Não acredito que tudo mude só com a passagem de ano, então desejo a todos os meus leitores que 2009 seja a motivação para a mudança que cada um deseja!
Beijos!
Precisa de definição? Vinho com batata reúne coisas gostosas que nem sempre se combinam, só pra provar que gosto é relativo. É a união do simples com bom gosto sem ser unânime, porque nada é. É uma mistureba com toque de humor, enfim, é o reflexo do que vivo, vejo, ouço, leio, penso. Logo, escrevo.
04.09.08 - por Carol Medeiros
Em meu último texto, escrevi sobre saudades. Por uma ironia do destino, dessas que ninguém explica, logo depois recebi uma notícia que me deixou estarrecida e que, infelizmente, está longe de ser um fato isolado no meu círculo de amigos. Um ex-colega de escola, não muito próximo, mas a quem eu queria bem, faleceu. Além da tristeza pela perda, o que mais me choca nessas horas é ver esfregado na minha cara, sem a menor cerimônia e da pior forma possível, o quanto a vida é banal. De fato, pra morrer, basta estar vivo.
Na semana passada, encontrei com um amigo em uma boate. No dia seguinte, soube que ele havia batido de carro, e que quando saiu do veículo pra posicionar o triângulo de sinalização, foi atropelado. Sofreu algumas fraturas graves, ainda está internado, mas a morte está tão escancarada na nossa frente que o fato de ele estar vivo faz com que eu respire aliviada e diga que “não aconteceu nada com ele”.
Eis que uma semana após o acidente, este outro conhecido, dos tempos de colégio, voltava do aniversário de um amigo nosso. Não sei exatamente como, até porque não tenho a menor inclinação para detalhes sórdidos e mórbidos, mas o fato (lamentável) é que, após bater de carro, ele teria parado em um posto de gasolina e também acabou sendo atropelado. O motorista fugiu, e infelizmente esse camarada não teve a mesma sorte do meu outro amigo, e não está mais entre nós.
Ainda em choque, comentei com uma amiga sobre como pessoas boas têm partido de forma boçal. Essa amiga trabalhou com a sócia da grife Bisi, que faleceu há poucos dias, logo após o parto de sua filha. A morte dela tem sido amplamente noticiada pelos jornais, mas a dor de quem a amava certamente jamais será fielmente retratada. Reproduzo aqui as palavras da minha amiga: “Carol, aquela mulher... não podia ter acontecido aquilo... ela estava louca pra ter aquela menina. Uma semana antes de dar à luz, ela comentou que não precisava de mais nada na vida, que estava completa”. Esse mundo é louco mesmo.
Em seguida, minha querida amiga disse que apesar de não ver a morte como uma coisa ruim, fica triste porque “ela tira pessoas boas de um mundo com tanta gente ruim”. Ela tem razão, mas como eu não tenho opinião formada sobre a morte (e acho que nunca vou ter), hoje não sei o que pensar nem o que escrever. Pouco me importa encadear palavras. A verdade é que me sinto um pouco perdida.
Já perdi muitos amigos em acidentes de carro e sempre via a história se repetir. Em busca de algo que lhes confortasse, familiares e amigos tentavam justificar a perda com “desculpas” para a fatalidade. Claro que sempre havia quem, até numa hora dessas, soltasse o veneno. De um jeito ou de outro, era um festival de “os jovens de hoje são imprudentes”, “lógico que o motorista estava bêbado”, “culpados são os pais que deram um carro potente” etc, todas tentativas frustradas de obter explicação para o inexplicável.
E agora, de quem é a culpa? Já pararam pra pensar na bizarrice da situação? Bateu com o carro, mas podia ter sido pior. Sempre pode, não é mesmo? Sai do carro e é atropelado. Como sempre “podia ter sido pior”, você morre! Complexo e simples assim. E o indivíduo (é humano? Será mesmo?) ainda foge. Não presta socorro nem responde criminalmente, e sou capaz de apostar que ainda dorme à noite. Que mundo é esse?
