09.03.09
É Carnaval em Salvador! E são os dias mais felizes do meu ano inteiro. Bem que eu tento reproduzir essa alegria em outros eventos ao longo do ano, mas é impossível comparar. Por que? A jornalista Adriana Setti, que pelo visto nem é tão micareteira mas se rendeu a um carnaval na Bahia, explica brilhantemente no texto abaixo.
Na foto: parte da turma SSA 2009 no 1o dia de Nana Banana, felizes como nunca!
TIRA O PÉ DO CHÃO! É muvuca. É bagunça. É barulho. É calor. E é bom demais!
Por Adriana Setti, Matéria publicada na revista Viagem e Turismo de 01/02/2006
Não foram poucas as vezes em que fui bombardeada por carnacéticos - aqueles que acham que esses dias de fevereiro são apenas um feriado qualquer - com questões do tipo “Como você se diverte enquanto é esmagada por milhões de pessoas sob um sol de 40 graus?”, “Quem pode gostar de músicas que rimam calor com Salvador e lê-lê-lê com iô-iô-iô?”, “Por que pagar tão caro só para usar uma camiseta espalhafatosa e, ainda por cima, estar cercada por uma corda junto com mais milhares de cretinos vestidos igual a você?”. Confesso. É tudo verdade. Mas há algo no Carnaval de Salvador que emociona, contagia, faz a vida parecer maravilhosa e, finalmente, vicia.
O difícil é conseguir que um cérebro racional entenda o mecanismo que faz com que pessoas aparentemente normais passem, de uma hora pra outra, a planejar o próximo Carnaval ainda sob o efeito da ressaca na Quarta-Feira de Cinzas e, em casos mais graves, a freqüentar micaretas até no sertão de Pernambuco para aliviar as crises de abstinência. Há quem diga que esse comportamento obsessivo pode ter algo a ver com a tal “magia da Bahia” ou, de repente, com alguma misteriosa substância presente na composição da alfazema borrifada pelos Filhos de Gandhi. Nada disso.
O grande barato é a esbórnia nua e crua, sem maiores misticismos. Ainda não inventaram uma balada tão insana como o Carnaval de Salvador. Ali, uísque e vodca fazem parte do café da manhã, beija-se loucamente o primeiro ser minimamente atraente com que se cruze um olhar por mais de meio segundo, amores eternos de cinco minutos surgem a cada esquina, queima-se o filme sem maiores conseqüências e pulam-se 20 horas diárias sem que o cansaço dê as caras. Dormir está fora de cogitação. Quando o bloco cumpre seu trajeto, é hora de esticar em algum camarote ou tentar sobreviver na pipoca para ver os outros trios. Como dizem os baianos, “se não güenta, por que veio?”.
Fui atrás do trio elétrico do InterAsa pela primeira vez em 1998. Comandado pela banda Asa de Águia, o bloco era, na época, o preferido de paulistas, cariocas e baianos à caça de beldades. Para desespero de minha epiderme báltica, a farra começava ao meio-dia, sob um sol que me transformou em pimentão lustroso em dois minutos. No maior espírito de “uma vez no inferno abrace (e beije) o diabo”, fingi que aquele calor hediondo não era comigo e canalizei todos os meus esforços para embalar meu esqueleto robocóptico ao ritmo de Dança da Manivela, a pérola do ano.
Não sei em que momento exato meu carnaceticismo se esvaiu em suor e cerveja. Mas, quando dei por mim, estava chorando de emoção em plena Praça Castro Alves, achando tudo lindo e desejando “que essa fantasia fosse eterna”, como diz o jurássico hit Baianidade Nagô (aquela que começa com “Já pintou verão, calor no coração”…).
Minha expertise carnavalesca, no entanto, só foi atingida dois anos (e dois carnavais, dois carnasampas, dois carnabeirões) mais tarde, quando por ironia do destino me mudei para Salvador. Julgando-me preparada física e psicologicamente, fui valente o suficiente para sair no bloco Camaleão, comandado pela banda Chiclete com Banana, de Bell Marques. Quem não transita pelo mundo dos abadás não tem idéia do poder desse barbudo. Com seu eterno lencinho na cabeça, ele já estava em cima de um trio (com a mesma barba e o mesmo lencinho) quando eu ainda freqüentava os bailinhos de Carnaval na matinê do Clube Paulistano vestida de colombina.
Bell pode não ter o sex appeal de uma Ivete Sangalo nem a fama internacional de um Carlinhos Brown, mas é o verdadeiro rei da Bahia (com o perdão de ACM). A primeira vez que o Camaleão cruza o nosso caminho a gente nunca esquece. A quarteirões de distância ouve-se um ruído grave, algo parecido com um trovão. Em seguida, a maré humana recua e desaparece por alguns minutos para em seguida voltar em êxtase, arrastando tudo o que estiver pela frente. A pipoca pula mais que nunca e espreme os membros do bloco até que três corpos ocupem o mesmo lugar no espaço. Alguns choram, outros gritam. Um verdadeiro delírio coletivo capaz de fazer qualquer carnacético tirar os pés do chão e morder a própria língua.
