domingo, 31 de agosto de 2008

Saudades de quê?

31.08.09 - por Carol Medeiros

Sentir saudades dói tanto que às vezes chega a ser cruel.

Como bem escreveu o jornalista e amigo Bruno Rodrigues em seu excelente blog Deu Bigode (deubigode.blogspot.com - confiram, vale a pena),
“a música é um retrato das cenas por nós vividas. Numa quarta-feira sem graça, você escuta aquela faixa que te remete aquele lugar. É o bastante pra você querer sair de onde está e brincar de passado. O detalhe é que você, infelizmente, não consegue brincar de passado sozinho.”

Não sei se alguma vez na vida alguém conseguiu sentir saudades sozinho. Isso explica porque a palavra é no plural, com “S” no final, apesar de a gente comumente dizê-la no singular. Pouco importa. Qualquer coisa torna-se insignificante quando falamos de saudade e da dor que ela provoca.

Saudade de quem mora longe, dói. Saudades de tempos que não voltam, também. Saudade de quem faleceu e não volta mais, dói a beça. Assim como sentir saudades de quem, mesmo que não tenha partido pro andar de cima, partiu da nossa vida e nos deixou com um baita sentimento sem nome, sem saber o que fazer com ele. E quando o sentimento acaba, a gente deixa de sentir falta dos momentos que vivemos, mas continuamos com uma sensação de vazio, nos questionando sobre como teria sido se não tivesse deixado de ser.

Inventamos de tudo: viagem, novo corte de cabelo, compras, noitadas, em tentativas diversas de deixar a saudade em casa em todas as vezes que sairmos. E ainda nos surpreendemos quando isso não acontece! Me disseram certa vez, “tentamos fazer barulho lá fora para calar o que grita aqui dentro”. Por algum motivo, seria uma tragédia se escutássemos.

Saudade é mistura de vários sentimentos. Sentir falta de quem não está mais ao nosso lado, além de doer pra caramba, provoca uma terrível sensação de impotência. O que eu fiz de errado? Por que não deu certo? Perguntas nem sempre têm respostas, e assim como sentir saudades, relações entre duas pessoas também são feitas no plural.

Quando a saudade se mistura a outros sentimentos, acontece de a gente nem entender do que sentimos falta realmente. Dia desses revi fotos de alguns bons momentos da minha vida e, apesar de sentir saudades daquela época, não sei se gostaria de voltar no tempo, se pudesse. Talvez o que nos perturbe na nostalgia é saber que a história que fotos, músicas ou cheiros trazem à tona acabou, e que os momentos que poderiam ser vividos dali em diante, não mais serão.

Saudade dói de qualquer jeito e talvez seja o único sentimento que nunca vamos deixar de sentir: ela apenas se transforma. No caso da morte, a saudade de quem se foi não acaba nunca, mas aprendemos a lidar com a ausência. E quando um coração partido se recupera, ele é capaz de amar novamente, mas terá sempre cicatrizes.

Não importa do que você sinta falta, o lugar que a saudade decidiu ocupar na sua vida é o mesmo: ela está instalada no coração e se espalha por todo o corpo. Às vezes adormece, mas basta um som, um cheiro, uma voz, uma imagem pra saudade ser despertada. Ela não quer nos largar, nós é que precisamos nos livrar dela. É difícil, mas não impossível. Segundo a minha mãe, dor de amor dói, mas sempre passa. E é de domínio público que mãe sempre sabe das coisas.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Reencontro de si mesmo

27.08.09 - por Carol Medeiros

A cena se repete. Você está triste, logo, não tem vontade de sair. Fica em casa pensando na vida, mais especificamente no que acabou de acontecer na SUA vida. Então, tudo, todos os filmes, todos os programas de TV, todos os entrevistados do Jô e até os comerciais te lembram ele. Ah, e todas as músicas, principalmente as músicas.

Claro que você não está a fim de sair. É compreensível e, eu diria, muito justo. É bom dar um tempo pra gente quando estamos tristes. É fundamental, inclusive, porque quando isso não acontece, acabamos atropelando as coisas e, pior, atropelando a nós mesmos.
Quando tentamos tapar buracos do coração, nem sempre a melhor opção é sair e conhecer outras pessoas. Ainda não tenho opinião formada sobre o bordão “amor com amor se paga”, mas acho que tem horas em que o melhor a fazer é se aquietar e chorar no travesseiro, que é lugar quente (se você tiver um cachorro, pode acreditar, ele será fundamental neste momento). O problema é o timing. Passam-se dias, semanas, meses e você lá, na fossa. Tudo tem seu tempo, e “viver” a tristeza faz parte da vida. Mas como saber quando é hora de sacudir, levantar a poeira e dar a volta por cima?

