quarta-feira, 29 de outubro de 2008

"Seja você a pessoa certa”

29.10.08 - por Carol Medeiros

Como blogueira que sou, estou sempre em busca de novos conteúdos interessantes na internet. Foi assim que me deparei com o “Não dois, não um”, blog de Gustavo Gitti (nao2nao1.com.br). Um texto em particular me chamou a atenção. Começando pelo título que adotei aqui, simplesmente porque não há outro que melhor se encaixe, Gitti discorre sobre buscar “a pessoa certa” nos relacionamentos.

Já escrevi aqui que nem sempre a “pessoa certa” é a certa para nós. Gostar de boa música, ser culto, inteligente, educado e bonito parece meio caminho andado para alguém conquistar espaço na nossa vida. Mas não é. Ter pré-requisitos não é garantia de ser amado.

O grande problema, na minha opinião (e como observadora que sou, tenho visto isso acontecer com freqüência), é colocar nas mãos do outro a responsabilidade por coisas que cabem a nós e a mais ninguém. Por exemplo: a capacidade de se fazer feliz. “Serei feliz quando conseguir mudar de emprego”, “vou me sentir completo quando encontrar alguém especial” são frases comuns na boca de quem não assume as rédeas da própria vida. Atribuindo ao outro nossos fracassos, também nos eximimos da capacidade de nos fazermos felizes.

Eu, que gosto de agir corretamente com as pessoas, canso de ouvir críticas como “o outro não agiria da mesma forma, se estivesse no seu lugar”. Já me questionei se valia a pena manter meu comportamento, a despeito de como os outros agem e reagem. Além de ter certeza de que vale, hoje penso que agir da maneira que consideramos ideal, sem esperar que o outro o faça, impede que a gente caia numa tremenda armadilha: espere que o outro seja a pessoa certa.

Não importa se é no trabalho, nas amizades ou no namoro. Dane-se se ele ou ela não são “merecedores” da nossa postura. O barato de agir com os outros da forma como acreditamos que vale a pena é não nos anularmos por ninguém. Sim, porque a anulação pode acontecer no dia-a-dia, em todas as situações em que a preocupação com a opinião alheia é maior do que com o que vamos sentir.

Quando me sinto desrespeitada e, mesmo assim, mantenho respeito pelo outro, essa postura passa a ser característica minha, independente de ser validada por alguém. Tá certo que me decepciono algumas (muitas) vezes por conta de quem não age como eu, mas ainda acho que eles desrespeitam mais a si do que a mim. E quando encontro quem pensa diferente, reconheço na hora! Porque não me permiti me afastar do que é importante para mim, mesmo (e principalmente) nas vezes em que isso não foi reconhecido ou adotado pelos outros.

No amor, acho que funciona do mesmo jeito. Dia desses fui a um casamento onde o padre dizia aos noivos: “em vez de cobrar o outro, seja você o que você gostaria que a outra pessoa fosse”. Disse ele para a noiva: “se seu marido chegar em casa aborrecido e não quiser lhe contar o que houve, não force a barra. Crie um clima aconchegante, dê-lhe carinho. Propicie um ambiente agradável e o ajudará a se abrir com você.”

Eu iria além: se, após tentativas, o cara continua emburrado, você acaba percebendo que quem não serve para alguém ali é ele para você. E se mesmo sem o reconhecimento do outro você manteve uma postura amável - porque é característica sua -, fica mais fácil ir embora sem se tornar amarga porque não te validaram como companheira. Quando as críticas do outro não mudam quem você é, você parte - mesmo com a frustração por não ter dado certo -, levando você mesma consigo.

No texto de Gitti, há um trecho que diz: “não escolha a pessoa que tem mais a lhe proporcionar, e sim aquela que mais pode se beneficiar com o que você tem a oferecer. Em vez de ficar esperando por alguém inteligente, apenas distribua sua inteligência para qualquer um. Seja a pessoa certa, sem esperar resultados ou retribuições de qualquer tipo”.

Contrariando a lógica do “é dando que se recebe”, devemos ofertar ao outro o que somos. Se, com o tempo, não ficarmos satisfeitos com o que nos é oferecido, temos a opção de ir embora, mas levamos conosco tudo aquilo de bom que proporcionamos desde o início. A maior frustração ao término de um vínculo é nos sentirmos vazios, porque depositamos no outro a responsabilidade por nossa felicidade. E disso nem o Super-homem é capaz de dar conta.

