segunda-feira, 24 de maio de 2010

Fale sobre você

Hoje eu precisei fazer uma breve descrição de mim. Não queria relatar os cursos que já fiz, pois mesmo os que mais me acrescentaram, não foram decisivos na formação da minha personalidade.

E daí se me formei e fiz pós-graduação? Claro que não foram em vão, muito pelo contrário, mas isso não diz nada sobre mim. Nem uma vírgula da minha história.

Então, saiu isso aqui:

Tenho 26 anos e me formei em Publicidade, mas quem convive comigo teima em dizer que sou jornalista. Talvez porque textos e palavras sempre permearam tudo o que eu faço.

Sou aquela que não dá um presente de aniversário sem estar acompanhado por um cartão. E que não seja daqueles pequeninos, que é pra eu escrever bastante.

Sou a filha que faz discursos nos aniversários dos pais.

Sou a noiva que escreve todos os dizeres do seu casamento.

Sou amante de escrever sem me denominar escritora, porque ainda falta muito pra que me chamem assim. Mas certamente não há nada completo na minha vida sem estar bem acompanhado por palavras.

domingo, 16 de maio de 2010

Papo de amiga

Era domingo de sol. Duas amigas almoçavam animadamente, colocando o papo em dia. Uma delas, recém saída de um namoro sofrido, contava radiante para a outra sobre o rapaz que acabara de conhecer. Estava super empolgada e dividia cada detalhe com a amiga ouvinte, que adorava vê-la feliz daquela maneira. Já não era sem tempo!, pensava a amiga que tantas vezes a consolara.

Enquanto uma falava, a amiga que ouvia se lembrava do papo da semana anterior, quando o novo rapaz ainda não tinha surgido e a amiga estava melancólica, ameaçando chorar cada vez que pronunciava o nome do ex namorado. E não foram poucas vezes.

Passada uma semana e, como em um passe de mágica, tudo havia mudado. Milagre? Claro que não. Essa é a coisa incrível do tempo. Ele pode não ser o maior responsável por grandes mudanças, mas colabora muito para cicatrizar feridas.

Na verdade, a amiga já estava era cansada de sofrer. Já tinha se decidido a ser feliz, só lhe faltava coragem, quem sabe um empurrãozinho. Agora, não faltava mais: estava encantada com um novo rapaz!

Conversaram sobre a sensação libertadora que é interessar-se novamente por alguém após um rompimento amoroso. Indescritível. E maravilhoso. E sobre como estamos sempre tão ansiosos à espera do próximo acontecimento, do próximo convite, do próximo beijo, que muitas vezes nos esquecemos de aproveitar cada momento no exato momento em que eles acontecem. Curtimos o presente quando ele já se tornou passado, sempre à mercê do que o futuro nos reserva.

Despediram-se. Abraçaram-se. E independente se o novo romance ia vingar, o que importava era que ela estava livre e bem consigo mesma. A amiga, ao ouvir cada detalhe daquela nova história de amor, sentia-se orgulhosa pela outra, que finalmente estava determinada a ser feliz. Decisão esta que, possivelmente, era a mais importante da sua vida.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Use sem moderação?

Na vida há um montão de sensações ruins. A sensação que fica na boca quando chupamos uma bala azedinha. A sensação de estar esquecendo algo quando sai de casa – e a certeza de que esqueceu mesmo o celular, quando mais precisar dele. A frustração ao chegar na aula que você mais ama no mundo e constatar que o professor faltou. A sensação de vazio que fica quando um amigo parte. Tem também uma sensação terrível, que eu ainda não havia experimentado – a sensação de ter sido usada.

Claro que é possível se sentir usado na vida pessoal. Deve ser péssimo perceber que aquela amizade não era verdadeira, ou que o namoro tinha na sua maior motivação um interesse além do amor. Mas nem por isso é menos chato perceber que foi usada como profissional.

Todo mundo sabe que o mercado de trabalho é regido por um constante jogo de interesses. E mesmo não sendo a maior expert no assunto, sempre achei que tivesse jogo de cintura para lidar com esse tipo de situação. Mas descobri que há uma diferença, que é, ao mesmo tempo, bem tênue e enorme, entre usar e abusar.

Dizer que usou alguém é feio sempre, não importa o caso. Mas quando você faz isso com o consentimento do outro, pode ser benéfico pra ambos. Por exemplo: você está procurando emprego e sabe que o primo de um amigo trabalha na empresa dos seus sonhos. Aí, você explica claramente ao amigo a sua necessidade e pede que, em uma oportunidade que surja, ele apresente você e o primo, para tentar uma indicação. Todos, inclusive o primo da empresa, sabem o que está se passando. Ninguém está sendo enganado. Todos estão apenas se beneficiando de uma rede de contatos. Supernormal.

O problema é quando uma das partes não sabe que isso está acontecendo. Perceber-se em uma situação para, depois de um tempo, entender que não era nada daquilo que haviam te dito. Claro que houve sinais de que a coisa era estranha, mas você não percebeu porque estava muito ocupado tentando desempenhar bem a parte que lhe cabia. E quando acha que é chegada a hora de brilhar, puxam seu tapete sob um pretexto qualquer, porque você não é mais útil; já te usaram pro que queriam ser o menor pudor.

É uma pena atitudes assim, mas tem aos montes. Fico triste de verdade. Mas aí, me lembro das inúmeras boas sensações que a vida também tem. A de comer chocolate. A de beijar. A de amar e ser amada. A de ter amigos. A de se sentir útil, mas não para ser usado, é claro.

E aí, esqueço o gosto de bala azeda na boca.