Hoje eu descobri uma coisa engraçada, e foi por isso que comecei a escrever. Quando estamos tristes, não queremos sair. Aí ficamos em casa e bate a deprê, então ficamos ainda mais tristes. Surgem programações bacanas, os amigos querem te tirar de casa, rola a festa do ano. E nada te interessa. Até que aparece algum evento, não precisa ser nenhum mega evento – aliás, é até melhor que não seja -, ao qual você simplesmente não tem opção de não ir. Mesmo sem vontade, se for aniversário de uma amiga querida, mesmo entendendo a sua fossa, sim, ela vai ficar uma arara se você não for.

E aí, já que não tem jeito e você vai ter que sair de casa mesmo, você levanta da cama, toma um banho quente, se livra da cara de choro e começa a produção. Escolhe uma roupa que te caia bem, porque já tem motivos suficientes pra se sentir mal naquele momento. Faz uma maquiagenzinha básica, nada de mais, mas que disfarce as olheiras. E aí, tcha-ram!
Você se olha no espelho. Seria exagero dizer que não vê mais sinais daquela tristeza que parecia que nunca ia passar, mas pelo menos se vê um pouquinho menos distante da mulher sorridente que ficou lá atrás, na semana passada, quando você ainda não tinha se entregado à fossa.
A tristeza não diminuiu a partir daquele momento. Ela não se desapaixonou de uma hora pra outra, nem deixou de sofrer. Quando ouvir uma música que a faça se lembrar do que passou, é provável que chore. Ainda nem está pensando em conhecer alguém, se arrepia só em pensar em se envolver novamente. Continua com vontade de ficar sozinha, pra não dizer com idéia fixa. Quer se conhecer, respeitar seu momento.
Ela nem se afastou propriamente da tristeza, mas quando se viu reagindo diante do espelho, ficou menos distante de si mesma. E isso a fez se lembrar de que, quando não nos perdemos de nós mesmos, sempre é possível se reencontrar.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Diga não aos candidatos sem educação!

25.08.09 - por Carol Medeiros

Agosto está chegando ao fim e resta apenas um mês até a chegada de outubro, mês de eleições municipais. Quando se trata de política, sei que o Brasil tem fama de deixar que tudo acabe sempre em pizza. Sei que está cada vez mais difícil acreditar que existem políticos honestos. Mas sei também que muitos eleitores usam o triste histórico da política no país como justificativa para não pesquisar em quem votam, sob o pretexto que “nada vai mudar mesmo”.

Estou incluída no grupo de brasileiros com mais de 18 anos de idade, mentalmente saudáveis (pelo menos é o que eu acho) e, portanto, preocupados em escolher, através do voto, vereadores e o novo prefeito da cidade do Rio de Janeiro. Apesar de ter dificuldade em acreditar que é possível fazer diferente, sendo o Brasil um país onde o voto é obrigatório, tenho duas opções: votar e votar, já que não considero anular o voto uma possibilidade. “Prefira sempre o erro à omissão”, sempre me disse meu pai. Ok, não dá pra fugir. Preciso decidir em quem vou depositar o que me resta de confiança para tornar o Rio não tão próximo de cidade sitiada.

Era sábado de sol e eu estava refestelada na praia quando ouvi vozes, que não vinham do meu inconsciente e aparentemente nada tinham a ver com algum trauma relacionado ao filme “O Chamado”. Eis que identifico de onde vêm as vozes, estridentes demais para serem ignoradas: tratava-se de um carro de som que berrava, em um volume inacreditável, o jingle da campanha de uma candidata a vereadora.

O objetivo era claro: massificar os ouvidos dos eleitores (e de quem mais tivesse o azar de estar nas redondezas) para fixar o número da candidata. Confesso que, involuntariamente, decorei o maldito número, mas com toda a certeza do universo, não vou digitá-lo na urna eletrônica. Até aquele momento eu não conhecia nada sobre a candidata em questão, e se o carro estava ali para reverter a situação, conseguiu: agora eu sei da existência da candidata, e também tenho certeza de que nela, eu não voto! Permaneço sem saber o que ela defende, mas algo me diz que não inclui sol, nem praia, e muito menos música de qualidade.

Dias antes eu tinha lido uma reportagem que mencionava bizarrices de candidatos a vereador do Rio. Como se não bastassem políticos corruptos e uns com uns nomes surreais, agora temos que aturar aqueles que literalmente prometem o impossível! Gente que não sabe quais são as atribuições do cargo que pretende ocupar e diz que vai fazer X ou Y sem se dar conta de que a criação de escolas, por exemplo, não pode ser decidida nem pelo mais bem-intencionado dos vereadores. É impressão minha ou mesmo com a facilidade no acesso à informação, há candidatos que elaboram propostas de campanha irreais? E é com essas propostas que eles desejam obter nosso voto? Pai nosso!

Também me irritam candidatos paradoxais. Propõem medidas rígidas visando preservação do meio ambiente e espalham “santinhos” pelas ruas. É só andar por aí para flagrar carros recheados com adesivos de candidatos estacionados em cima de calçadas, destruindo a pavimentação e impedindo passagem de pedestres.