Atribuir a felicidade ao outro é comum, mas não é normal. “Fulano me faz feliz”?. Não, não faz. Você é quem se faz feliz quando não espera isso de alguém. Conseqüentemente, não cobra e permite que o outro seja ele mesmo, enquanto você é o que lhe basta. Ninguém se completa, mas ambos se somam e podem encontrar um resultado inacreditavelmente multiplicado. Não há relação mais preciosa do que a que você estabelece consigo mesmo. E o mais fabuloso é encontrar quem ame o alguém que você ama.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

"LÉRIGOU"

21.10.08 - por Carol Medeiros

Pra quem não sabe, trabalho como consultora em gestão e marketing. Basicamente, procuro soluções nessas áreas para problemas dos clientes, que são empresas. E não é raro, dentro das organizações, achar funcionários que não sabem, ao certo, quais são as atribuições do seu cargo.

Como acredito que não somos pessoas diferentes para cada “área” – a Carol “amiga”, a Carol “profissional”, “namorada” etc -, é inevitável traçar um comparativo entre “funções” na profissão e na vida. Sim, porque acho que todos que cruzam nossos caminhos têm um porquê, uma razão para estarem ali.

Já passei algum tempo tentando retomar antigas amizades, que ficaram perdidas no tempo porque as vidas foram para lados diferentes, sem brigas, sem motivos, apenas aconteceu. É assim com todo mundo, mas eu não conseguia aceitar bem o fato de não conviver com pessoas que tinham sido muito importantes para mim. Aí tentava uma reaproximação, e então percebia que as afinidades também haviam ficado no passado, o que não significava que a pessoa tivesse deixado de ser importante. Ela não tinha feito parte da minha vida apenas no passado; fazia ainda, mas como lembrança de uma época que dá pra recordar, mas não tele-transportar.

Dia desses, uma dessas antigas amizades, por quem tenho muito carinho, me agradeceu, relembrando que eu a apoiei quando seus pais se separaram. Embora nem me lembre com clareza desse episódio, fiquei feliz por também ter tido uma função positiva na vida de alguém. Então é isso? Todos que passam por nossas vidas contribuem com algo? Todos têm uma função?

Tem quem passe por nós quase despercebido. Há aqueles que parecem fundamentais enquanto convivem conosco, mas basta partirem para que a gente mal se lembre de seus nomes. Com alguns, convivemos por anos. Outros participam de uma fase curta da nossa vida, mas com tal intensidade que ficam guardados para sempre no lado do cérebro responsável pelas boas lembranças.

Acontece de alguém passar pela nossa vida tão rapidamente que só dá tempo de dizer uma frase que, mesmo breve, dá sentido a coisas sem sentido.
Tem quem seja boa companhia para noitadas, mas não saiba guardar segredos.

Tem quem dê colo quando a gente precisa, mas não é, nem de longe, a companhia mais animada para uma festa.

Amigos intelectualmente privilegiados não são, necessariamente, os primeiros a serem lembrados quando o sábado é de sol e a praia vai bombar.
E esse é um dos motivos que torna tão bom ter muitos amigos, embora isso acarrete numa função por vezes complicada: a de dar conta de todos eles, mostrando-se disponível e interessada no que todos têm a dizer, desempenhando, dessa vez, a sua função: a boa amiga.

Com amores é mais ou menos a mesma coisa. Alguns, ao fim da paixão, continuamos a amar. Esses, em geral, assumem a nova função de amigos. Outros, preferimos esquecer. De alguns guardamos boas recordações. De outros, embora não valha a pena, fica a mágoa. De alguns poucos, nada. De si e do que passou, fica aprendizado.

Antoine de Saint-Exupéry, aquele que de O Pequeno Príncipe, escreveu que "aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós". Concordo com ele. Não acredito nem desacredito no acaso. Tem coisas que acontecem e não sabemos explicar bem por quê.

