quarta-feira, 22 de julho de 2009

A dádiva da amizade

por Maria Carolina Medeiros

No último capítulo da série Sex and the City, a personagem principal, Carrie Brashaw, reflete: “se você encontrar alguém que ame o você que você ama, isso sim é fabuloso”. Eu concordo com ela: ninguém é perfeito e todos nós temos defeitinhos que podem ser modificados, podemos nos tornar mais flexíveis, mais compreensivos, mais carinhosos. Mas o que é básico, nossos valores e princípios, esses sim não mudam. E alguém que ame você de verdade, te ama do jeito que você é. Na minha vida, chamo essas pessoas de amigos.

Adoro fazer novos amigos e também conservar os antigos. Isso resulta num número expressivo de amizades, e levei um tempo para perceber que existem amigos para ocasiões diferentes, e que conseguimos aproveitar o melhor de cada um quando aprendemos a respeitar as diferenças. Às vezes um amigo te empresta o ombro pra chorar, enquanto outro não quer ouvir suas lamentações, mas por sua vez te chama para sair, te anima, coloca pra cima. Não necessariamente o que te escuta é mais amigo, são modos diferentes de demonstrar amizade. E precisamos de todas elas, cada qual em seu momento.

Não vivo sem meus amigos de noitada, que tornam minha vida mais divertida, com histórias para contar pros netos. Os amigos do dia a dia têm uma participação diferente na minha vida daqueles com quem quase não encontro (por pura falta de tempo), mas que quando resolvo colocar o papo em dia, haja assunto! Porque a vontade de compartilhar a minha vida é a mesma, só a freqüência com que faço isso é que muda.

Há amigos para falar abobrinha e rir até a barriga doer, outros com quem converso sobre assuntos mais profundos. Nenhum é melhor do que o outro, porque conversar a sério quando queremos falar besteira também é um saco! Tudo é questão de momento, mesmo.

Existem também amizades que transcendem qualquer denominação. Você nem consegue rotular como amizade “de noitada”, do “dia a dia”, de “conversas sérias”. Não é um amigo que tenha necessariamente tudo a ver com você (diferenças são bem-vindas), às vezes vocês se conhecem de toda a vida, ou pode ser amizade mais recente. O que é raro é encontrar aquele amigo com quem você não precisa marcar um jantar no restaurante da moda para ser legal. Vocês se divertem juntos vendo um vídeo bobo no youtube, falando mal dos outros (momento intriga básico), rindo e chorando, literalmente.

Certa vez eu li que você conhece bem uma pessoa não quando se casa com ela, e sim quando se divorcia. Porque é em momentos de conflito, no limite, que as pessoas mostram verdadeiramente como são. Em amizade é mais ou menos assim: é fácil ser tolerante quando o outro é razoável. Mas quando a gente briga, um dos dois perde as estribeiras e fala mais do que devia?

Quando a amizade já “transcendeu”, a gente briga e não consegue ficar mais do que algumas horas chateado. Quando não encontra as palavras certas para pedir desculpas, dá um abraço e fica tudo bem. É o tipo de amigo ao lado de quem você se sente bem em silêncio, porque nem tudo precisa ser dito.

Por mais que a gente diga “eu sei que fulano estará ao meu lado quando eu precisar”, não, você não sabe. E só descobre quando precisa de fato. Não existe uma maneira de mensurar amizades, e acredito que cada amigo tenha um papel nas nossas vidas - e todos eles são importantes. Mas existem amigos... e existem os irmãos que a gente escolhe.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Doses de inspiração

Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas, minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos. [Clarice Lispector]

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O que eu acho de bizarro no orkut

por Maria Carolina Medeiros

Sempre fui entusiasta da internet e dos “quase” milagres que ela propicia. Adoro conversar pelo MSN com amigas que moram longe, sou adepta da comunicação por email, acho o Google uma ótima ferramenta de pesquisa para quem sabe utilizá-lo e filtrar as bobagens que aparecem, sigo vários blogs interessantes. Mas a internet, como tudo na vida, tem um lado que pode ser muito nocivo: permitir que quem não faça verdadeiramente parte da sua vida real seja próximo de você como se convivessem freneticamente. Ao reduzir as distâncias geográficas, a internet provoca uma falsa intimidade entre as pessoas.

Muitos textos já abordaram o problema de relacionamentos que “começam” pela internet. As pessoas se conhecem virtualmente, mas não pessoalmente. É, tem gente que se apaixona assim. Nem vou entrar nesse mérito: para mim, o que pode acabar sendo péssimo é utilizar esse mundo virtual em excesso, de modo a deixar de lado o contato real, verdadeiro e claro, insubstituível. Ao contrário do que muitos pensam (inclusive eu pensava), não é exagero, algo que só acontece com os “nerds”. Eu, que sempre fui entusiasta do orkut, que entrei logo no começo da rede e vibrava a cada novo amigo localizado, comecei a perceber as desvantagens deste tipo de rede social.

