terça-feira, 28 de setembro de 2010

Voto (in)consciente

Sempre achei que nós, eleitores, temos a obrigação de votar consciente. Nunca votei por votar e não anulo voto de jeito nenhum. Entretanto, nunca tinha me motivado a pesquisar a fundo sobre candidatos. Mas está cada vez mais fácil se informar: a Veja tem prestado um excelente serviço à população, a exemplo do que a ONG Transparência Brasil já faz há algum tempo, mas poucos sabem.

Nessas eleições, resolvi exercer a fundo o meu direito de cidadã e assistir aos programas eleitorais (mesmo que não determinem nada), entrar em sites de candidatos para ler suas propostas, discutir sobre política, pesquisar a ficha dos que tentam se reeleger. No embalo, estou assistindo aos debates com maior empolgação e, principalmente, visão crítica. Ainda bem!

O último debate com os principais candidatos ao governo do estado do Rio de Janeiro acabou agorinha. Ao longo dos quatro blocos do programa, constatei algumas coisas. Cabral, o favorito, definitivamente é um político sabonete. Sabe aproveitar sua posição de bom orador para escorregar de simplesmente todas as perguntas relevantes que lhe são feitas.

Mesmo de terno, que nada tem a ver com seu jeito de se vestir, Gabeira imprimiu seu mau gosto em sua gravata: o que é isso, companheiro? Talvez tenha se sentido tão mal dentro da roupa que, desta vez, mal se posicionou no debate.

O destaque da noite, na minha opinião, foi o candidato Peregrino... o que é o Peregrino? Não parou de falar da casa do Cabral, me deixando com a sensação de que ele tem uma enorme dor de cotovelo por nunca ter sido convidado para ir até lá. Derrubou copo, atacou o Cabral – o que talvez tenha sido a grande vantagem de tê-lo entre os três a serem ouvidos. Mas doeu ouvi-lo dizer, por várias vezes, que a mansão do Cabral foi “resistrada"... por um minuto achei que já era quinta-feira, dia do debate com os candidatos à presidência, e que a Dilma estava discursando. Ui!

O golpe final foi o tom de “puxão de orelhas da mamãe no filhinho” que o Peregrino usou em relação ao Cabral. "Olha, Cabralzinho, isso não se faz, hein? Coisa feia!". Sim, o Cabral faz muitas coisas feias. Mas é um excelente orador, e para muitos eleitores isso basta. Infelizmente. No fim, nenhum candidato falou concretamente de suas propostas. Os eleitores perdem.

Mas perde mais quem nem se dá ao trabalho de assistir a um debate para formar sua opinião. O que mais me chamou a atenção hoje não foi o discurso dos candidatos. Enquanto eu trocava ideias sobre o debate com alguns poucos amigos com o mínimo de consciência política, a maioria esmagadora do meu facebook falava sobre a estreia do reality show “A Fazenda”, na Record.

Devemos respeitar todos os gostos, e concordo que a política nos faz rir também, mas se no último debate pra governador do Rio as pessoas dão preferência a um reality show que nem famosos tem, é porque a coisa está realmente feia. Provavelmente, essas são as mesmas pessoas que dizem que vão anular seu voto, “porque nenhum candidato presta mesmo”.

De fato, cada povo tem o governo que merece.


Pesquise sobre os candidatos em
www.transparencia.org.br

domingo, 5 de setembro de 2010

A grama do vizinho

Volta e meia me pego pensando nos motivos que nos levam a somente dar valor a algo quando o perdemos. Pode não ser exatamente um modo de pensar, mas é um modo de agir do ser humano que nos ronda nas mais diversas situações, como um mantra que não repetimos verbalmente, mas o qual cumprimos à risca: “só dá valor quando perde”.

Serve pro cara que era grosso com a namorada, e quando percebeu que ia perdê-la, se disse disposto a mudar (já era tarde). Funciona pra quem nunca tinha tempo pra se encontrar com os amigos, e uma vez morando longe deles, daria tudo para ter com quem tomar uma taça de vinho. Pro chefe que nunca elogia um funcionário e só nota o quanto ele era competente quando recebe sua carta de demissão. Se aplica aos filhos que só percebem que nunca disseram que amavam seus pais quando estes já partiram pra outro plano. Olhando ao redor, acho que isso é quase inerente ao ser humano. E me pergunto: por que a gente é assim?

“Difícil é amar o que se tem”. Ouvi esta frase em algum lugar, e agora ela não me sai da cabeça. Trocando em miúdos, a grama do vizinho é sempre mais verde. Só damos valor quando perdemos. E não só nos relacionamentos; sofremos desse mal praticamente em nosso dia a dia.

Quem mora longe da praia, enumera tudo o que faria se morasse à beira-mar, e que só não realiza porque mora no subúrbio. Um dia, quando se muda, se esquece das promessas que fez a si mesmo e mantém sua velha rotina, mesmo num novo lugar. O problema era o bairro ou a pessoa?

A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, tem suas desvantagens, como qualquer outra. Mas tem um milhão de coisas bacanas também. Quem não mora aqui não consegue entender como muitos cariocas passam a vida toda sem ir ao Cristo Redentor, ao Pão de Açúcar, ao Jardim Botânico. Lugares que muitos de nós só passam a conhecer quando recebem hóspedes de fora.

Da mesma forma, às vezes precisamos que alguém elogie nosso amado para percebermos o quanto ele é, de fato, bonito. Por que será? Por que precisamos da validação dos outros para dar, enfim, valor ao que temos?

Obviamente, não tenho essa resposta. Mas vale lembrar que a vida é feita de escolhas, como bem diz outra frase feita. E que cabe a nós mesmos escolher a alternativa de valorizar o que temos, enquanto temos. Porque um dia a gente pode mudar de cidade, e só então vamos sentir falta daquele cheiro que só o lugar onde a gente viveu a vida toda tem. Quando não virmos mais um velho amigo, vamos perceber como era bom ouvir suas piadas. Se a vida seguir seu curso natural, nossos pais se vão antes de nós, e aí sentiremos falta do seu colo, aquele que não aproveitamos enquanto podíamos.

Um dia as cortinas se fecham, a chuva cai, a porta bate, o avião decola. Quem a gente ama, se vai. A grama do vizinho só é mais verde quando teimamos em enxergar a nossa vida em preto e branco.