No dia seguinte a uma noitada com as amigas, por vezes regada a algumas doses a mais, é comum que a gente se pergunte: “por que bebi tanto?”. A interrogação só não é repetida mais vezes porque a cabeça dói só de pensar. Em geral a pergunta vem acompanhada de uma baita ressaca e de outra frase típica: “nunca mais eu bebo!”.
Pode parecer paradoxal, mas comecei a pensar que é assim que acontece também nos relacionamentos amorosos. Depois de uma noite irresistível, recheada de histórias que rendem a semana inteira, lá vêm eles: questionamentos sobre a noite passada, inerentes a toda mulher. Quando não estamos envolvidas, as dúvidas costumam vir menos à tona – a menos que você seja uma daquelas neuróticas que sempre, SEMPRE, acha que o cara não vai NUNCA querer nada com você. Mas quando se trata de seres normais, a tendência é aproveitar enquanto está bom pros dois lados. Até que a gente começa a se envolver. Aí, ferrou! A cabeça pára de pensar, tudo parece um risco maior. E que risco! A dúvida é sempre a mesma: na bebida e no amor, qual é a dose certa?
A dose certa é sempre relativa, depende de algumas (muitas) variáveis. Na noitada, depende se você tem hábito de beber, se mistura ou não drinques diferentes, se quer “enfiar o pé na jaca” (alguém faz isso conscientemente?) ou apenas “ficar no grau”. E no amor? Bem, no amor a dose certa também depende do “grau” que, nesse caso, é o grau de envolvimento.
Enquanto algumas mulheres vivem em busca do carinha perfeito (e não vão encontrar nunca), tem quem comemore quando tem um “date” ruim. Não estou certa se há estatísticas no IBGE, mas se o encontro da noite anterior tiver sido horrível, ufa!, pelo menos é um indício de que não vem envolvimento por aí. Parece loucura? E é. A verdade é que se envolver dá medo.
Alguns diriam que é medo de curtir, de amar, quem sabe por que “você acha que não merece ser feliz”. Há dezenas de frases feitas para responder a essa pergunta e, na minha opinião, uma só resposta que parece mais plausível: é medo de se apaixonar, de sentir aquela paixão que a gente pensa que vai morrer se não estiver junto, que dá frio na barriga e traz junto sentimentos inexplicáveis, além de um mar de incertezas.
Certa vez ouvi dizer que devemos escolher entre levar a vida buscando o prazer ou evitando o desprazer. Não há certo nem errado, é uma questão de opção. Ando pensando a beça nisso, e não só em relação à paixão; em tudo na vida cabe nos perguntarmos qual é a nossa opção e em qual dose ela virá.
Tem quem prefira evitar o desprazer. Isso não significa não ter relacionamentos sérios, necessariamente. A gente até acha que se envolve (e talvez se envolva mesmo), namora aqui e acolá pensando que vai morrer de tanto amor. Até que não morre, mas a paixão morre sozinha. Quando a gente pára pra olhar, sumiu sem que percebêssemos.
Não tenho qualificação para falar dos sentimentos dos outros, ainda mais quando se trata de algo complexo como a paixão. Mas acredito que prazer e desprazer se fundem e se confundem todo o tempo. A gente acha que se entrega mas, muitas vezes, só se permite sentir uma paixão da qual damos conta, que podemos controlar. Se não, nada feito.
E assim, sempre sob nosso controle, a paixão fica ali, quietinha, sem poder se mover sem autorização prévia, que nunca vem. Então ela não sai do controle, imagine que ousadia se saísse!, e aí nada de virar a cabeça, nada de frio na barriga, e ainda nos surpreendemos quando ela se esvai sem deixar nada além do questionamento: onde foi parar todo aquele sentimento?
Nós, seres humanos, somos complexos por natureza (e que nenhum homem venha dizer que só as mulheres são complicadas, porque tenho provas). Não é raro alguém desejar o prazer, mas ter tanto receio de viver algo que não possa controlar que, na prática, vive evitando o desprazer. Desprazer de correr o risco de levar um pé na bunda, de se frustrar, de alguém se desinteressar da gente antes que nós o façamos. De não poder ser seguro o tempo todo, de não ter garantias de que vai dar certo.
Não há nada de ilícito em evitar o desprazer. Ocorre que isso faz com que a gente cave nossa própria cova ou, ao menos, a cova dos relacionamentos. A gente se esquece de que ter tudo sob controle significa não permitir que o sentimento extrapole nosso lado racional, mas significa também induzi-lo ao caminho contrário e esperar, apáticos, que a paixão mingüe, quietinha, até se dissipar no ar como fumaça. Puf!
Como tudo na vida, precisamos fazer uma opção nas relações que vivemos. Buscar o prazer não significa necessariamente viver loucas e tórridas paixões sem medir conseqüências nem pensar no dia de amanhã. Mas significa que, para provarmos o gosto das coisas boas da vida, temos que correr o risco de experimentar. A graça da vida está exatamente em não saber o que nos espera. Se não, fica tudo sob controle e esse filme, tenho certeza, muitos de nós já viram.
Não estranhem quando perceberem que, na busca pelo prazer, provamos coisas boas e, às vezes, descobrimos que elas podem ser melhores do que a gente imaginava. Também podem ser amargas, podem causar dor, mas precisamos confiar na nossa capacidade de sair de uma furada, quando for o caso. Aliás, será que dá pra entrar em furada maior do que viver no meio-termo, no “mais ou menos”, por medo de arriscar?
Claro que ninguém tem essa resposta, muito menos eu. Se fosse fácil, eu teria escrito o final de uma vez. Mas uma coisa eu aprendi e recomendo que vocês tentem: nos percalços da busca pelo prazer, podemos descobrir que a vida é bem melhor quando é vivida.