Por Adriana Setti, Matéria publicada na revista Viagem e Turismo de 01/02/2006
Não foram poucas as vezes em que fui bombardeada por carnacéticos - aqueles que acham que esses dias de fevereiro são apenas um feriado qualquer - com questões do tipo “Como você se diverte enquanto é esmagada por milhões de pessoas sob um sol de 40 graus?”, “Quem pode gostar de músicas que rimam calor com Salvador e lê-lê-lê com iô-iô-iô?”, “Por que pagar tão caro só para usar uma camiseta espalhafatosa e, ainda por cima, estar cercada por uma corda junto com mais milhares de cretinos vestidos igual a você?”. Confesso. É tudo verdade. Mas há algo no Carnaval de Salvador que emociona, contagia, faz a vida parecer maravilhosa e, finalmente, vicia.
O difícil é conseguir que um cérebro racional entenda o mecanismo que faz com que pessoas aparentemente normais passem, de uma hora pra outra, a planejar o próximo Carnaval ainda sob o efeito da ressaca na Quarta-Feira de Cinzas e, em casos mais graves, a freqüentar micaretas até no sertão de Pernambuco para aliviar as crises de abstinência. Há quem diga que esse comportamento obsessivo pode ter algo a ver com a tal “magia da Bahia” ou, de repente, com alguma misteriosa substância presente na composição da alfazema borrifada pelos Filhos de Gandhi. Nada disso.
O grande barato é a esbórnia nua e crua, sem maiores misticismos. Ainda não inventaram uma balada tão insana como o Carnaval de Salvador. Ali, uísque e vodca fazem parte do café da manhã, beija-se loucamente o primeiro ser minimamente atraente com que se cruze um olhar por mais de meio segundo, amores eternos de cinco minutos surgem a cada esquina, queima-se o filme sem maiores conseqüências e pulam-se 20 horas diárias sem que o cansaço dê as caras. Dormir está fora de cogitação. Quando o bloco cumpre seu trajeto, é hora de esticar em algum camarote ou tentar sobreviver na pipoca para ver os outros trios. Como dizem os baianos, “se não güenta, por que veio?”.
Fui atrás do trio elétrico do InterAsa pela primeira vez em 1998. Comandado pela banda Asa de Águia, o bloco era, na época, o preferido de paulistas, cariocas e baianos à caça de beldades. Para desespero de minha epiderme báltica, a farra começava ao meio-dia, sob um sol que me transformou em pimentão lustroso em dois minutos. No maior espírito de “uma vez no inferno abrace (e beije) o diabo”, fingi que aquele calor hediondo não era comigo e canalizei todos os meus esforços para embalar meu esqueleto robocóptico ao ritmo de Dança da Manivela, a pérola do ano.
Não sei em que momento exato meu carnaceticismo se esvaiu em suor e cerveja. Mas, quando dei por mim, estava chorando de emoção em plena Praça Castro Alves, achando tudo lindo e desejando “que essa fantasia fosse eterna”, como diz o jurássico hit Baianidade Nagô (aquela que começa com “Já pintou verão, calor no coração”…).
Minha expertise carnavalesca, no entanto, só foi atingida dois anos (e dois carnavais, dois carnasampas, dois carnabeirões) mais tarde, quando por ironia do destino me mudei para Salvador. Julgando-me preparada física e psicologicamente, fui valente o suficiente para sair no bloco Camaleão, comandado pela banda Chiclete com Banana, de Bell Marques. Quem não transita pelo mundo dos abadás não tem idéia do poder desse barbudo. Com seu eterno lencinho na cabeça, ele já estava em cima de um trio (com a mesma barba e o mesmo lencinho) quando eu ainda freqüentava os bailinhos de Carnaval na matinê do Clube Paulistano vestida de colombina.
Bell pode não ter o sex appeal de uma Ivete Sangalo nem a fama internacional de um Carlinhos Brown, mas é o verdadeiro rei da Bahia (com o perdão de ACM). A primeira vez que o Camaleão cruza o nosso caminho a gente nunca esquece. A quarteirões de distância ouve-se um ruído grave, algo parecido com um trovão. Em seguida, a maré humana recua e desaparece por alguns minutos para em seguida voltar em êxtase, arrastando tudo o que estiver pela frente. A pipoca pula mais que nunca e espreme os membros do bloco até que três corpos ocupem o mesmo lugar no espaço. Alguns choram, outros gritam. Um verdadeiro delírio coletivo capaz de fazer qualquer carnacético tirar os pés do chão e morder a própria língua.
2 comentários:
"... meu bem naquele ano eu me tornei camaleão..."
Simplesmente sensacional!
O q dizer mais de SSA? N sei!
Só consigo pensar nas músicas..
E nunca mais vai me deixar ôôô...
Eu fui atrás do caminhão...
Carol,
vou confessar q esse ano tentei passar carnaval fora d SSA p tentar vida diferente, mas n tem como, foi legal pelo grupo, mas nada é igual, é único!
Como sempre diz Bellzinho..
"Foi por esse amor
Teu corpo é tudo que brilha
É a única ilha no oceano
Do meu desejo
Foi por esse amor
Tão bela flor de laranjeira
Teu corpo é tudo o que cheira
Ah, ah, ah...
Oh, oh!
Ah, ah, ah...
Oh, oh, oh, oh, oh!"
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