Perdi as contas de quantas vezes reprimi algum amigo que não tinha condições de dirigir e o fez, “bancando a chata”. Normalmente, nesses casos, não vale o “quem avisa, amigo é”. Todo mundo se acha super-herói, sou testemunha de que às vezes achamos mesmo que “com a gente não acontece”. Lego engano.
Aconteceu com os rapazes, todos da mesma turma, que estudavam no meu colégio e morreram num mesmo acidente, quando eu tinha uns 16 anos. Aconteceu com a amiga que dirigia o carro onde estava a minha melhor amiga, que por pouco não se foi junto com ela, e só eu sei como sofri assistindo, de perto, à sua recuperação física e emocional. Aconteceu com amigos do meu irmão, com amigos dos meus amigos, com amigos de quem agora lê esse texto. É quase impossível achar alguém com 20 e poucos anos que não tenha perdido um amigo.
Nessas horas, vemos que pode acontecer com qualquer um. Até – admire-se! – comigo e com você. O problema é que até então, embora muitos não parecessem se preocupar de verdade com isso, parecia que “bastava” ter responsabilidade, não dirigir depois de beber, ser prudente no volante. Agora está fora do nosso alcance, se é que em algum dia esteve sob nosso controle.
Recentemente, dois casos me chocaram. Em ambos, jovens médicos, coincidentemente recém-casados, e com indícios de um futuro brilhante, se descobriram portadores de doenças que podem lhes custar a vida. Sou leiga no assunto e não dizer o que cada um tem, mas posso afirmar que nos dois casos a vida se mostra fugaz e por um fio, que ninguém é capaz de enxergar com nitidez onde está para segurá-lo e impedir que seja cortado.
Situações assim sempre me fazem refletir absurdamente. Não vou dar uma de Poliana e dizer que devemos perdoar tudo e todos, não dando importância à perda do emprego, à traição do namorado ou à briga com os pais. Tudo bem que “sempre podia ser pior”, mas cada problema tem seu tamanho e ninguém tem o direito de minimizar o que te chateia. O grande problema – e não é raro - está em permitir que coisas ruins, porém não catastróficas, tomem proporções gigantescas em nossas vidas.
Então, a tristeza se acomoda na gente. Mesmo sem perceber, às vezes usamos os problemas como argumento pro marasmo em que nos permitimos ficar. É o velho papo, embora em outro contexto, de procurar justificativa pros acontecimentos da vida. Soa familiar?
Não serei hipócrita em dizer que amanhã vou relevar o que meus desafetos (inimigos creio que não tenho) me fizeram, porque não vou, não. E tenho o direito de não querer fazê-lo. Apesar disso, vou tentar não deixar que isso me consuma, que tome tempo dos meus pensamentos e energia da minha vida. Não sei o dia de amanhã, porque desconheço quem dá as cartas. Só sei que tem alguma coisa muito esquisita acontecendo nesse mundo. Vida louca, vida, vida breve. Enquanto essa sensação de vazio e de impotência não passa, vou ser feliz e já volto.
Por Carol Medeiros
Dia desses assisti a “Sex and the City – o filme”. Antes que os homens que lêem a coluna percam o interesse, aviso que o tema é de grande utilidade para qualquer pessoa, do sexo feminino ou masculino, que já tenha tido, tenha ou pretenda ter um relacionamento com alguém. Sendo ou não fã da série, para quem assistiu ao filme ou pensa que “é coisa de mulherzinha”, recomendo atenção. Afinal, se até a protagonista Carrie Bradshaw pode falar de relacionamentos, eu também posso.
Obviamente fui ao cinema ansiosa para matar as saudades da série que acompanhei por longas seis temporadas – e que acompanho até hoje, diga-se de passagem, vendo e revendo DVDs com todos os capítulos. “Sex and the City” mostra a rotina de quatro mulheres bonitas e bem-sucedidas que moram em Nova Iorque e vivem em busca do amor. Ou seria em busca de sexo? Ou de ambos?
