quinta-feira, 29 de maio de 2008

Na bebida e na paixão, qual é a dose certa?

publicado em 26.05.08 em www.sacoleirachic.com.br

No dia seguinte a uma noitada com as amigas, por vezes regada a algumas doses a mais, é comum que a gente se pergunte: “por que bebi tanto?”. A interrogação só não é repetida mais vezes porque a cabeça dói só de pensar. Em geral a pergunta vem acompanhada de uma baita ressaca e de outra frase típica: “nunca mais eu bebo!”.

Pode parecer paradoxal, mas comecei a pensar que é assim que acontece também nos relacionamentos amorosos. Depois de uma noite irresistível, recheada de histórias que rendem a semana inteira, lá vêm eles: questionamentos sobre a noite passada, inerentes a toda mulher. Quando não estamos envolvidas, as dúvidas costumam vir menos à tona – a menos que você seja uma daquelas neuróticas que sempre, SEMPRE, acha que o cara não vai NUNCA querer nada com você. Mas quando se trata de seres normais, a tendência é aproveitar enquanto está bom pros dois lados. Até que a gente começa a se envolver. Aí, ferrou! A cabeça pára de pensar, tudo parece um risco maior. E que risco! A dúvida é sempre a mesma: na bebida e no amor, qual é a dose certa?

A dose certa é sempre relativa, depende de algumas (muitas) variáveis. Na noitada, depende se você tem hábito de beber, se mistura ou não drinques diferentes, se quer “enfiar o pé na jaca” (alguém faz isso conscientemente?) ou apenas “ficar no grau”. E no amor? Bem, no amor a dose certa também depende do “grau” que, nesse caso, é o grau de envolvimento.

Enquanto algumas mulheres vivem em busca do carinha perfeito (e não vão encontrar nunca), tem quem comemore quando tem um “date” ruim. Não estou certa se há estatísticas no IBGE, mas se o encontro da noite anterior tiver sido horrível, ufa!, pelo menos é um indício de que não vem envolvimento por aí. Parece loucura? E é. A verdade é que se envolver dá medo.

Alguns diriam que é medo de curtir, de amar, quem sabe por que “você acha que não merece ser feliz”. Há dezenas de frases feitas para responder a essa pergunta e, na minha opinião, uma só resposta que parece mais plausível: é medo de se apaixonar, de sentir aquela paixão que a gente pensa que vai morrer se não estiver junto, que dá frio na barriga e traz junto sentimentos inexplicáveis, além de um mar de incertezas.

Certa vez ouvi dizer que devemos escolher entre levar a vida buscando o prazer ou evitando o desprazer. Não há certo nem errado, é uma questão de opção. Ando pensando a beça nisso, e não só em relação à paixão; em tudo na vida cabe nos perguntarmos qual é a nossa opção e em qual dose ela virá.

Tem quem prefira evitar o desprazer. Isso não significa não ter relacionamentos sérios, necessariamente. A gente até acha que se envolve (e talvez se envolva mesmo), namora aqui e acolá pensando que vai morrer de tanto amor. Até que não morre, mas a paixão morre sozinha. Quando a gente pára pra olhar, sumiu sem que percebêssemos.

Não tenho qualificação para falar dos sentimentos dos outros, ainda mais quando se trata de algo complexo como a paixão. Mas acredito que prazer e desprazer se fundem e se confundem todo o tempo. A gente acha que se entrega mas, muitas vezes, só se permite sentir uma paixão da qual damos conta, que podemos controlar. Se não, nada feito.

E assim, sempre sob nosso controle, a paixão fica ali, quietinha, sem poder se mover sem autorização prévia, que nunca vem. Então ela não sai do controle, imagine que ousadia se saísse!, e aí nada de virar a cabeça, nada de frio na barriga, e ainda nos surpreendemos quando ela se esvai sem deixar nada além do questionamento: onde foi parar todo aquele sentimento?

Nós, seres humanos, somos complexos por natureza (e que nenhum homem venha dizer que só as mulheres são complicadas, porque tenho provas). Não é raro alguém desejar o prazer, mas ter tanto receio de viver algo que não possa controlar que, na prática, vive evitando o desprazer. Desprazer de correr o risco de levar um pé na bunda, de se frustrar, de alguém se desinteressar da gente antes que nós o façamos. De não poder ser seguro o tempo todo, de não ter garantias de que vai dar certo.

