por Maria Carolina Medeiros
Sempre achei que tudo o que é radical na vida, não pode fazer bem. Ir de um extremo ao outro indica mais revolta do que mudança de hábitos. E todas as vezes que fico sabendo de alguém que mudou completamente, que parece ter virado outra pessoa, me pergunto: será possível?
Religião é um assunto polêmico, eu sei. E não quero entrar nos méritos das vantagens e desvantagens de cada uma: crença é crença, não há o que discutir. Acho legal ter fé, freqüentar um espaço que traga boas sensações a quem lá está. O que eu acho discrepante é quando pessoas que viviam em um extremo – saíam pra farra todos os dias sem exceção, caíam de porre, trocavam de namorado como quem troca de roupa – se tornam praticamente virgens intocáveis. Não brincam mais, não tomam um chopp com os amigos, só namoram se for pra casar. Se a vida não era saudável antes, será que ficou depois?
Quase ninguém está satisfeito com o corpo que tem. E mais do que emagrecer ou ganhar massa, normalmente as pessoas desejam mudanças que só seriam possíveis se nascessem de novo, já que estão relacionadas ao seu biotipo. É melhor ser anoréxica ou obesa? Nesse caso, o melhor é o equilíbrio. Os dois extremos não são legais e não devem ser idealizados por alguém que esteja com a sanidade mental em dia.
Beber demais ou não tomar nem uma taça de vinho; comer exageradamente ou sair pra jantar e só beber água; sentir-se na obrigação de casar virgem ou namorar toda a torcida do Flamengo. Tomar uma decisão completamente impensada. Pensar demais. Não sentir ciúmes. Ser ciumento demais. O exagero, definitivamente, não compensa.
Entretanto, o extremo funciona em algumas situações. Tem momentos em que é preciso se posicionar, tomar partido de alguém, defender um amigo de uma injustiça, aborrecer outro com a verdade que ele não queria escutar, ser radical com pessoas nocivas. Não dá pra ficar sempre no meio termo.
Quem responde perguntas com outras perguntas, não terá as respostas que procura. Pessoas que vivem em cima do muro nunca conhecem nenhum dos dois lados por não terem coragem de fazer uma opção. Clarice Lispector dizia: “Minhas alegrias são intensas, minhas tristezas, absolutas. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos”.
Seja equilibrado, mas seja você.