quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Porque preciso agradecer

Eu adoro retrospectivas. Não sei bem porquê, não é questão de nostalgia. Eu gosto e pronto.

Na vida, a maioria das pessoas tende a lembrar mais das coisas ruins que aconteceram num ano, do que das coisas boas. E quando se lembram das coisas boas, é porque foram fatos realmente marcantes, como um casamento, o nascimento de um filho etc. Raramente, ao fazermos uma retrospectiva da nossa vida, valorizamos o que é aparentemente trivial, mas fundamental para a felicidade do ser humano.

Dar valor a ter passado mais um ano vivo. E com saúde.
Agradecer a Deus por ter comida à mesa todos os dias.
Por ter um lar e cobertas para proteger do frio.
Por ter os pais vivos e próximos.
Por chegar em casa e ser recebido por uma montanha de pelos, o melhor amigo do homem.
Por ter amigos, poucos e bons.
Por ter estudado, por ter uma profissão.
Por saber ler! Quantos não sabem?
Por ter força física para praticar exercícios.
E força mental para suportar quando as coisas não dão certo.
Por ter paciência, no trânsito e na vida.
Agradecer por acreditar em algo maior, independente de religião. Por crer que a vida não é só isso.
Por ter paz de espírito, ou estar em busca disso.
Tenho tantas coisas pra agradecer que certamente não me lembro de todas.

Às pequenas grandes coisas da vida, um brinde!

Feliz 2011!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

O essencial do amor

O namorado tinha ficado de ir à sua casa, mas ligou, avisando que um amigo com quem quase nunca encontrava o tinha chamado pra papear. Queria saber se ela, a amada, ficaria chateada se ele deixasse de vê-la naquele dia, que se veriam no dia seguinte. Ficou aliviado quando ela concordou, sem problemas.

Cena rara no cotidiano dos casais. E se fosse comigo? Por favor! Eu ficaria chateada se ele não saísse com o amigo!
Acredito que relacionamento é liberdade. É também muitas concessões pelo outro, desde que ceder não fira o livre arbítrio de cada um. Imagine só se eu ia querer que o homem que eu amo fosse me encontrar, sabendo que a vontade dele era de, naquele momento, estar com o amigo! Estranho é quando se vive em função do outro, deixando de lado as próprias escolhas.

O que não falta é casal que brigaria por esse motivo. Ela diria que ele prefere o amigo ao namoro. Ele se defenderia, dizendo que estão sempre juntos, e que com o amigo é vez por outra. Por fim, para evitar maior aborrecimento, ele diria não ao amigo e iria à casa dela, e brigariam por um motivo outro qualquer, afinal, não era ali que ele queria estar naquele momento.

É um tal de mandar e desmandar no outro que eu não entendo. Fala-se muito sobre a necessidade de ceder nos relacionamentos, e muito pouco sobre a liberdade que cada um tem, deveria ter, precisa ter. Ninguém é dono de ninguém, e o fato de cada um poder fazer o que bem entende é excelente para nos lembrar de que a conquista mútua deve ser constante, diária.

Quem acha que só porque conquistou, tá conquistado, é meu e ninguém tasca, e por isso evita o risco, ou seja, não quer que o outro saia com os amigos, que viva sua vida, achando que dessa forma está mais seguro, engana-se. A necessidade de aprisionar o que se ama é falta de amor próprio. É sendo livre que podemos fazer as melhores coisas da vida, entre elas, amar e ser amado.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O que será do amanhã

No Jornal Nacional, a Fátima Bernardes perguntou ao governador Sérgio Cabral se os cariocas podem esperar que amanhã seja um dia melhor e mais tranqüilo do que foi hoje. Ele não afirmou nem que sim, nem que não, claro. Ninguém pode prever.

Nos últimos dias, a população do Rio sai de casa sem saber o que esperar. Mas sempre foi assim. Só que com os ataques mais recentes, o medo fica mais latente. Eu mesma, que não sou de me apavorar, hoje tive medo. Desmarquei compromissos. Voltei pra casa mais cedo. E no caminho de volta, ouvindo as notícias pelo rádio, chorei. Chorei muito, choro que misturava agonia e tristeza.