Nas nossas vidas, pessoas vão e vêm. Cada um com sua “função”, mas todos com o objetivo comum de deixar um pouco de si e, ainda que inconscientemente, muito aprendizado. Quando a gente entende isso e let it go (daí a brincadeira no título), encontramos a nossa função: encerrar ciclos aprendendo com o que passou, e conhecendo um pouco mais a nós mesmos.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Na varanda

14.10.08 - por Carol Medeiros
Sentada na varanda de casa, vendo um pôr do sol bonito como há tempos não via, pensou na sua vida.

Era outubro e o ano estava perto de terminar, embora isso não lhe dissesse muita coisa. Não era adepta do que chamava de “prazo para ser feliz”. Quem quer emagrecer não espera até a segunda-feira seguinte pra começar uma dieta. Quem quer aprender uma nova língua, idem. O que muda de 31 de dezembro pra 1º de janeiro também pode mudar de 14 pra 15 de outubro, ora essa. Mas quando as coisas não funcionam como o planejado, a culpa é do tempo, sempre ele.

Para ela, o tempo era aliado, e não vilão. Vinha sendo extremamente generoso até ali. Além de ter se tornado ainda mais bonita depois de adulta, percebia nitidamente seu amadurecimento, pessoal e profissional. Ou a grana da terapia estava valendo a pena, pensou.

Olhando a rua, observava a movimentação dos carros na hora do rush. Via, mas não enxergava, porque nada lhe perturbava naquele momento além do desejo de impedir que o sol “mergulhasse” no mar. Comprovando estatísticas, ficava meio pra baixo quando dias chuvosos se seguiam, e queria se assegurar que, não se pondo, o sol estaria de volta no dia seguinte.

Mesmo com todo aquele movimento de carros, mesmo com a beleza angustiante do pôr do sol, sentia-se tranqüila de um jeito que há muito não acontecia. Seria hipocrisia consigo dizer que estava em paz novamente. Não era verdade, mas aquela sensação estava tão ausente de sua vida que quase podia ser chamada de novidade.

E diante da tranqüilidade que a revisitava, pensou que ninguém sabe definir felicidade. Momentos felizes? Realização profissional e pessoal? Utopia? Já não buscava respostas. Gostava quando seu pai dizia que “ser feliz é não ser infeliz”. Fazia total sentido para ela. Muitas vezes, não sabia ao certo o que queria, mas era capaz de dizer, sem hesitar, o que não lhe servia.

O sol, enfim, se pôs. Não pôde impedir, como também não podia controlar o tempo. Presumidamente, as pessoas voltavam para suas casas e o número de carros na rua já era menor. Não podia, de fato, definir felicidade. Mas podia reconhecer quando ela lhe acenava.

domingo, 5 de outubro de 2008

Com cérebro, por favor



05.10.08 - por Carol Medeiros

Não tenho mais saco.

Quando a noitada começa, até chego a acreditar que pode ser legal. Me empolgo, observo as pessoas, vou ao bar. Gosto da música. Acredito que será possível ter uma noite como há tempos não tenho, quase me convenço de que vou voltar pra casa dizendo que valeu a pena ter saído em vez de ter assistido a um DVD.

Ledo engano. Não mudo de opinião a respeito das pessoas, que continuam bonitas, ou da música, que supera as expectativas. Acontece que nem o melhor dos climas é suficiente quando quem não está no clima é você. Esse desânimo não se deve só ao mau tempo, à lei seca ou à porcaria que está a noite do Rio. É um acúmulo de sensações e percepções potencializadas por coisas que venho constatando há algum tempo.

Analiso. Os caras gatinhos são só isso mesmo, carinhas gatinhos. Não que eu saia com pretensão de me apaixonar. Sempre critiquei amigas que deixavam de ficar com alguém achando que “homem é tudo igual”, que “não valia a pena”. Talvez não valessem para namorar, mas que mal havia em dar uns beijos? Ainda não enlouqueci a ponto de achar que beijar faz mal, claro. Mas definitivamente, ficar com alguém na noitada tem acrescentado menos do que assistir à Zorra Total. É sério. E bizarro.