Primeiro: por mais que haja filtros para restringir a sua privacidade, você não vai conseguir. Simplesmente porque esse é o propósito do orkut e, se não for assim, não tem graça. Eu não adiciono quem não conheço, mas tem gente na minha lista com quem estive pessoalmente poucas vezes na vida. E essas pessoas acabam tendo acesso à minha vida tanto quanto meus amigos de verdade.

Mesmo que você não deixe recados com freqüência pros seus amigos, que não descreva aonde vai e o que faz, invariavelmente alguém vai escrever para você, dizer que adorou te encontrar na boate tal e que não vê a hora de você postar as fotos da viagem que fez pra não sei aonde, sobre a qual comentaram na noite passada. Das duas, uma: ou você passa a viver em função do orkut, acessando a página toda hora para apagar o que te escrevem, ou relaxa sabendo que não só quem escreveu, como qualquer outra pessoa da sua lista de “amigos” do orkut pode ter livre acesso ao que está lá escrito.

Quando a gente entra na rede, se empolga a cada vez que um amigo com quem não tínhamos mais contato nos adiciona. Passados os recados iniciais onde um atualiza o outro sobre como anda a vida, o contato volta a ser nulo. Simplesmente porque aquela pessoa até pode ser querida por você, mas se fizesse algum sentido ela ainda ser parte da sua vida, faria parte do seu convívio real, não precisaria que o orkut as reaproximasse.

Dia desses fui deixar um recado de feliz aniversário para uma pessoa da minha lista do orkut e descobri, através do recado bem abaixo do meu, que ela está grávida. Não tenho o menor convívio com essa pessoa e provavelmente, sem o orkut me permitir acesso à sua vida, saberia do seu bebê quando ele completasse uns 10 anos de idade. No meu caso, aproveitei a “descoberta” para desejar tudo de melhor a ambos. Mas qualquer ser humano sabe que o que mais tem à nossa volta é gente invejosa.

Muitos casais têm problemas com o orkut por causa dos espíritos de porco que deixam recados comprometedores, sem terem, necessariamente, abertura pra agir dessa forma. No orkut, a gente escreve o que quer. Intimidade de verdade seria necessária para que o sem noção pegasse o telefone e discasse o seu número, mas ali você está próxima, distante apenas um clique do mouse. Às vezes você nem se lembra que a pessoa existe e vê a foto dela ali, entre os seus amigos. Para alguns, isso basta para deixar um recado com falsa intimidade.

Além disso, orkut impede que o passado realmente passe. Você pode nem ter mais contato com um ex, mas se o cara continua na sua lista de amigos, tem livre acesso a uma vida da qual ele já não deveria mais compartilhar. Se ambos tinham orkut quando namoraram, os recados continuam lá e, ao contrário do seu sentimento, o que foi escrito não se apagou. Então, o passado está lá, disponível para ser “descoberto” por quem quer que faça parte do presente. Mesmo que seja o homem com quem você vai se casar, ele vai se incomodar quando, com a ajuda do orkut, lembrar-se que não é o primeiro amor da sua vida.

Se na vida real já é tarefa das mais complicadas estabelecer limites e fronteiras, no orkut isso é praticamente impossível. Já me aconteceu de fazer a lista do meu aniversário e me sentir na obrigação de incluir pessoas que vi poucas vezes na vida, mas que em função do constante contato virtual, ficava chato não chamar. Esquisito, muito esquisito.

Deixar o passado passar. Ter contato com quem realmente importa. Ser amigo de quem é amigo mesmo. Estabelecer fronteiras, não ter o conteúdo da sua vida acessado por quem não faça parte de verdade dela. Redes virtuais dificultam um bocado isso. Não é que o orkut seja o vilão da história: é que ele praticamente impossibilita que você restrinja quem faz, de verdade, parte da SUA história.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

por Maria Carolina Medeiros

Desde que criei meu blog, em 2008, sou apaixonada pelo Vinho com Batata. Cuido dele com carinho, só posto os textos que acho que valem a pena serem compartilhados, leio e releio cada palavra. Adoro ler cada novo comentário, saber o que minhas palavras suscitam em outros. É indescritível a emoção que sinto quando alguém que eu nem imaginava que acompanhasse o blog comenta que adora.

Só tem uma coisa que às vezes me irrita aqui. É quando resolvem achar que TUDO o que eu escrevo tem relação imediata com o que vivo. Gente, o blog não é biográfico. De fato, eu costumo escrever com base no que percebo. Algumas vezes tem a ver comigo, em muitas outras tem a ver com o que vejo, leio, penso, ouço, sinto. Escrevo, sim, como fruto das minhas percepções acerca de algo - daí a ressalva de que meus textos não contêm verdades absolutas, pois costumam ser opinativos. Mas é comum as percepções serem tão abrangentes que não retratam, necessariamente, o que EU sinto.

O grande barato de ter um blog é escrever o que se pensa sem censura de nada. É esse o objetivo do Vinho com Batata, e eu fico realmente lisonjeada por perceber que tem um público bem qualificado que dispensa um pouco do seu tempo para vir conferir o que eu escrevi. Se eu tivesse que pensar duas vezes antes de postar algo aqui, acho que perderia autenticidade, característica que considero primordial para este universo da leitura.