Quando será que isso vai acabar? E se vai?

Estava claro que essa guerra ia estourar em algum momento. O fato de termos alguns momentos mais calmos no Rio nunca significou que a cidade estava em paz. Só que como ninguém tomava uma atitude, a coisa não melhorava, mas também não piorava. Os bandidos nunca se sentiram ameaçados. E assim íamos vivendo, como se não fosse com a gente.

Agora, é diferente. As UPPs tiraram os criminosos do morro, mas não se pensou no que fazer com eles. E se fossem presos, também não sei se ia melhorar alguma coisa. Desde quando alguém consegue sair regenerado de cadeia no Brasil?

Eu acredito que a situação possa melhorar. Acredito mesmo. Mas o que precisará acontecer para chegarmos lá, me faz tremer. E temer.

Que Deus nos proteja! É o que nos resta.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ser ou não ser, eis a questão – ou sobre como questionar é preciso

Na foto: O Pensador, de Rodin

Não há um dia que passe que eu não veja surgir, em algum momento, um papo sobre insatisfação profissional. Alguém que converse comigo, amigos que papeiem ao meu lado, revistas que discorrem sobre o tema. Insatisfação minha, sua, nossa.

Insatisfação de vestibulandos que não sabem que curso escolher na faculdade. De estagiários que se sentem explorados na empresa em que, supostamente, estão para aprender, mas não aprendem. Pessoas em início de carreira que não sabem que rumo tomar. Gente com anos de experiência que se questiona se tomou o rumo certo. Em qualquer etapa da vida, todos estamos sujeitos a essa dúvida.

Creio que isso só não acontece com quem não faz o exercício de olhar pra própria vida e refletir sobre ela. Só não acontece com quem se acomoda numa vidinha mais ou menos, que não lhe dá nenhuma satisfação, mas também não lhe desagrada. Então, pra que mudar, não é mesmo?

Precisa ter coragem um executivo que passa a vida toda fazendo a mesma coisa para, só no fim da carreira, perceber que desperdiçou seu tempo em algo que não lhe acrescentou nada como ser humano. Coragem para manter a vida na mesmice ou coragem pra mudar de rumo?

Recentemente li em uma revista a história de um alto executivo de uma multinacional, que ganhava em torno de R$ 100 mil de salário e tinha bônus altíssimos, e que aos 50 anos decidiu largar o emprego estável para se dedicar à plantação de vegetais sem agrotóxicos no interior de São Paulo. Na reportagem, ele conta que foi duramente criticado: por seus colegas de trabalho, por profissionais do mercado que julgavam que ele tinha o cargo dos sonhos, por sua família, que estava acostumada a não vê-lo questionar o que já vinha fazendo há trinta anos. De repente, ele se questionou. Nunca é tarde. Mas o diferente sempre causa estranheza.

Perguntado sobre o real motivo de sua decisão, o antes executivo disse que simplesmente nunca tinha se questionado sobre sua vida, sobre o que realmente importava para ele. Disse que depois de dedicar trinta anos de sua vida a uma empresa, percebeu que neste mesmo período não havia dedicado tempo igualmente significativo à sua família, à sua saúde, à prática de esportes, ao lazer. Enfim, ao que realmente importava. Ele achava tão normal sua rotina de 12 horas de trabalho diário, em média, achava comum ver tão pouco sua esposa e seus filhos, que simplesmente não questionava nada disso. Quando o fez, não conseguiu encontrar uma opção meio termo, tomou tanto horror por sua vida até ali que só enxergou a possibilidade de largar tudo e começar nova vida.

É claro que não é necessário ser radical. Nem sempre temos somente uma saída. Ao contrário, às vezes há tantas opções que o problema é justamente a falta de foco. Seja como for, questionar é preciso. É fundamental.