Não há nada de ilícito em evitar o desprazer. Ocorre que isso faz com que a gente cave nossa própria cova ou, ao menos, a cova dos relacionamentos. A gente se esquece de que ter tudo sob controle significa não permitir que o sentimento extrapole nosso lado racional, mas significa também induzi-lo ao caminho contrário e esperar, apáticos, que a paixão mingüe, quietinha, até se dissipar no ar como fumaça. Puf!

Como tudo na vida, precisamos fazer uma opção nas relações que vivemos. Buscar o prazer não significa necessariamente viver loucas e tórridas paixões sem medir conseqüências nem pensar no dia de amanhã. Mas significa que, para provarmos o gosto das coisas boas da vida, temos que correr o risco de experimentar. A graça da vida está exatamente em não saber o que nos espera. Se não, fica tudo sob controle e esse filme, tenho certeza, muitos de nós já viram.

Não estranhem quando perceberem que, na busca pelo prazer, provamos coisas boas e, às vezes, descobrimos que elas podem ser melhores do que a gente imaginava. Também podem ser amargas, podem causar dor, mas precisamos confiar na nossa capacidade de sair de uma furada, quando for o caso. Aliás, será que dá pra entrar em furada maior do que viver no meio-termo, no “mais ou menos”, por medo de arriscar?

Claro que ninguém tem essa resposta, muito menos eu. Se fosse fácil, eu teria escrito o final de uma vez. Mas uma coisa eu aprendi e recomendo que vocês tentem: nos percalços da busca pelo prazer, podemos descobrir que a vida é bem melhor quando é vivida.

Pare o mundo que eu quero descer!

publicado em 19.05.08 em www.sacoleirachic.com.br


Que o dia-a-dia de todos nós é cada vez mais corrido, todo mundo sabe. Que falta tempo para conciliar todas as atividades, não é segredo para ninguém. O que me assusta nessa vida louca que tomou conta do cotidiano da maioria dos humanos é que virou normal a gente não ter tempo pra se divertir, pra parar pra pensar na vida, pra relaxar ou seja lá pra fazer o que for que nos dê prazer.

Parece absurdo, mas tem muita gente por aí que só falta se vangloriar de dizer que “não tiro férias há anos”. Peraí, o que tem de vantajoso nisso? A cultura capitalista (nada contra, mas temos que ser críticos) incutida na mentalidade de quem quer/precisa ganhar dinheiro (afinal, ele não traz felicidade, mas ajuda) faz com que a gente só falte morrer de vergonha quando pode curtir uma prainha durante a semana, ler um livro ou simplesmente não fazer nada. Pára o mundo que eu quero descer!

O dinamismo do mercado de trabalho nos faz sentir ameaçados, prestes a sermos substituídos a qualquer momento se não formos eficazes o tempo todo. Ok, faz parte do jogo, mas quem agüenta viver sob essa pressão? A coisa já está tão doida que eu, que trabalho (e muito!) com meus textos em casa cheguei a ficar na dúvida se era realmente privilégio ter horários flexíveis - o que significa malhar de manhã, trabalhar, escrever enquanto faço as unhas, almoçar tranquilamente – enquanto a maioria dos mortais rala de 8 às 18 num escritório sem parar pra beber água. Por um tempo, algo me dizia que errada devia ser eu que “ousei” andar na contramão da loucura que se tornaram os dias de quem tem trabalhos “convencionais”.

Outro exemplo da ansiedade que tomou conta de nós é o celular. É útil, sim, mas considero esse aparelhinho um mal necessário, e só. Gente, vejo as pessoas caminhando na praia falando ao celular e penso: “como assim?”! Sei de pessoas que saem no meio da aula de yôga, onde supostamente se vai pra relaxar, quando o celular toca. E podem acreditar que, na maioria das vezes, não se trata de nenhum assunto urgentíssimo, mas nós achamos que tudo é urgente sempre, até porque tendemos a cobrar isso dos outros. Quem nunca falou pra uma amiga que não atendeu ao celular algo do tipo “você não viu minha ligação? Por que não me retornou?”. Pai nosso! Será que tudo mudou tanto que passou a ser errado querer alguns minutos de sossego no dia, o que inclui ficar incomunicável?