Em tempos de decisões que só serão repensadas daqui a quatro anos, vale a reflexão: emporcalhar ruas e ouvidos de eleitores é sinal de falta de compromisso com a cidade e com o povo - os mesmos para quem, supostamente, tais candidatos devem governar.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Que jogo você joga?

18.08.09 - por Carol Medeiros

Em tempos de Olimpíadas, apesar de o fuso-horário comprometer a rotina de quem quer acompanhar as disputas, está todo mundo de olho nos Jogos. Seja torcendo pelos atletas brasileiros (agora mais pelas “zebras”, porque os favoritos ainda não mostraram por que assim são chamados), seja vibrando com cada recorde quebrado por Michael Phelps, cada competição que assisto me remete a um tema sobre o qual penso em escrever há tempos: o amor também é um jogo?

Somos criados para pensar que não. O amor é um jogo? Que absurdo, ora essa. O amor é pra ser sentido, demonstrado, percebido, e não racionalizado. Joguinhos, se existirem, só devem fazer parte do começo das relações afetivas, é o que nos acostumamos a pensar. De resto, deixa o coração falar mais alto.

E do “alto” dos meus 24 anos, com algum aprendizado sobre relacionamentos, hoje me arrisco a dizer que o amor pode ser um jogo, sim. Quem nunca pensou que “quando demonstro que gosto muito de alguém, a pessoa se acomoda”? Que relacionamento, por mais apaixonado que seja, resiste às não- renovações diárias de demonstrações de carinho, respeito e confiança?
Não é que tenhamos que medir cada palavra, cada gesto com quem amamos. Mas faz parte, sim, oferecer confiança em excesso em alguns momentos, e permitir um pouco de insegurança em outros. Sentir-se em uma relação estável, mas saber que é necessário conquistar e ser conquistado novamente dia após dia para manterem-se juntos. Faz parte do ser humano, ainda que não tenha consciência disso, não querer sentir-se seguro o tempo todo ao lado de alguém. Se não houver o risco de perda, o que pode se perder é a graça.
Conversando sobre os “jogos do amor” com uma amiga, me deparei com uma analogia muito interessante e que compartilho com vocês dada a simplicidade, ao mesmo tempo em que é profunda. Ela comparou o amor a partidas de tênis e de frescobol. Duas pessoas que jogam tênis têm em comum o objetivo de vencer, o que acarreta, necessariamente, na derrota de um dos dois. Os participantes são chamados de adversários e mandam “bolas ruins” um pro outro, porque o erro de um significa o acerto do oponente.
No caso do frescobol, olha que interessante. Não há vencedor nem perdedor, e comumente os pontos nem são contabilizados. Duas pessoas mandam “bolas boas” uma pra outra com o único objetivo de se divertir e não deixar que a bola caia, porque isso sim acabaria com a partida, ou resultaria no seu recomeço.
Como no jogo do amor funciona parecido! Há casais que jogam tênis sem perceber, e em vez de buscarem cumplicidade, diversão mútua e se preocuparem apenas em manter a bola no ar, disputam a vitória – que nunca chega, porque a “derrota” de um implica sempre no sofrimento também do outro. Por mais óbvio que pareça, como é difícil jogar frescobol! Não concorrer nem disputar, jogar o jogo do amor de modo que os dois sejam parceiros e não adversários, sem contabilizar pontos e percebendo que quando um recebe “bola boa”, o outro ganha também. Os dois, portanto, são vencedores, se não ao mesmo tempo, pelo menos se alternam nesse papel.
A bola caiu! E agora? Para tenistas, isso pode significar o fim da partida - a glória de um e a desgraça do outro. Pra quem joga frescobol, a queda também pode resultar no término da partida, ou não – é uma decisão que cabe aos dois que jogam. Afinal, não há pontuação, nem juiz, nem mesmo torcida – contra ou a favor. Há apenas duas pessoas que, se quiserem, podem continuar jogando juntas, tentando se divertir mantendo a bola no ar, mesmo sabendo que às vezes ela vai cair, inevitavelmente. E que em todas as vezes que isso acontecer, provavelmente um vai ter mais vontade de apanhar a bola do que o outro, porque o ser humano é complexo assim.
A partida continua se ambos concordam que não querem ser oponentes, e que apesar de já terem perdido antes, desejam continuar jogando. Talvez porque o jogo valha a pena, por si só. Talvez porque, mesmo sem certezas pro resto da vida, queiram manter a bola no ar. Ou simplesmente porque – e aí temos o exemplo da nossa dupla de vôlei de praia feminina nas Olimpíadas, que têm dificuldades em se entrosar porque nunca tinha jogado juntas -, aquela parceria é insubstituível.
O dono da bola e das raquetes sabe que não vai achar alguém com quem ele tenha tanta vontade de jogar. E quem joga com ele sabe que pode escolher jogar com outras pessoas, mas é essa bola que caiu na areia que ele quer manter no ar.