Quando vejo à minha volta tanta gente incomodada com a vida que leva, não consigo achar isso tão ruim quanto a maioria pensa. Ruim é se acomodar. É claro que aflige um pouco quando a gente não sabe que rumo tomar na vida profissional, ou em qualquer outro segmento. Mas tão ruim quanto isso é não questionar, nunca, o modo como você vive. Quem se incomoda com o rumo que a vida tomou, ou que ainda não tomou, pelo menos está vivendo de verdade, e não apenas existindo.

Em tempo: o ex executivo da reportagem diz que em sua horta, é a primeira vez que se sente fazendo algo que realmente tem um propósito. E que não podia estar mais feliz.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Voto (in)consciente

Sempre achei que nós, eleitores, temos a obrigação de votar consciente. Nunca votei por votar e não anulo voto de jeito nenhum. Entretanto, nunca tinha me motivado a pesquisar a fundo sobre candidatos. Mas está cada vez mais fácil se informar: a Veja tem prestado um excelente serviço à população, a exemplo do que a ONG Transparência Brasil já faz há algum tempo, mas poucos sabem.

Nessas eleições, resolvi exercer a fundo o meu direito de cidadã e assistir aos programas eleitorais (mesmo que não determinem nada), entrar em sites de candidatos para ler suas propostas, discutir sobre política, pesquisar a ficha dos que tentam se reeleger. No embalo, estou assistindo aos debates com maior empolgação e, principalmente, visão crítica. Ainda bem!

O último debate com os principais candidatos ao governo do estado do Rio de Janeiro acabou agorinha. Ao longo dos quatro blocos do programa, constatei algumas coisas. Cabral, o favorito, definitivamente é um político sabonete. Sabe aproveitar sua posição de bom orador para escorregar de simplesmente todas as perguntas relevantes que lhe são feitas.

Mesmo de terno, que nada tem a ver com seu jeito de se vestir, Gabeira imprimiu seu mau gosto em sua gravata: o que é isso, companheiro? Talvez tenha se sentido tão mal dentro da roupa que, desta vez, mal se posicionou no debate.

O destaque da noite, na minha opinião, foi o candidato Peregrino... o que é o Peregrino? Não parou de falar da casa do Cabral, me deixando com a sensação de que ele tem uma enorme dor de cotovelo por nunca ter sido convidado para ir até lá. Derrubou copo, atacou o Cabral – o que talvez tenha sido a grande vantagem de tê-lo entre os três a serem ouvidos. Mas doeu ouvi-lo dizer, por várias vezes, que a mansão do Cabral foi “resistrada"... por um minuto achei que já era quinta-feira, dia do debate com os candidatos à presidência, e que a Dilma estava discursando. Ui!

O golpe final foi o tom de “puxão de orelhas da mamãe no filhinho” que o Peregrino usou em relação ao Cabral. "Olha, Cabralzinho, isso não se faz, hein? Coisa feia!". Sim, o Cabral faz muitas coisas feias. Mas é um excelente orador, e para muitos eleitores isso basta. Infelizmente. No fim, nenhum candidato falou concretamente de suas propostas. Os eleitores perdem.

Mas perde mais quem nem se dá ao trabalho de assistir a um debate para formar sua opinião. O que mais me chamou a atenção hoje não foi o discurso dos candidatos. Enquanto eu trocava ideias sobre o debate com alguns poucos amigos com o mínimo de consciência política, a maioria esmagadora do meu facebook falava sobre a estreia do reality show “A Fazenda”, na Record.

Devemos respeitar todos os gostos, e concordo que a política nos faz rir também, mas se no último debate pra governador do Rio as pessoas dão preferência a um reality show que nem famosos tem, é porque a coisa está realmente feia. Provavelmente, essas são as mesmas pessoas que dizem que vão anular seu voto, “porque nenhum candidato presta mesmo”.

De fato, cada povo tem o governo que merece.


Pesquise sobre os candidatos em
www.transparencia.org.br