que aprendi (até rimou), de bom e de ruim, que me dá certa tristeza perceber que nem todo mundo encara o término dessa forma. Lamento de verdade, acho triste quando alguém que colaborou em algum momento pro seu aprendizado como pessoa, não encara o que passou do mesmo modo. Cada um lida com o que resta da sua forma, e é fundamental entender também isso para seguir adiante. Eu lamento, mas continuo grata, pois os relacionamentos e as pessoas se foram, mas o aprendizado ficou.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Nós sempre teremos Paris

16.04.09 - por Carol Medeiros

Estava revendo algumas fotos das semanas maravilhosas que passei em Paris quando a saudade bateu com força. É redundante dizer que aquela cidade é linda. O que acontece entre Paris e eu é um caso de amor à moda antiga, com direito a flores e ne me quitte pas. Dá vontade de não voltar de lá nunca mais, o que só não acontece porque o Rio de Janeiro faz a mesma coisa comigo, exercendo força contrária e me deixando assim, metade carioca, metade parisiense.

Eu cheguei de Paris querendo embarcar no primeiro avião de volta pra lá, só pra começar a ver de novo, do zero, tudo o que eu amo naquele pedacinho de terra francês. Mas a vontade de voltar pra cá também urgia dentro de mim, berrando pelo abraço do meu pai, pelo aconchego da minha mãe, pelo amor da minha cachorrinha, pelo sorriso da minha sobrinha, pela vista que tenho da minha varanda, pelas farras com meus amigos.

Pensando assim, em tudo o que vivi nesses dias por lá, foi que me dei conta de que o item mais precioso de Paris eu trouxe comigo, dentro da mala; dentro de mim. Paris é mesmo uma maravilha e eu não sei se teria sido tão fascinante se eu tivesse embarcado rumo a outro lugar, mas o que de melhor tenho deste período não são as fotos. O que eu vivi em Paris de tão maravilhoso que pude trazer comigo pro Rio e, a partir de então, carregar pra onde quer que eu vá? Foi essa a pergunta que eu me fiz.

Só então eu entendi. O real motivo de eu ter amado este tempo fora está no que aprendi sobre mim ao longo dessas semanas por lá. Foi pouco tempo, mas ficar sozinha a maior parte dele me permitiu viver os dias de forma intensa e quase inenarrável. Voltei com a sensação de que havia estado anos fora. Precisei ir tão longe para ficar perto de mim como há muito tempo não fazia. A vida é mesmo cheia de paradoxos!

Quando, já em Paris, me dei conta de que iria passar semanas completamente sozinha naquela cidade, agradeci. Agradeci pela minha companhia, pela solidão que viria pela frente (e que se mostrou absurdamente produtiva), pelos livros que eu teria, enfim, tempo para ler (e que resultaram em excesso de bagagem!), pelos lugares que veria na hora em que quisesse, por tudo o que eu visitaria sem ter que combinar horários com outras pessoas, por tudo o que eu iria presenciar sabendo que ia dividir com uma só pessoa – eu mesma - e que, portanto, devia sentir o maior prazer nisso.

E hoje, quando a saudade de Paris bateu forte, percebi que posso voltar lá quantas vezes quiser, mas que a lembrança mais gostosa que eu tenho da cidade para amar está aqui, bem ao meu alcance: eu mesma. Em algum momento antes da viagem eu havia me perdido dentro da sucessão de paradoxos que é Maria Carolina, e lá me reencontrei.

Essa foi minha segunda vez em Paris, essa cidade que tem um ar romântico descomunal. Ainda não tinha vivido uma história de amor por lá, e não voltei pro Brasil sentindo falta disso. Porque eu amei muito, me amei muito naquele lugar, de forma apaixonada, desproporcional, com uma vontade incessante de estar comigo mesma, sem me largar por um minuto que fosse. Sentia ciúmes, me queria só pra mim, me fazia agrados de todas as espécies (daí os quilinhos a mais que pesaram nas calças jeans, e que já se foram). Voltei completamente enamorada de mim mesma, feliz por ter sido a melhor companhia de viagem que eu poderia ter, ainda que tenha sentido saudades dos amigos daqui e aproveitado para fazer novas – e maravilhosas – amizades por lá (né, Paulinha?).

Penso em voltar para Paris em algum momento, até. Mas quando a saudade bate, é confortante saber que o melhor de toda a viagem não ficou na França; pulou pra fora da bagagem quando desfiz as malas e está, desde então, sempre ao meu alcance, bem pertinho, pra eu nunca mais esquecer. E, caso esqueça, nous avons toujours Paris, we´ll always have Paris, nós sempre teremos Paris.