02.12.08 - por Carol Medeiros
Do número viemos, e aos números retornaremos. Quantos anos você tem? Quanto você ganha? Quantas pessoas têm na sua família? RG, CPF, passaporte... no fim das contas, somos todos números?!
Lembro-me claramente de uma época no colégio em que cada aluno tinha seu número na chamada e a professora, para ganhar tempo, nos chamava por ele, em vez de pelo nome.
No banco, nos identificam pelo número da conta e senha. Em seguida, somos segmentados pelos números que aparecem no nosso extrato.
Quando viajamos, somos o número do passaporte. Em boates, somos a numeração da cartela de consumo.
No dia-a-dia, somos passageiros do ônibus número tal ou identificados através do telefone cadastrado na empresa de taxi. Também podemos ser o número da carteira de habilitação. E se algo acontece com o carro, basta ligar para o seguro e... tcha-ram! Pedem um número, do contrato ou da placa do veículo.
Quando vou ao teatro e ao cinema, me identificam pelo número da carteirinha de estudante. No meu prédio, sou a Carol do 10º. Na maternidade, devia ser a menina que nasceu no dia 17. Ok, uma delas.
Isso porque tudo começou com um espermatozóide, unzinho só, que foi vitorioso e somou-se a um óvulo na mais incrível soma já vista, em que 1+1 teve resultado diferente de 2, e deu origem a mim, que concentro várias Carois em uma só (um dia conto a história do meu nascimento, é um barato!).
A gente cresce. Nos estudos, somos avaliados por freqüência e notas. No trabalho, somos pagos com base em algum número, seja produtividade, sejam horas trabalhadas (se você for empreendedor, a conta é bem mais complexa e, penso eu, mais saborosa).
Em geral, alguém é considerado mais experiente de acordo com o tempo que desempenhou uma função; mais culto em função do número de livros que leu e lugares que conheceu; mais simpático de acordo com o número de sorrisos que distribui gratuitamente.
Aí veio o orkut, onde somos mais ou menos populares de acordo com o número de amigos, fãs e depoimentos que temos, o que provoca um fenômeno: pessoas desesperam-se e adicionam desconhecidos. Vítimas desses estranhos, uni-vos!
Nos relacionamentos, números fazem tanta diferença que algumas pessoas nem deviam perguntá-los: quantos ex-namorados teve, quantidade de parceiros... tudo isso para, no meio de uma briga, um dos dois (com sorte de não serem ambos) jogar números na cara do outro: há dois meses você não me leva para jantar (=60 dias), nunca me deu flores (=0), se esquece dos aniversários de namoro (também, precisa comemorar todo mês?).
Para muitos casais é crucial o “momento conta”, especialmente nos primeiros encontros. Ele paga? Vocês dividem? Creio que é uma questão mais de postura do que de valores, mas... tudo acaba em números. Quando se trata de separação, aí é literal! Bens pra lá, pensão pra cá, mensalidades dos filhos acolá.
E até o que a gente não quantifica, contabiliza de alguma forma: namoramos caras com quem temos mais momentos bons do que ruins, consideramos como amigos aqueles que mais nos apóiam, solidificamos amizades com o passar dos anos.
Existem bem poucos – porém, sensacionais - momentos na vida que não podem ser mensurados. São aqueles em que a gente não sabe explicar o porquê, mas em vez de o relógio contar os minutos, o tempo pára por alguns instantes, contrariando todas as regras antes observadas.
São momentos em que a gente resolve aprender a praticar um esporte que sempre adorou, parar pra olhar a lua, ligar para alguém querido e se sentir próximo mesmo estando do outro lado da linha, dar risada com as amigas, abraçar quem a gente ama.
Estes instantes costumam ter uma característica peculiar: são paradoxais. Podem observar. Duram pouco, mas são lembrados pelo resto da vida; em geral, são protagonizados por uma, duas ou, no máximo, três pessoas juntas, mas conseguem preencher muito mais do que o Maracanã lotado; e quando palavras não se encaixam, faz-se um silêncio que diz muito.
Existem momentos na vida que não podem ser contabilizados e, por isso mesmo, valeriam bilhões, se tivessem preço.
5 comentários:
1, 2 ou 3 pessoas... hmmmmm..ja vivi isso... hehehehehe
te amo amigaaaaa... Parabéns pela milésima vez (oh.. viu... to quantificando!!!! hehehehe)
Ahhh... nao assinei..
Carol Krebs!!!!!
OIEEEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ADOREI O TEXTO!!!!!
Realmente é muito chato sermos somente um número em todos os registros...bons e maus.
BEIJÃOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!
Lúcia
Carol,
você dormiu tarde!!!!
Adorei o texto.
Beijos
nossa, um texto grande porém com uma coerência deliciosa, eu diria...
gostei demais do teu espaço, certamente voltarei.
'Carolina
Nos seus olhos tristes
Guarda tanto amor
O amor que já não existe...'
lindo.
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