Queridos leitores, agradeço profundamente a preocupação, mas às vezes eu escrevo sobre algo que aconteceu a alguém próximo de mim que me fez refletir. Ou sobre uma sensação que me ocorreu após assistir a um filme. Sobre tudo. Ou sobre nada. Se escrevo sobre morte, não é porque estou pensando em suicídio. Quando questiono relacionamentos, não necessariamente estou passando por aquilo. Pode ter feito parte do passado, pode ter acontecido a uma amiga, posso ter visto um filme que desencadeou o pensamento. Tudo é fonte de inspiração pro escritor (modestamente, já me considero uma escritora! Eba!).

Fico pensando no que seria de Vinicius de Moraes (apenas para citar um dos mestres) se cada um de seus leitores, quando o lesse sobre paixão, o questionasse: “puxa vida, esse cara devia estar com muita dor de cotovelo para escrever isso”.

Lógico que quem escreve se expõe, e está sujeito à aprovação dos leitores. Não quero ausência de questionamentos. Mas como também sou leitora, posso afirmar que acho muito mais gostoso “sentir” a obra, refletir sobre ela, ou apenas gostar ou não, em vez de me ater ao motivo que resultou naquelas palavras.

Não tenho nem a mais remota intenção de dizer como quem me lê deve me interpretar. Estaria matando toda a graça de escrever (para mim), e de ler (para vocês). Aqui cabe mais um desabafo e também um agradecimento pela preocupação de que me lê e teima em associar que faço relatos biográficos.

E assim sigo escrevendo... e vocês me lendo... espero!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Procure no dicionário

Maria Carolina Medeiros

Em tempos de reforma ortográfica, andei pensando: tinham é que inventar um dicionário contendo novas definições para palavras que são velhas conhecidas. Relacionamento, namoro, união, lealdade... está tudo tão confuso que as pessoas perdem o referencial e começam a chamar urubu de meu louro.

Temos mania de dizer que antigamente a vida sentimental era difícil: o homem que se interessava por uma moça tinha que pedir permissão aos pais dela para namorarem, rolava no máximo uns beijinhos (isso é o que dizem, tenho minhas dúvidas) e, se a coisa firmasse, casavam-se. Gente, ISSO é complicado onde?

Não estou dizendo que era melhor do que agora, acho super válido as pessoas poderem se escolher mutuamente, se gostarem ou não, ficarem juntas ou não, terem vários namorados antes de se casarem com um. Me considero sortuda por não ter nascido nessa época nem tão distante assim e ter a liberdade de escolha que antes era destinada majoritariamente aos homens. Acho legal que o objetivo de vida das mulheres não seja mais puramente se casar, é fundamental que todos tenham direito ao prazer. Mas dizer que as coisas se tornaram mais SIMPLES, ah, isso é mentira deslavada!

Todo mundo tem tanta liberdade de escolha que comumente as coisas se confundem: um “casal” sai junto todos os fins de semana, um freqüenta a casa do outro, mas num dado momento um dos dois diz que não quer compromisso sério. Ah, então não era sério até aquele momento? O que faria “aquilo” ficar sério? Alguém explica isso pra parte do casal que não estava entendendo dessa forma?

E olha que isso não acontece apenas com as mulheres, os homens também frequentemente “namoram” sozinhos. É comum a gente achar que quem passa por isso é porque não se percebeu os sinais do outro e não se mancou. Pode até ser, mas os “sinais” estão cada vez mais difíceis de serem decodificados.

Antes, aproximação significava interesse. Um beijo, então, era algo íntimo, destinado a alguém por quem você se interessasse de verdade. Hoje, beijo é resultado de atração, ou bebida demais, ou ainda de um “antes você do que sair liso da noitada”. Quando o cara ligava, era porque estava mesmo a fim. Agora pode ser só porque não tinha nada melhor pra fazer e te tirou da geladeira (crédito pro “Manual do Cafajeste”, que está nos favoritos daqui do blog). Sair juntos por fins de semanas a fio era igual a “quero estar só com você”, mas hoje pode querer dizer um monte de coisas, incluindo “gosto de você, mas quero sair com outras pessoas e espero que você ache isso normal, afinal, nunca falei a palavra namoro”. E ainda tem pessoas com coragem de dizer que as coisas ficaram mais simples! Eu, hein?!

A confusão que a falta de definição gera não pára por aí. Já vi casos de meninas que ficaram uma vez com o cara e “decidiram” que ele era sua propriedade: dali em diante, nenhuma amiga, nem anos depois, poderia cogitar ficar com o dito cujo. Como assim? Não teve nem namoro (nem definido, nem subentendido, vamos combinar), que cabimento tem esse comportamento de proibição?

Hoje, um beijo significa isso mesmo: apenas um beijo. Tem que vir acompanhado de muitas outras sensações – e pode acontecer, acreditem – para virar algo além de one night stand. Mas se não foi o que rolou, não dá pra encanar. Se todo mundo que beija alguém for excluído da lista de pretendentes, não sobra ninguém nesse Rio de meus Deus. É bagunça, é o que for, mas é a vida de hoje e temos que nos adequar. Mas que um dicionariozinho ajudava, ah, ajudava!