É difícil definir o conceito de uma das séries mais famosas dos últimos tempos, mas garanto que é imperdível por um motivo: apesar de as personagens serem retratadas com exagero, tenho certeza de que todas as mulheres se identificam com um pouco de cada uma delas. É bom esclarecer que não se tratam de mal-amadas desesperadas à procura de maridos (embora, admito, isso aconteça em alguns episódios), mas sim de mulheres com questionamentos pertinentes à realidade da maioria de nós, mesmo daquelas que não tem o armário repleto de sapatos Manolo Blahnik.
Carrie, a personagem principal, é uma escritora que, durante dez anos, vive às indas e vindas com Mr. Big, um charmoso quarentão. Ao longo das seis temporadas do seriado eles terminam e voltam dezenas de vezes, e ele chega a se casar com outra – ainda assim, não consegue ficar sem Carrie. No último episódio do seriado eles se entendem, e decidem morar juntos no filme que está em cartaz nos cinemas.
Até aí, tudo bem. Até que decidem, de um modo peculiar, se casar oficialmente. Carrie compra uma roupa discreta (o que foge à sua regra) e Big sugere uma cerimônia para poucos convidados, o que se torna impossível dada a popularidade da escritora-celebridade. Ocorre que Big, que está no terceiro casamento, acha tudo over, fica confuso e desiste de se casar com a protagonista (quem ainda não viu o filme, não me mate. Podem acreditar que o final não é o que mais importa, mas sim o questionamento que ele suscita).
Big não desiste do casamento porque não quer ficar com Carrie, mas sim porque se sente intimidado, se acovarda. E depois de muito sofrimento de ambos em algumas horas de filme, o casal se reencontra e, desta vez, sem champanhe, festa para 300 convidados e nem vestido de noiva de Vivienne Westwood, ficam juntos pra valer.
Quando o filme acabou, fiquei confusa. Eu imaginava que o casal-sensação terminaria junto, por razões óbvias. Mas depois de acompanhar, com o coração na mão, o sofrimento de Carrie ao longo de seis temporadas, sendo coroado com a desistência de Big na porta da igreja, fiquei pensando se o “happy end” fazia algum sentido. É compreensível a escritora continuar amando Big; a gente não manda no coração nem quando ele é destroçado. Mas vale a pena ficar com alguém tão complicado a ponto de qualquer fator externo o fazer pensar se quer mesmo estar com você?
Voltemos ao dilema da “dose certa”, tema da minha segunda coluna. O filme, os episódios da série e os da vida real, vividos por mim e por zilhões de amigas, evidenciam a dificuldade de, ao gostar de alguém, decidir entre dois caminhos que parecem opostos. Optar pelo caminho do amor, louco amor, aquele que faz o coração bater mais forte, dá frio na barriga, mas também traz complexidades que fazem sofrer, que nos impedem de pensar com a cabeça.
O segundo caminho parece mais tranqüilo e indica uma relação estável e saudável, onde cada um tem vida própria e não há espaço para sentimentos como ciúmes. Dada a ausência de qualquer coisa que fuja à serenidade da relação, não por acaso não há espaço também para um amor arrebatador. Não sei se acredito no “meio do caminho”. Também não sei se, no lugar da Carrie, conseguiria me esquecer de ter sofrido tanto por alguém simplesmente por amá-lo. E não menosprezo o amor, só tenho minhas dúvidas se isso não é amar muito ao outro, mas pouco a si.
O filme nos faz lembrar também que não existe verdade absoluta em relacionamentos. Carrie até queria se casar num vestido suntuoso, mas ficou feliz trajando um tailleur simples e casando-se em cartório. A sensação que dá é que já que não dá pra ter tudo, ela opta por estar com Big em vez de ter a mais bela cerimônia com a qual sonhou. O que vale mais a pena na história deles? Não sei, e provavelmente não é o que mais vale na minha ou na sua. Prioridades, meus caros. Tão complexo quanto na série e no filme. Só que na vida real, não é o diretor quem decide se o final é feliz.
