sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ser ou não ser, eis a questão – ou sobre como questionar é preciso

Na foto: O Pensador, de Rodin

Não há um dia que passe que eu não veja surgir, em algum momento, um papo sobre insatisfação profissional. Alguém que converse comigo, amigos que papeiem ao meu lado, revistas que discorrem sobre o tema. Insatisfação minha, sua, nossa.

Insatisfação de vestibulandos que não sabem que curso escolher na faculdade. De estagiários que se sentem explorados na empresa em que, supostamente, estão para aprender, mas não aprendem. Pessoas em início de carreira que não sabem que rumo tomar. Gente com anos de experiência que se questiona se tomou o rumo certo. Em qualquer etapa da vida, todos estamos sujeitos a essa dúvida.

Creio que isso só não acontece com quem não faz o exercício de olhar pra própria vida e refletir sobre ela. Só não acontece com quem se acomoda numa vidinha mais ou menos, que não lhe dá nenhuma satisfação, mas também não lhe desagrada. Então, pra que mudar, não é mesmo?

Precisa ter coragem um executivo que passa a vida toda fazendo a mesma coisa para, só no fim da carreira, perceber que desperdiçou seu tempo em algo que não lhe acrescentou nada como ser humano. Coragem para manter a vida na mesmice ou coragem pra mudar de rumo?

Recentemente li em uma revista a história de um alto executivo de uma multinacional, que ganhava em torno de R$ 100 mil de salário e tinha bônus altíssimos, e que aos 50 anos decidiu largar o emprego estável para se dedicar à plantação de vegetais sem agrotóxicos no interior de São Paulo. Na reportagem, ele conta que foi duramente criticado: por seus colegas de trabalho, por profissionais do mercado que julgavam que ele tinha o cargo dos sonhos, por sua família, que estava acostumada a não vê-lo questionar o que já vinha fazendo há trinta anos. De repente, ele se questionou. Nunca é tarde. Mas o diferente sempre causa estranheza.

Perguntado sobre o real motivo de sua decisão, o antes executivo disse que simplesmente nunca tinha se questionado sobre sua vida, sobre o que realmente importava para ele. Disse que depois de dedicar trinta anos de sua vida a uma empresa, percebeu que neste mesmo período não havia dedicado tempo igualmente significativo à sua família, à sua saúde, à prática de esportes, ao lazer. Enfim, ao que realmente importava. Ele achava tão normal sua rotina de 12 horas de trabalho diário, em média, achava comum ver tão pouco sua esposa e seus filhos, que simplesmente não questionava nada disso. Quando o fez, não conseguiu encontrar uma opção meio termo, tomou tanto horror por sua vida até ali que só enxergou a possibilidade de largar tudo e começar nova vida.

É claro que não é necessário ser radical. Nem sempre temos somente uma saída. Ao contrário, às vezes há tantas opções que o problema é justamente a falta de foco. Seja como for, questionar é preciso. É fundamental.

Quando vejo à minha volta tanta gente incomodada com a vida que leva, não consigo achar isso tão ruim quanto a maioria pensa. Ruim é se acomodar. É claro que aflige um pouco quando a gente não sabe que rumo tomar na vida profissional, ou em qualquer outro segmento. Mas tão ruim quanto isso é não questionar, nunca, o modo como você vive. Quem se incomoda com o rumo que a vida tomou, ou que ainda não tomou, pelo menos está vivendo de verdade, e não apenas existindo.

Em tempo: o ex executivo da reportagem diz que em sua horta, é a primeira vez que se sente fazendo algo que realmente tem um propósito. E que não podia estar mais feliz.

2 comentários:

Fafá Ribeiro Alves disse...

Excelente!

Então, estou de certa forma certa, pois sempre estou questionando os rumos da minha vida e buscando aquilo que realmente possa me realizar e me fazer sentir feliz. Algumas vezes ( a maioria) as pessoas realmente não entendem e já fui criticada por este meu modo de ser e ver a vida.
Amei o texto!

Camila Reis disse...

na minha opinião é realmente difícil escolher uma profissão que te faça feliz, mas mais difícil ainda é satisfazer o ser humano que nunca fica contente com o que conquista.

bjs!