segunda-feira, 2 de junho de 2008

O que você vai ser quando crescer?

publicado em 02.06.08 na coluna Versatilidade Chic - www.sacoleirachic.com.br

Por Carol Medeiros

Desde crianças somos perguntados: “o que você quer ser quando crescer?”. Nas redações da escola, nas festas de família, nos encontros com os amigos dos pais, todo mundo quer saber o que pensamos sobre o futuro. E assim vamos sendo treinados pra pensar no longo prazo, pra refletir sobre o que queremos pra nossa vida bem lá longe, quando “formos grandes”.

Curioso é perceber que não são poucas as pessoas que passam a vida inteira tentando, sem sucesso, responder a essa pergunta pra si próprio. E quem não consegue, em geral, se frustra. Tem aqueles pra quem a vida adulta nunca chega. Tem aqueles que crescem, se formam, se tornam profissionais competentes, bem-sucedidos aos olhos dos outros, e nem por isso acreditam ter achado a resposta para “o que vou ser quando crescer”. Outros se cobram tanto sobre o que vão ser que não vivem o presente, e o que é o futuro se não uma sucessão de fatos vividos aqui e agora?

Há também quem saiba o que quer ser desde criança. Esses, normalmente, são “utópicos” ou “cabeça-dura”. Raramente são vistos como seres determinados, que sabem o que querem desde sempre. É mais fácil acreditar que são pessoas que simplesmente não admitem mudar de idéia, que decidiram o que queriam fazer de suas vidas quando crianças e, portanto, não faz sentido manterem a mesma opinião depois de crescerem. Será mesmo que não?

Nos tempos de escola, me lembro que esse era um tema recorrente em redações. Em sala de aula, a resposta para “o que você quer ser quando crescer” costumava vir atrelada a objetivos profissionais. “Quero ser médico pra cuidar das pessoas”, dizia um. “Quero ser advogado como meu pai”, escrevia outro. Não me lembro de ter ouvido em algum dia na infância uma resposta que se parecesse com “quero ser bem resolvida, saudável, saber me relacionar com as pessoas, ser capaz de tomar decisões, saber apreciar um bom vinho, ler bons livros e conhecer o mundo”. Ok, uma criança não diria mesmo isso, mas se dissesse (com exceção do vinho, porque aí eu também me preocuparia), provavelmente seria repreendida pela professora que, partindo da falsa premissa de que “o aluno não entendeu”, explicaria que tipo de resposta era admissível para tal questionamento.

Dia desses, um professor da minha pós-graduação, bem longe dessa época de redações escolares, disse que devemos aprender a “enxergar além, quebrar paradigmas”. Ele usou como exemplo a figura de um vaso branco inserido em um fundo preto. Se olhássemos o fundo em vez de o vaso, víamos duas pessoas, mas é claro que a maioria viu primeiro o vaso, que é o óbvio, o que estamos treinados a ver.

Não sei não, mas acho que há alguma coisa paradoxal nisso tudo. Quando somos crianças faz-se de tudo para que não fujamos a nenhum padrão, sob pena de nos tornarmos adolescentes problemáticos, autistas ou, no mínimo, precoces. Depois que crescemos e, em razão de experiências como a das redações escolares, nos acostumamos a enxergar o que a maioria vê, vem a necessidade de “quebrar paradigmas”. Alguém pode me explicar de que jeito?

Num país onde algumas crianças perdem sua infância nas ruas ou em trabalhos escravos, outras perdem tempo em frente ao computador, literalmente cercadas dentro de condomínios, sob justificativa paterna de que “assim estão seguras”. Que estão relativamente protegidas da violência das cidades, até posso concordar. Mas essas crianças não estão protegidas contra coisas igualmente nocivas, como o conteúdo perturbador da internet e os absurdos da TV. Menos protegidas ainda elas estão de pais e professores que consideram como resposta ideal para “o que eu quero ser quando crescer” qualquer coisa que não fuja à regra, o que, por alguma razão, seria ruim.

O que eu vou ser quando crescer? Não sei. Vou tentar, experimentar, viver. Aí, descubro e venho contar.

10 comentários:

Anônimo disse...

Amiga,já estou me acostumando com seus textos semanais... Acho que pela convivência, ou talvez pela mesma fase da vida sempre me identifico, de certa forma, com pelo menos alguma coisinha...rsrsrs
É sempre um prazer ler todos e continue assim pq tenho certeza que quando vc crescer vai continuar com as mesmas dúvidas, mas com textos cada vez melhores e eu cada vez mais me enquadrando neles... rsrsrs
Beijos e saudades dessa amiga ocupada D+ ultimamente!!!
Stella

Alexandre Cadena disse...

Muito bom Carol. Foi o primeiro que li (até porque não sabia)e me animei em ler os outros.
No fundo, lá atrás, sabia que ia dar nisso e em muito mais.
Muito bom.
Bjs

Anônimo disse...

É Carol, como bem diz o Filtro Solar, as pessoas mais interessantes que muitos conhecem, ou que conhecemos ou que conheceremos ainda não sabem o que fazer da vida. Com seus 40 e poucos. Saber ser um(a) Bon Vivant é isso. Não quer dizer ser irresponsável. Podemos ser Bon Vivant nas duas situações, sabendo o que fazer aos 22 e ainda em dúvida aos 41. Complicamos demais as coisas.

Inclusive, se todos seguissem o resultado dos testes vocacionais, ia dar muito bigode! rsrsrs!!

Daqui a pouco estamos escrevendo um livro de crônicas.. juntos! rs!

Bjuuuuu!!!

Roger disse...

Oi Carol, tudo bem?
Adorei mais este texto, acho que me enquadro nas pessoas que acreditam que a vida é para ser vivida um dia de cada vez.
Beijo,

Unknown disse...

Amiga, primeiro quero parabenizá-la por todos os seus textos, tenho acompanhado e ficado encantada como vc consegue manter a doçura até no que escreve... Dá até pra ouvir sua voz ao ler suas palavras. Esse especialmente me chamou atenção porque pensava sobre isso esses dias. A gente passa a infância pensando no que vai ser quando crescer, e quando cresce acho que a maioria de nós daria tudo para voltar a ser criança... Pelo menos eu!!! Grande beijo e continue assim...

Anônimo disse...

Me desculpe pela demora em lhe retornar com o meu feedback rsrsrsrs, adorei essa sua coluna, queria fazer o comentário na primeira de muitas, e isso ai lindinha, vc é uma pessoa super competente, inteligente e dedicada tenho certeza que irá fazer muito sucesso!!!!

Parabéns e muito, muito sucesso para vc!!!

Bjs com carinho

Cintia

Anônimo disse...

Oi, Carol!
Parabéns pelos textos!
Tenho lido e gostado muito. O último, enviei para amigas q também gostaram.
Sucesso! bjs
Maria Inês

Anônimo disse...

Oi Carol!

Amei! Agora sou sua leitora assídua!
Parabéns!
bjsss

Karina Craveiro

Anônimo disse...

Querida Filha Carol,
Gostei muito do seu texto (mais um). Continue crescendo ainda que se dizendo em dúvida. Realmente estou curtindo seus escritos e meu orgulho de Paizão. Beijos.

Anônimo disse...

Carol,

Li seu artigo, por sinal muito bem escrito, e vi que você não precisa ficar pensando no que vai ser quando crescer; você “já é”, como diria minha filha. Você tem valores claros, atitudes. Seus espaços você já sabe como ocupar.

Bjs

Pitombo