quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O B de bom do BBB

Maria Carolina Medeiros


Muita gente (diz que) detesta o Big Brother, mas gostando ou não, tem uma hora em que todo mundo devia assistir, nem que seja pra saber do que está falando mal. Um programa que recebe quase 80 milhões de votos para que um de seus participantes saia - considerando que muitos espectadores não votam, quantos milhões devem assistir ao BBB? -, este que já foi encarado como lixo da TV brasileira merece que dediquemos alguns minutos falando a seu respeito.

Tem gente que adora. Outros dizem que nunca viram, nem de passagem, zapeando com o controle remoto. Eu acho que a maioria assiste, pelo menos de vez em quando, e não admite. Confesso: estou acompanhando este BBB 10, assim como fiz com vários outros. E os que eu não vi tinham participantes totalmente sem sal, que não me provocaram nenhum interesse. Mesmo assim, sempre tive noção do que estava acontecendo na casa mais famosa do Brasil.

É por isso que acho tão curiosa a postura extremista de quem diz que não assiste ao BBB por nada neste mundo e que abomina quem vê, tachando-os de desprovidos de inteligência. Ok, não se trata de um conteúdo que acrescente muito às nossas vidas, mas continuo pensando que pessoas bem informadas têm o dever de saber o que se passa em um programa que é assistido por umas 100 milhões de pessoas, se não por mais!

Cursei Comunicação na faculdade e tinha uma professora mais-intelectual-impossível que defendia que todos deviam assistir aos chamados lixos da TV brasileira de vez em quando. Segundo ela, em vez de abominarmos programas que não prezam pelo desenvolvimento intelectual, precisamos, no mínimo, saber o que estamos criticando. Nem que seja para opinar com consistência quando o assunto é BBB numa roda de amigos.

Acho interessante ver como pessoas normais, que podiam ser nossos amigos, se comportam em situações limite. Tornam-se mocinhos ou vilões por uma palavra mal dita, ou porque falaram mal de outro participante. Na vida real, sabemos que gente fofoqueira não falta, todo mundo conhece alguém assim. Mas no BBB há câmeras, e câmeras não mentem jamais (será?).

Leio mais livros que a maioria. Sinto prazer em pensar. Sou até meio CDF. Converso sobre tudo. Tudo, incluindo BBB. E não me sinto menos inteligente por isso.

No dia a dia, todos nós passamos por situações semelhantes às que acontecem lá dentro com os participantes. Temos que conviver com pessoas que não têm nada a ver com a gente de vez em quando, nos irritamos porque a voz de uma é estridente, amamos e odiamos com a mesma intensidade. A grande diferença é que essas chatices acabam diluídas na nossa vida, porque há compensações quase instantâneas. Um dia ruim no trabalho é compensado pelo carinho do marido. A briga com o namorado é esquecida num bate papo divertido com os amigos. No BBB não dá pra ser assim: ame ou odeie, tem de conviver com aquelas pessoas por longos meses.

O nome é BBB, mas podia ser No Limite, porque lá dentro, pelo que eu vejo como espectadora, é assim o tempo todo. E acaba sendo um prato cheio não só pra quem quer ver o circo pegar fogo, mas também pra gente se identificar com algumas coisas, rejeitar outras, mas principalmente observar pessoas que parecem tão diferentes de nós quando, na verdade, não são: só estão expostas a situações extremas de uma só vez, o tempo todo.

Abaixo os pseudo-intelectuais que criticam o BBB sem olhar pelo seu lado antropológico. Viva a diversidade humana, a podridão que aflora sob tensão. Viva o BBB com suas bizarrices que nos fazem, muitas vezes, encarar nosso reflexo.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Dormindo com o inimigo


Maria Carolina Medeiros


Dizem que quem analisa uma situação “de fora”, sem estar envolvido, consegue ser mais realista. Mas por outro lado, sem envolvimento é fácil falar. De um jeito ou de outro, quando a gente vê algo acontecendo com os outros e percebe claramente algo que quem está participando não vê, dá uma certa agonia. Vontade de se meter, de dizer pro outro: ei, acorda!

Mesmo quem não for noveleiro vai entender o que estou dizendo. É que quando eu vejo a Helena (Taís Araújo), de Viver a Vida, ser absurdamente traída pelo metido a galã do José Mayer (alou, seu tempo acabou!), me dá vontade de entrar na TV e dizer a ela pra não se sentir culpada por dar um beijinho no Thiago Lacerda (esse sim, galã de verdade). Contar pra ela que o marido dela faz coisa muito pior. Não que eu seja adepta do “olho por olho, dente por dente”, muito pelo contrário. Mas me dá raiva vê-la levando tão a sério uma relação com um cara completamente galinha, e perdendo a oportunidade de dar-lhe um pé na bunda e viver pra sempre com o Thiago Lacerda, quer dizer, com o Bruno (personagem que ele interpreta).

Aí é que eu paro pra pensar. Será mesmo que Helena não vê nada? É claro que ela não sabe concretamente das traições do marido, mas será que não percebe mesmo com que tipo de pessoa ela dorme e se levanta todos os dias? Pode não saber que ele é infiel, mas sabe sobre sua deslealdade, sobre sua falta de companheirismo, sobre suas grosserias e sua ausência constante.

Sempre que alguém me conta algo muito bizarro, como uma relação que terminou e um dos dois ficou totalmente sem chão porque não esperava (mais um desavisado), uma esposa que descobre, repentinamente, que o marido tem outra família há 10 anos, coisas assim, que parecem normais na nossa sociedade louca mas ainda me assustam e vão assustar a vida inteira, eu penso. Penso que não é possível que a pessoa tenha sido realmente enganada todo esse tempo. Podia não saber sobre o amante, mas e a atenção, o carinho, a construção da vida a dois, ninguém percebeu que não estava mais acontecendo?

Existem canalhas nas novelas e na vida real. Eles podem ser homens, mulheres e até crianças. Você pode viver 20 anos com um deles e perceber, então, que não o conhece, e pode conhecê-lo há meses e sentir que realmente o entende. No fundo, todo mundo sabe com quem convive. Não acho que seja fácil, mas as pessoas dão sinais o tempo todo sobre quem realmente são. Eu acredito nisso. E essa é a minha esperança pra acreditar que o mundo ainda não está realmente desvirtuado, e é o que me faz confiar no que eu vejo e no que eu sinto.

Mas Manoel Carlos... dá uma aliviada, né?!