Conheci algumas pessoas bacanas em boates, sem terem sido apresentadas por amigos em comum. Foi assim mesmo, na cara, na coragem e na sorte. Nessa época eu achava que mesmo na noitada era possível diferenciar e ser diferenciada. Acreditava que pessoas que estavam ali para se divertir, mas que não eram como a maioria sem-nada-na-cabeça, se destacariam naturalmente. Isso mesmo num lugar com música alta, bebida no volume máximo e pessoas dispostas a tudo numa noite e nada no dia seguinte. Achava que funcionava assim, afinal, no mínimo tinha conhecido algumas pessoas ótimas dessa maneira.

Não sei se antes as coisas funcionavam assim mesmo e agora é que deixaram de ser. Talvez nunca tenham sido desse jeito e eu é que tive sorte de conhecer caras legais em ambientes duvidosos. “Era pra ser” ou naquela época ainda havia alguma chance de alguém na noitada valer a pena?

Hoje em dia, considero essas chances quase nulas. Nem é tão raro alguém bacana freqüentar noitada, o problema está na inversão de valores e no julgamento que todos, inclusive eu, fazem de todos, inclusive de mim.

Vejamos. Um carinha com algum conteúdo vê uma mulher bonita na noitada. Imediatamente a coloca no rol das doidas que enchem a cara e vão lhe dar uns beijos sem o menor interesse no que ele tem a dizer. Ele tem certeza de que o único interesse ali é físico, talvez haja alguma atração também pela garrafa que ele banca em seu camarote. Aliás, na noite a garrafa tem essa função, atrair mulheres que têm esse tipo de pensamento. Mas quando volta pra casa sozinho, ou carrega alguma maluca mas, no fim das contas, continua sozinho, o carinha também reclama. “A mulherada tá foda”, todos eles dizem, se esquecendo do tipo de mulher que eles parecem buscar quando usam garrafas como ímã.

Seja porque o som alto minimiza chances de conversa, seja porque as pessoas não têm o que dizer, na noitada a dedução generalizada é que todos estão no clima do cala-a-boca-e-beija-logo. Não estão errados, começo a acreditar que a maioria prefere isso mesmo.

Então, eis que sou abordada por alguém que, embora talvez utilize seu cérebro em alguns momentos da vida, não está propenso a fazer uso dessa parte de seu corpo naquele momento. Como não ando lá muito receptiva pra esse tipo de coisa, declino o “convite” educadamente. Alguns aceitam com passividade e não têm o menor pudor de abordar a loira mais próxima. Outros não entendem que, para algumas mulheres, “não” ainda é “não”. Esses seres insistentes, bêbados ou com pouco amor-próprio, ou com tudo isso junto, me obrigam a ser menos educada do que eu gostaria.

É como se eu não tivesse direito de não estar a fim, afinal, estou na noite! Algo como “derrubou na área, é pênalti”, “saiu na chuva, é pra se molhar”. Eu, hein? Se nem quando entro numa loja de roupas e experimento dezenas de vestidos me torno obrigada a levar algum deles, vê lá se tenho que ficar com alguém só porque estou na noitada? Será que os homens não ouviram falar naquela comunidade do orkut que diz que “só vim pra dançar”?

A verdade é que mesmo que o cara seja exceção e mostre-se bacana e com algum conteúdo, a descrença é total, de ambas as partes. Nem dou bola, na certeza de que vou perder meu tempo. Assim, o carinha que cogitava conhecer alguém legal e bater papo em vez de chegar agarrando, começa a acreditar que é melhor mesmo beijar e pronto, como fazem seus amigos. Perde-se menos tempo, poupa-se energia e, no fim das contas, beija-se muito. Mas o vazio permanece.

Essas noites me cansam. Não são raras as vezes em que estou quieta em casa e insisto em aceitar o convite das amigas pra ir pra noitada. Vou, na tentativa de me convencer de que é possível me divertir assim ainda, mas no fundo sempre sei que a possibilidade de me arrepender é enorme. Até me divirto, porque minhas amigas costumam ser excelentes companhias. Mas sempre volto com sensação de que não valeu o esforço, e que se eu empenhasse a energia que gastei na noitada em bons livros, ganharia muito mais.

Acho que tudo tem seu momento, e minha noção de boa programação ultimamente não tem tido nada a ver com noites de sono literalmente perdidas. O som é alto lá fora, mas não o suficiente para abafar o barulho que ecoa aqui dentro. Um brinde às coisas boas da vida, principalmente às que vêm acompanhadas por cérebro.