Nota da autora: ainda bem que escrevi a última coluna “Pra não dizer que não falei do Dia dos Namorados” antes de assistir ao filme. Quem for ao cinema vai descobrir que Carrie Bradshaw também concorda que, em relacionamentos, cada casal precisa estabelecer, juntos, suas regrinhas.
email para esta coluna: mariacarolinamedeiros@gmail.com
Por Carol Medeiros
Desde crianças somos perguntados: “o que você quer ser quando crescer?”. Nas redações da escola, nas festas de família, nos encontros com os amigos dos pais, todo mundo quer saber o que pensamos sobre o futuro. E assim vamos sendo treinados pra pensar no longo prazo, pra refletir sobre o que queremos pra nossa vida bem lá longe, quando “formos grandes”.
Curioso é perceber que não são poucas as pessoas que passam a vida inteira tentando, sem sucesso, responder a essa pergunta pra si próprio. E quem não consegue, em geral, se frustra. Tem aqueles pra quem a vida adulta nunca chega. Tem aqueles que crescem, se formam, se tornam profissionais competentes, bem-sucedidos aos olhos dos outros, e nem por isso acreditam ter achado a resposta para “o que vou ser quando crescer”. Outros se cobram tanto sobre o que vão ser que não vivem o presente, e o que é o futuro se não uma sucessão de fatos vividos aqui e agora?
Há também quem saiba o que quer ser desde criança. Esses, normalmente, são “utópicos” ou “cabeça-dura”. Raramente são vistos como seres determinados, que sabem o que querem desde sempre. É mais fácil acreditar que são pessoas que simplesmente não admitem mudar de idéia, que decidiram o que queriam fazer de suas vidas quando crianças e, portanto, não faz sentido manterem a mesma opinião depois de crescerem. Será mesmo que não?
Nos tempos de escola, me lembro que esse era um tema recorrente em redações. Em sala de aula, a resposta para “o que você quer ser quando crescer” costumava vir atrelada a objetivos profissionais. “Quero ser médico pra cuidar das pessoas”, dizia um. “Quero ser advogado como meu pai”, escrevia outro. Não me lembro de ter ouvido em algum dia na infância uma resposta que se parecesse com “quero ser bem resolvida, saudável, saber me relacionar com as pessoas, ser capaz de tomar decisões, saber apreciar um bom vinho, ler bons livros e conhecer o mundo”. Ok, uma criança não diria mesmo isso, mas se dissesse (com exceção do vinho, porque aí eu também me preocuparia), provavelmente seria repreendida pela professora que, partindo da falsa premissa de que “o aluno não entendeu”, explicaria que tipo de resposta era admissível para tal questionamento.
Dia desses, um professor da minha pós-graduação, bem longe dessa época de redações escolares, disse que devemos aprender a “enxergar além, quebrar paradigmas”. Ele usou como exemplo a figura de um vaso branco inserido em um fundo preto. Se olhássemos o fundo em vez de o vaso, víamos duas pessoas, mas é claro que a maioria viu primeiro o vaso, que é o óbvio, o que estamos treinados a ver.
Não sei não, mas acho que há alguma coisa paradoxal nisso tudo. Quando somos crianças faz-se de tudo para que não fujamos a nenhum padrão, sob pena de nos tornarmos adolescentes problemáticos, autistas ou, no mínimo, precoces. Depois que crescemos e, em razão de experiências como a das redações escolares, nos acostumamos a enxergar o que a maioria vê, vem a necessidade de “quebrar paradigmas”. Alguém pode me explicar de que jeito?
Num país onde algumas crianças perdem sua infância nas ruas ou em trabalhos escravos, outras perdem tempo em frente ao computador, literalmente cercadas dentro de condomínios, sob justificativa paterna de que “assim estão seguras”. Que estão relativamente protegidas da violência das cidades, até posso concordar. Mas essas crianças não estão protegidas contra coisas igualmente nocivas, como o conteúdo perturbador da internet e os absurdos da TV. Menos protegidas ainda elas estão de pais e professores que consideram como resposta ideal para “o que eu quero ser quando crescer” qualquer coisa que não fuja à regra, o que, por alguma razão, seria ruim.
O que eu vou ser quando crescer? Não sei. Vou tentar, experimentar, viver. Aí, descubro e venho contar.