Falando em sossego, há quem o busque em atividades como pilates e yôga, como comentei antes. É o meu caso, inclusive. Acho totalmente legítimo, desde que as aulas sirvam como “base” para praticarmos a desaceleração ao longo do dia, mesmo contra a vontade do mundo. Uma amiga comentou que o boom dessas atividades se deve ao fato de que as pessoas precisam ter uma hora previamente marcada em seu dia para se lembrarem de respirar um pouco. Ela tem razão. Até porque relaxar nas outras 23 horas do dia, nem pensar.

Lembro-me de ter participado de uma concorrência em uma empresa e uma das candidatas me disse que topava qualquer cargo porque, para ela, “a prioridade naquele momento era ganhar dinheiro, ser feliz ficava pra depois”. Fiquei chocada. Quando começamos a nos sentir culpados em sermos felizes?

O problema é que quando “resolvermos” que é hora de aproveitar as coisas boas da vida elas podem nem ter mais graça, afinal, tudo tem seu tempo. Os filhos crescem e muitas mães não vêem porque estavam no celular quando podiam ter caminhado na praia. O corpo reclama e pode ser tarde para curar uma doença porque, em vez de cuidarmos da gente, saímos correndo da aula de yôga por um motivo que nem era tão urgente assim. Temos receio de tirar férias e isso nos custar substituição no emprego, então trabalhamos infelizes e mal-humorados, tentando acreditar que há algo de louvável em não descansar nunca.

Pode ser que a gente não se permita fazer nada disso e pife, pife mesmo, e só assim vamos entender que se divertir não é pecado, que trabalho é ganhar dinheiro mas é também realização, e que se a gente não se cuidar, o mundo nos engole e a gente nem percebe.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Banheiro feminino e o dilema da bolsa-carteira

publicado em 12.05.08 em www.sacoleirachic.com.br

Quando fui convidada para escrever uma coluna no SacoleiraChic, fiquei pensando no que dizer às mulheres antenadas com a moda que vão buscar peças descoladas por um preço acessível no site. Foi então que, confirmando a teoria de que as coisas acontecem quando a gente menos espera, tive um insight.

Dia desses fui a um restaurante chique em um hotel em Copacabana. Menu delicioso, pessoas elegantes, boa música. Até que resolvi ir ao toalete, aparentemente impecável, e na hora de apoiar minha bolsa tipo carteira... cadê?!

É verdade que a maioria dos banheiros femininos já conta com um gancho para pendurarmos nossas bolsas. Eles só se esquecem de que a moda é dinâmica, e algo que me diz que alguém dentro desses lugares freqüentados por mulheres (ou seja, quase todos) devia ficar atento a isso. Ora, se nós, mulheres elegantes, temos usado bolsas tipo carteira, sem alças, não é dever dos locais que freqüentamos se adequarem e solucionarem nosso problema? A questão de vida ou (quase) morte é: onde apoiar bolsas-carteiras no banheiro feminino?

A cena vocês já podem imaginar: eu, com minha linda carteira prata, me dividindo entre as difíceis tarefas de segurá-la enquanto faço pipi. Seria cômico se não fosse trágico! E todo aquele papo de atender bem ao cliente? No caso de restaurantes, atender bem significa apenas oferecer bons pratos e bom atendimento? Ou estabelecimentos deviam se lembrar de ir mais além e questionar o que, de fato, importa para seus clientes?

Resolvida a questão ao meu modo, saí do toalete pensando nisso e dividi o acontecimento com algumas mulheres que estavam à mesa. E foi assim que descobri que quase toda mulher sofre desse mal! Como se não bastasse depilação, conciliar vida profissional e pessoal (no caso de algumas, marido e filhos, o que complica muuuuuito a vida e torna a questão da bolsa-carteira quase existencial), menstruação, ter de manter unhas e cabelos impecáveis, ser magra, ter cabelos lisos, ser inteligente e andar bem-vestida, agora também temos que nos virar para segurar bolsas lindas de morrer, mas que são pouco funcionais, nas quais não cabe praticamente nada. E quando temos que guardar os pertences de terceiros? Haja paciência!

Está na hora de banheiros femininos darem um help para a complexidade feminina. Afinal, não é justo se apenas nós, mulheres, tivermos que andar na moda.